Análise: É preciso cobrar logística e prioridade aos mais vulneráveis na campanha de vacinação

Já sobram preocupações uma semana após testemunharmos emocionados a aplicação da primeira vacina.

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Por Gabriela Lotta e Michelle Fernandez
Atualização:

Já sobram preocupações uma semana após testemunharmos emocionados a aplicação da primeira vacina. Há ao menos três razões para isso. A primeira é a quantidade. Temos 12,1 milhões de doses, que não cobrem nem o grupo prioritário. Diante da gestão errática do governo federal, vivemos disputas diplomáticas e colecionamos dúvidas sobre a aquisição de novas vacinas. Como a eficácia de um plano de vacinação depende da imunização coletiva, vacinar apenas uma parcela da população não controla a pandemia.

Problemas no início da vacinação contra covid-19 no País preocuparam os investidores. Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 18/1/2021

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A segunda preocupação é sobre quem está recebendo as escassas doses. Por um lado, temos dificuldade de estabelecer quem são os prioritários dentro do grupo prioritário; por outro, temos vários relatos de desvios. Onde faltam vacinas, sobram malandragem e falta de controle. Os casos de “você sabe com quem está falando” furaram fila em vários lugares. Em um país de privilégios e desigualdades, um plano de imunização deve seguir estritamente critérios epidemiológicos e sanitários. Se a consciência coletiva não for suficiente, cabe a órgãos competentes controlar.

A terceira preocupação é sobre o ritmo da vacinação. Em um país que já vacinou um milhão de pessoas por dia, é impensável chegar a pouco mais de 500 mil vacinados em uma semana. A vacina encontra um sistema de saúde no limite, com profissionais esgotados e excesso de demanda. É urgente planejar a campanha de forma rápida, colocando à disposição profissionais e estrutura específicos para a vacinação. É fundamental cobrarmos por mais doses, pela logística de vacinação e pela prioridade dos mais vulneráveis. Vencer a pandemia passa pela construção de um pacto político-social unificado.

*GABRIELA LOTTA É PROFESSORA DA FGV-EAESP E MICHELLE FERNANDEZ É PROFESSORA E PESQUISADORA NO IPOL/UNB

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