
12 de abril de 2020 | 04h59
Daniel Teixeira, de 41 anos, fotojornalista do 'Estado'. Morador de Bragança. Paulista, interior de São Paulo. Casado, um filho.
Não preciso esperar o sinal fechar para atravessar a avenida. Perco a noção da hora andando pelas ruas de São Paulo iluminadas apenas pelas luzes dos postes. Não esbarro em mais ninguém nas calçadas, aliás, não devo. Também não posso apertar a mão ou abraçar mais ninguém além de meu filho e mulher depois de um processo de higienização que me obriga a recusar as boas-vindas do menino.
A sensação de ver os fatos de perto, mais do que qualquer um, e extrair um trabalho em que possa não só informar, contar história, e também, quem sabe, inspirar e compadecer, é quase um vício. Mas esse entusiasmo pode trazer perigo.
É parte do ofício. Com a experiência, aprende-se a medir essa distância respeitando os riscos, mas desta vez o perigo pode estar em qualquer lugar. O entusiasmo dá lugar à preocupação pelas pessoas de casa.
Não é como apanhar da polícia ou levar uma pedrada numa manifestação. Vai além da empatia por alguém que não conheço e chora pela morte do filho. Desta vez, a adrenalina de fotografar é substituída pela razão como nunca antes.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.