‘Aliado ao medo há o isolamento’

"As mensagens começaram a chegar na terça de noite. ‘Tia, estou internada, com pneumonia. Fiz o teste do coronavírus.'"

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Por Paloma Côtes
Atualização:

A covid-19 tem sido assunto na vida profissional de Paloma Cotes desde que a pandemia desembarcou no Brasil. Subeditora de Metrópole, do Estado, ela é uma das responsáveis pela organização e produção das notícias diárias sobre o assunto, comandando repórteres que trabalham nas ruas e em suas casas. Só não esperava que a covid-19 fosse se aproximar de sua vida pessoal, conforme relato ao editor de Esportes, Robson Morelli.

Paloma e a sobrinha, que recebeu alta na sexta Foto: Arquivo pessoal

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“As mensagens começaram a chegar na terça (dia 21) de noite. ‘Tia, estou internada, com pneumonia. Fiz o teste do coronavírus. O resultado sai amanhã.’ Foi assim que minha sobrinha me contou que estava doente, pelo WhatsApp. Meu coração gelou. A cobertura por si só da covid-19 é uma avalanche. Todos os dias, leio e edito relatos de pessoas que contam seus dramas diante de uma doença que colocou o mundo de joelhos. Mas nunca achei que a doença podia estar tão perto de mim. No dia seguinte, veio a confirmação, também pelo WhatsApp. O resultado deu positivo. Aliado ao medo do diagnóstico, se impôs o isolamento. Carol ficou internada em ala especial para pacientes de coronavírus em hospital particular.

Não podia receber visitas ou ter acompanhante. Não poder cuidar dela, alguém que criei desde sempre, foi o que mais me doeu. Não podia abraçar minha sobrinha, dar colo, ajudar nos cuidados básicos. O quadro não era grave, teve pneumonia leve, ficou no quarto, mas a internação foi longa. Onze dias. Onze dias em que meu coração se encolhia a cada mensagem em que ela dizia que estava sem ar. A cada áudio que mandava chorando, eu chorava junto. E em meio a esse isolamento, ela completou 22 anos.

Conforme ia cobrindo o avanço da doença, passei a me ver nos relatos das pessoas. Por trás dos números, chocantes e que não param de crescer, existe uma família, uma dor, um medo, uma angústia. Eu fazia parte desse grupo. Passava os dias dizendo a mim mesma para ser forte, porque ia passar. E passou. No fim da tarde de sexta-feira, dia 1.º de maio, veio a notícia, a alta hospitalar. Chorei, mas dessa vez de alegria.”

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