Em outra banca, fui comprar vagens e a senhora que me atendeu disse, feliz, que no sábado havia trazido 30 pacotinhos, todos vendidos rapidamente. E brócolis e couve-flor depois das 10h da manhã? Nem pensar...
Sobre o programa, assisti na mesma sexta-feira em que ele foi exibido. Mesmo que a Globo fale a um público leigo no assunto, acho que faltou mencionar algo intrínseco à agricultura orgânica: o não uso de adubos químicos (a tradicional fórmula NPK). Essa informação tão essencial ao cultivo orgânico não foi sequer citada.
Em vez de NPK, a agricultura orgânica utiliza adubos orgânicos, como esterco animal, adubos verdes (que são plantas próprias para isso), bokashi (um preparado que ajuda a ativar a microbiologia do solo), preparados biodinâmicos ou simplesmente não usa fertilizante externo, caso o solo já esteja em perfeito equilíbrio.
Outro detalhe foi a entrevista que a repórter fez com uma mãe, tão ciosa de alimentar seu bebê só com alimentos orgânicos. No carrinho do bebê, porém, o que mais se via eram sacos plásticos. Os alimentos todos embalados em sacolas plásticas. Nada orgânico. É um problema que todos os envolvidos no setor de orgânicos terão de resolver, mais cedo ou mais tarde: o uso excessivo de embalagens plásticas e não biodegradáveis.
Na feirinha, um passo fácil de ser dado, na minha modesta opinião, seria orientar os produtores que vendem ali a, antes de já ir embalando por conta própria os produtos em saquinhos plásticos, como a maior parte costuma fazer, perguntar ao consumidor se ele quer mesmo a sacolinha plástica. Isso pode estimular o público a, da próxima vez, trazer a sua própria sacola, retornável.
Mas voltemos ao Globo Repórter. Em relação ao não uso de agrotóxicos, o documentário foi incisivo - bateu de frente com a indústria de inseticidas, fungicidas, herbicidas. Entrevistou, por exemplo, um agricultor que cultiva goiabas de forma convencional. Ele estava todo paramentado, com os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), que são obrigatórios, por lei, para quem aplica venenos nas lavouras e a repórter comentou algo assim: "Quem vê o agricultor vestido assim, fica pensando se ele não vai para a guerra. Mas não. Ele vai aplicar agrotóxicos na sua plantação."
E mostrou também o caso de um jovem que vivia doente quando criança e o diagnóstico foi o contato excessivo e descuidado com agrotóxicos. A partir daí, sua família mudou a forma de cultivo e converteu-se para a agricultura orgânica, sem agrotóxicos e adubos químicos.
Tais menções provocaram reação da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), que representa a indústria fabricante dos defensivos agrícolas. No link há a íntegra dacarta enviada pela entidade à TV Globo, protestando, entre outras questões, pelo fato de a entidade não ter sido entrevistada pela equipe de reportagem.
Bem, polêmicas à parte, o que ficou patente após a exibição do Globo Repórter especial sobre orgânicos é que havia uma demanda grande da população por produtos livres de resíduos químicos. E o grande movimento da feirinha pós-documentário prova isso. Em breve, aliás, sairá a lista de todos os locais onde se comercializam orgânicos, em feiras livres. A Câmara Setorial de Agroecologia do Mapa está discutindo o assunto. Vamos aguardar.
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