'A vacina contra o HPV é um dos maiores avanços recentes da oncologia'

Segundo especialista do Einstein, estudos mostram que dose reduz mortes por câncer em até 90%

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

SÃO PAULO - A vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV) é um dos maiores avanços recentes da oncologia, na opinião do médico Rafael Kaliks Guendelmann, do Hospital Israelita Albert Einstein. Segundo o oncologista, estudos mostram que as duas vacinas existentes no mercado - que combatem os principais tipos do vírus (6, 11, 16 e 18) - podem diminuir a mortalidade por câncer de colo do útero em até 90%. Mas os resultados são percebidos a longo prazo, depois de 10 ou 20 anos, o que ainda impede, de acordo com Guendelmann, a inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS). Outro fator que impede a adoção da vacina no SUS é o alto preço: as três doses necessárias - a segunda aplicada após 30 dias e a terceira, após seis meses da primeira - custam cerca de R$ 1.200 em clínicas particulares. Atualmente, o uso na rede pública está sendo avaliado pelo Ministério da Saúde. "A vacina é um fator a mais de prevenção, aliada ao exame de Papanicolau, que deve ser feito anualmente ou a cada dois anos", sugere o especialista. A faixa etária alvo para receber a dose vai dos 10 aos 26 anos. Antes de iniciar a vida sexual, as crianças e adolescentes vacinadas já começariam a adquirir imunidade contra o vírus. "E a recomendação pararia aos 26 anos porque acredita-se que, após essa fase, o número de parceiros da mulher diminua", diz o médico. Em setembro, a cidade paulista de Itu promoveu a primeira campanha de vacinação pública de HPV do Estado e teve como alvo adolescentes nascidas em 1999. O município é pioneiro no Brasil em tornar obrigatória a imunização contra o câncer do colo do útero na rede pública, a partir de uma lei municipal. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 500 mil mulheres em todo mundo sofrem da doença por ano e pelo menos 250 mil morrem. No País, é a segunda maior causa de morte por câncer entre o sexo feminino, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). O câncer de colo do útero se desenvolve quando uma infecção pelo HPV se torna persistente e progride. O contágio com o vírus se dá através de contato e relações sexuais. Já foram identificados mais de 100 tipos de HPV, sendo que 15 tipos são considerados causadores de tumor. Cerca de 83% dos casos e 86% das mortes ocorrem em países em desenvolvimento. Região Norte Para o oncologista do Einstein, a disparidade de mortes registradas por câncer de colo do útero na Região Norte se deve a um pior sistema de rastreamento, diagnóstico e prevenção, o que levam os casos a ser registrados já em estágio avançado ou óbito. "Não acredito que as mulheres de lá tenham mais parceiros sexuais, a questão é de prevenção, de dificuldade de aderência a programas de saúde", avalia Guendelmann. O médico explica que há casos que fogem à regra, como o de uma paciente de 30 anos com câncer de colo do útero que fazia exames preventivos regularmente. "Em geral, demoram alguns anos para uma lesão virar tumor. Por isso, o ideal é fazer um acompanhamento periódico com um ginecologista", recomenda. Guendelmann afirma que, enquanto o Papanicolau não alcançar de 60% a 70% das brasileiras com vida sexual ativa, a taxa de mortalidade da doença - que chega a 35,63 por 100 mil habitantes - não deve cair.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.