Análise: Cenário a curto prazo não muda e cobertura vacinal ainda deixa a desejar

Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações analisa o cronograma de vacinação contra a covid-19 no País em meio a anúncios, como o realizado pelo governador João Doria. 'O ritmo da campanha depende da quantidade de vacinas disponíveis', diz

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Por Renato Kfouri
Atualização:

A vacinação contra a covid-19 no Brasil continua lenta, irregular e a aceleração da campanha depende necessariamente da chegada de insumos ou de produtos já pronto vindos do exterior. Hoje, só 21,8% dos brasileiros receberam a primeira dose e o País ainda está finalizando o público prioritário, formado por idosos, grupos de risco e trabalhadores essenciais - algo em torno de 30% da população.

Funcionários do Instituto Butantan atuam na fabricação da Coronavac Foto: Amanda Perobelli/Reuters

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Em teoria, o segundo semestre pode ser mais promissor. Por causa de compras recentes, há previsão de entrega de 180 milhões de doses da Pfizer, além de lotes da Janssen e do consórcio Covax Facility. O ritmo da campanha, no entanto, depende da quantidade de vacinas disponíveis. Se houvesse dez vezes mais vacinas, o Brasil também teria dez vezes mais pessoas vacinadas. Se a aquisição tivesse sido realizada antes, a vacinação também teria começado antes.

O cenário a curto prazo não muda com o acordo de transferência de tecnologia entre a Universidade de Oxford e a Fiocruz. Vai ser útil para garantir a produção nacional e autossuficiência mais à frente, mas não agora. O processo para começar a produzir, de fato, é lento. Há uma série de procedimentos necessários, como vistoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e preparação do laboratório, e isso dificilmente acontece antes do fim do ano.

Por sua vez, o anúncio do cronograma de vacinação para a população geral em São Paulo não necessariamente significa uma boa notícia. Programas estaduais e municipais não têm conseguido a cobertura vacinal ideal para alguns segmentos, especialmente em relação à segunda dose do imunizante. Como não dá para ficar guardando vacina na geladeira, a opção é abrir para novos públicos.

*É DIRETOR DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES (SBIM)

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