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Um blog sobre câncer de mama

Opinião|Seis coisas que me farão sentir falta da carequice

Depois de 16 sessões, fiz minha última quimioterapia no dia 5 de outubro e, apesar de ter lidado bem com a carequice nesse período (que começou em abril), também faço parte do time de mulheres que não vê a hora de ter controle sobre o próprio penteado. Um certo cabelo esquisito já começa a crescer - uma coisa meio vovô, careca em cima e com cabelo na região das têmporas, mas, enfim: é um cabelo.

Foto do author Adriana Moreira
Atualização:

Enquanto meu cabelo ressurge em seu próprio ritmo, alheio às minhas ansiedades, fiz um exercício de pensar nas coisas que me farão sentir falta dessa fase careca.

Se arrumar é bem mais rápido sem cabelos: nada de passar xampu duas vezes e depois condicionador. Foto Arquivo Pessoal  

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Agilidade

O banho ficou mais rápido - nada de lavar o cabelo duas vezes e ainda passar condicionador. Da mesma forma, me arrumar pra sair de casa virou algo bem mais ágil. Escolho um dos meus turbantes, lenços, chapéus ou exibo a careca (ultimamente menos por causa das falhas no crescimento dos fios). Nada de 'bad hair day' que me deixe buscando uma solução em frente ao espelho: está tudo ali, à mão, simples.

Economia

Mesmo careca, eu usei xampu todos esses meses, como que pra manter um ritual. Logicamente, era praticamente uma gota que eu colocava na ponta dos dedos e espalhava, mas só esse gesto - e o aroma do xampu - já me faz feliz. De qualquer forma, tem sido uma enorme economia de produtos de cabelo. O creme que eu usava pós banho (sim, ainda tinha mais esse) segue intacto. E minha cabeleireira, coitada, não me vê desde o começo de abril, quando cortei os cabelos para me preparar para a queda que viria com a quimioterapia. Meu bolso, por outro lado, agradece.

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Férias da depilação

Não são apenas os cabelos que caem com a quimioterapia, mas todos os pelos do corpo - TODOS MESMO. Os da perna foram os que mais demoraram para cair, mas até eles caíram. Espero que também sejam os últimos a voltar a crescer. Agora, no entanto, vejo que em certos lugares - sim, onde você pensou: nas axilas (e no resto do corpo também) - eles voltaram a dar as caras e já comecei a me lamentar. Eu sei, somos mulheres empoderadas do século 21 e a depilação não é uma obrigação, mas o que posso fazer se não consigo mudar certos hábitos? Vou ter que reaprender a usar o aparelhinho da depilação.

Calor

Ainda vou escrever sobre isso aqui no blog, mas a quimioterapia também me provocou uma menopausa precoce, um efeito que já era esperado. E, com ela, os insuportáveis calores (sério, se você está com calor nos últimos dias, você não tem a menor ideia do que são os calores da menopausa). Quando vêm uma dessas ondas de calor (que têm o horrível mas apropriado nome de fogachos), o suor escorre até pela cabeça. Como não há cabelo, ele não fica oleoso e não preciso tirar os fios grudados na testa ou no pescoço, o que já é um alívio.

 Adeus, ralo entupido

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Cabelo comprido é legal, mas tem uma parte que ninguém fala: os fios caem por toda parte (algo totalmente normal a não ser que seja em demasia, claro). Você sente uma coceira nas costas e lá encontra um fio. Toma banho e tem que fazer uma faxina de cabelos que caem no ralo ou ficam grudados no azulejo. Vai escovar os dentes e a pia está entupida - e ao desentupir são encontrados fios que você nem viu que tinham caído ali (eu juro que sempre tirei todos que via cair e nem escovava o cabelo em cima da pia). Até de dentro da meia limpa e lavada eu já tirei fio de cabelo. Desde abril (quando comecei as quimioterapias), isso acabou. Ufa.

Sensações únicas

Existem algumas sensações únicas de estar careca, e senti-las pela primeira vez é algo mágico. Tomar banho e deixar a água cair direto sobre o couro cabeludo é uma delícia, uma massagem. Quando raspei os cabelos e entrei no chuveiro logo depois, foi algo tão bom que eu até tive uma queda de pressão - fiquei tempo demais usufruindo daquele prazer momentâneo. Lição aprendida.

Sem cabelos, também é maravilhoso sentir a brisa em um dia de calor. Entrar no mar. Ter a cabeça massageada.

Recomendo.

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Opinião por Adriana Moreira

Diagnosticada com câncer de mama em 2021, decidiu criar este blog para falar sobre a doença de maneira leve, direta e com muita informação.

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