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Ajuda internacional leva países pobres a cortar verba de saúde

Especialistas analisaram dados de gasto público em saúde em países pobres e a ajuda internacional recebida

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Por Redação
Atualização:

Depois de receber milhões de dólares para combater a aids, países africanos reagiram cortando seus orçamentos de saúde, mostra uma nova pesquisa.

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Durante anos, a comunidade internacional canalizou bilhões em ajuda para saúde, acreditando que as doações suplementavam os orçamentos dos países pobres. Agora, parece que o dinheiro de fora levou alguns governos a gastar em coisas totalmente diferentes, que não podem ser rastreadas. A pesquisa foi publicada na revista médica Lancet.

 

Especialistas analisaram todos os dados disponíveis de gasto público em saúde em países pobres e a ajuda internacional recebida. O apoio internacional para a saúde saltou de cerca de US$ 8 bilhões em 1995 para quase US$ 19 bilhões em 2006, com os EUA no papel de principal doador.

 

A maioria dos países na América Latina, Ásia e oriente Médio dobrou seus orçamentos de saúde. Mas muitas nações da África - incluindo os que enfrentam as piores crises de aids - cortaram seus gastos sanitários. No estudo da Lancet, para cada dólar recebido de doadores, países pobres transferiram até US$ 1,14 originalmente orçado na saúde para outro setor. A pesquisa foi financiada pela Fundação Bill e Melinda Gates.

 

"Não sabemos o que os países fazem com o próprio dinheiro assim que a verba do doador entra", disse Christopher Murray, diretor do Instituto de Métrica e Avaliação de Saúde da Universidade de Washington, e um dos autores do trabalho.

 

Ele disse que as doações ajudam a salvar milhões de vidas, mas que é preciso mais transparência. A pesquisa levanta a questão de se a ajuda internacional não pode ser, às vezes, prejudicial.

 

O artigo de Murray também demonstra que o perdão de dívidas não tem impacto no sistema de saúde. Ativistas argumentam há tempos que um perdão de dívidas poderia permitir que países pobres gastassem mais em seus problemas de saúde pública, mas não há evidência disso.

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"Quando um agente de ajuda internacional pensa que está ajudando um africano pobre a escapar da conta de uma clínica particular, ele na verdade está pagando para que um ministro do governo e a mulher façam uma viagem de compras a Paris", disse Philip Stevens, da International Policy Network.

 

Outros analistas acreditam que os países podem estar transferindo as verbas para áreas que têm impacto indireto na saúde, como escolas e estradas.

Stevens afirma que os doadores deveriam exigir resultados dos países antes de enviar mais dinheiro, e que a ajuda internacional desincentiva os países pobres a cuidar dos próprios problemas.

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