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Anticoncepcional não chega a 122 milhões de mulheres

Por Agencia Estado
Atualização:

O Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertam que cerca de 122 milhões de mulheres nos países pobres ainda não conseguem ter acesso a nenhum tipo de método anticoncepcional. Como comparação, o número equivale a 65% de toda a população brasileira. Na prática, isso significa que esses milhões de mulheres em todo o mundo não podem adiar nem evitar uma gravidez. Os dados, levantados pelas duas entidades, ainda apontam que no Brasil apenas 7% das mulheres casadas não contam com essas possibilidades de controle familiar. É uma das taxas mais baixas entre os países emergentes. De acordo com as organizações, os principais motivos para a falta de acesso aos métodos contraceptivos - como a pílula, o preservativo e até mesmo a esterilização - são a falta de informação, preocupações relacionadas à condição de saúde e a oposição da sociedade a esses métodos. Do total de mulheres sem acesso à esses métodos, 105 milhões são casadas, o que representaria 17% de todas as mulheres casadas dos países pobres. A pior taxa está na África, onde quase 20% das mulheres casadas não conseguem ter à sua disposição formas de evitar uma gravidez. Boa Situação - Na América Latina, a taxa de mulheres sem acesso à métodos anticoncepcionais é bem inferior à média dos países pobres e chega apenas a 8,5%. De acordo com o Banco Mundial e a OMS, o Brasil tem uma média ainda abaixo da região e uma das menores do mundo. Mais de 76% das mulheres brasileiras casadas usam alguma forma de anticoncepcional. De acordo com a Constituição brasileira, o planejamento familiar é um direito de todos. O Estado deve fornecer os métodos contraceptivos, se essa for a vontade da família. A situação do Brasil se contrasta com as cerca de 30% das mulheres no Paquistão, Senegal, Togo e Uganda ou 40% no Haiti que não contam com essas facilidades. Ainda segundo o levantamento, a fertilidade excessiva nos países pobres é responsável por até 30% dos problemas de saúde de mulheres. Cerca de 585 mil mulheres morrem por ano e 54 milhões sofrem por complicações na gravidez no mundo em desenvolvimento por ano. Só na África, 43 mil mortes ocorrem por ano por causa de gestações não desejadas ou abortos. Na América Latina, o número de mortes nessas situações é de 6,3 mil. Natalidade em Baixa - Apesar do número ainda elevado de mulheres que não podem nem adiar nem evitar uma gravidez, as duas entidades internacionais apontam que a fertilidade no mundo já caiu de forma expressiva nos últimos 50 anos. Nos países em desenvolvimento, a taxa média na década de 50 era de seis crianças por mulher. Em 2000, essa média caiu para 2,8 crianças por mulher. A exceção continua sendo a África, onde a média está acima de 4 crianças por mulher. Falta informação no Brasil - No Brasil, as mulheres têm acesso aos métodos contraceptivos - camisinha, pílula e DIU, por exemplo, são distribuídos nos postos de saúde. Mas isso, segundo a Federação Nacional de Assistentes Sociais, não é suficiente. "Veja quantas jovens de 20 e poucos anos existem por aí com quatro ou cinco filhos", diz a presidente da federação, Margareth Alves Dallaruvera. "As políticas públicas não são voltadas para a prevenção. Não se trabalha a questão do planejamento familiar nas escolas, por exemplo." Segundo organizações que trabalham com os direitos das mulheres, a distribuição de contraceptivos pela rede pública é falha e demorada em muitos casos. De qualquer forma, a maioria das mulheres consegue acesso. Nem que seja comprando nas farmácias. "Nas cidades grandes, é mais fácil, chega mais informação. Elas dizem que no posto demora. Mas, conseguem comprar, mesmo que seja juntando dinheiro e indo até a farmácia", afirma Dalila Eugênia Dias, da Associação Brasileira de Defesa da Mulher. Segundo ela, o maior problema está nas cidades mais afastadas, onde as mulheres têm menos contato com o sistema de saúde. "Há meses em que eu compro na farmácia uma pílula de R$ 10. No posto às vezes demora demais, porque é preciso passar pelo médico e não há horário", conta a estudante Jacira Souza Lima, de 21 anos, que mora em São Bernardo do Campo (SP).

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