A decisão tomada pela OMS, de retirar da epidemia de zika o status de emergência internacional de saúde, não exime o Brasil - em particular seus gestores - da responsabilidade de acompanhar atentamente os desdobramentos da epidemia no País e de tentar compreendê-la e combatê-la. Ainda há muito o que fazer: não sabemos quantas pessoas foram e ainda serão infectadas, por exemplo, e portanto não temos estimativas robustas de risco.
Por outro lado, o único aspecto preocupante nessa decisão é justamente esse perigo de que ela seja interpretada como justificativa para que baixemos a guarda em relação aos estudos, à vigilância e às ações contra a doença.
Na realidade, quando a zika foi declarada emergência internacional, muita gente da área achou a decisão extremada. Naquele momento, porém, existia muito pouca informação acerca do potencial epidêmico e dos desdobramentos possíveis. Temia-se que, no verão do Hemisfério Norte, a situação do Nordeste brasileiro, onde se multiplicavam os casos de microcefalia, pudesse se expandir mundialmente. Mas o inverno já chegou naquela região e a zika não se tornou uma pandemia tão vultosa apesar de seu rápido espalhamento pandêmico, que já atinge 51 países e de questões essenciais permanecerem inexplicadas.* Pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP e coordenador da Rede Zika.