
17 de dezembro de 2020 | 15h29
Um plano de imunização deve envolver a escolha de vacinas, determinação da população a ser vacinada, compra, recebimento, distribuição, aplicação, controle de doses, farmacovigilância. E a campanha de comunicação para convocar a população a ser vacinada. Mas o Brasil só começou a discutir isso no fim do ano. Ontem, finalmente, o Ministério da Saúde entregou sua proposta de Plano de Imunizações contra o novo coronavírus.
Desde abril, Fiocruz e Butantã negociam a compra de vacinas, a transferência de tecnologia e a construção de fábricas (que já está ocorrendo). O Ministério da Saúde foi comunicado. Por que acordou para a necessidade de plano somente a partir de setembro?
Tivemos três ministros e um esvaziamento do ministério. Os técnicos que por lá estavam foram substituídos por agentes militares que, obviamente, entendem de coisas militares, e a consequência é esta: não sabemos quando vamos vacinar, quem vacinar, com que vacina. Mas o presidente diz aos cidadãos que eles devem assinar um termo de responsabilidade caso algo de errado ocorra após a imunização. Pois o governo e suas agências, que deveriam cuidar da saúde do povo nesta história, são Pilatos.
O novo plano anunciado na quarta-feira, 16, corrige a questão da exclusão de segmentos mais frágeis da população, mas não ouviu a comunidade científica que discute corretamente que os grupos de maior risco de morte na desigual sociedade brasileira talvez não sejam os idosos, e sim os pobres que têm de sair em busca de comida todos os dias, e nessa busca encontram o vírus.
O plano não tem um projeto de controle essencial da vacinação em duas doses, não tem um sistema de registro dos vacinados que permita identificar os vacinados no momento seguinte e em particular, reconhecer os eventos adversos que venham a ocorrer e que deverão ser acompanhados pela farmacovigilancia. O Datasus diz que está produzindo. A ver.
* Gonzalo Vecina Neto é médico sanitarista
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