A expansão do provimento emergencial de médicos na atenção primária em interiores e periferias é meritória, mas persiste nesses locais a baixa permanência de brasileiros. A remuneração razoável ou o bônus que fura a fila nas seleções de residência médica podem estimular a instalação provisória de recém-formados, mas eles tendem a abandonar o posto por melhores condições de trabalho e perspectivas de especialização.
Com isso, o Mais Médicos segue fortemente dependente do acordo entre Brasil e Cuba e da aceitação de brasileiros com diplomas não revalidados, formados na Bolívia e em escolas estrangeiras caóticas. Por trás do comercial que alardeia 63 milhões de pessoas cobertas, descortinam-se arranjos improvisados: bolsas de especialização no lugar de vínculos trabalhistas, restrições aos cubanos, pagamento de tutores e supervisores que não são docentes e não promovem a integração entre ensino e serviço, decisão de gestores de trocar médicos por intercambistas com salário menor.
Além dos gastos com propaganda, recursos públicos contratam pesquisas sem edital e sem perguntas claras para validar pontos positivos do Mais Médicos. Não haverá resposta satisfatória para a falta de médicos sem a combinação de medidas excepcionais desde a graduação. Na direção oposta, a redução de financiamento do SUS e os incentivos ao mercado de planos e hospitais privados vão subtrair médicos da rede pública. Num sistema privatizado, a leva de novos formados poderá acirrar as desigualdades de acesso à saúde.