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Ao contrário do que informou Carlos Wizard, cidade paulista Porto Feliz tem 3 mortes por coronavírus

Cidade do interior paulista que adotou cloroquina tem 60 casos e 3 mortes; dados contrariam afirmação de não haver óbitos, dita por Wizard, convidado pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar cargo no Ministério da Saúde

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:
SOROCABA – O uso de um kit de remédios que inclui a hidroxicloroquina na rede pública de Porto Feliz, no interior de São Paulo, não evitou que a cidade registrasse mortes pela covid-19, como disse ao Estadão, nesta quinta-feira, 4, o empresário Carlos Wizard. Convidado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para ocupar cargo no Ministério da Saúde, Wizard é defensor do uso do remédio. Oficialmente, a cidade de 51.928 habitantes registra 60 casos positivos e três óbitos pela doença. A vizinha Salto, com o dobro da população – 104.688 moradores - e que não adota o medicamento, tem 64 casos e apenas uma morte.

Pedestres usam máscara para se prevenir do coronavírus no centro de São Paulo Foto: Alex Silva/Estadão

O uso da hidroxicloroquina associada a outros medicamentos começou no início de abril, bem antes do protocolo de 20 de maio, do Ministério da Saúde, liberando o uso do medicamento para pacientes com sintomas leves. “Precisa ter mais evidência do que uma cidade com 75 mil habitantes, com mais de 500 infectados e sem nenhum óbito?”, questionou Wizard, em evidente conflito com os números reais. A prefeitura informou que foram notificados 309 casos, dos quais 214 foram negativos e 35 ainda aguardam resultados. Cinco pessoas com o vírus e duas com suspeita estão internadas.  O kit de remédios foi colocado à disposição em dois postos de saúde e no pronto-socorro de Porto Feliz. A decisão foi tomada pelo prefeito Antônio Cássio Habice Prado (PTB), que é médico e cirurgião. Conforme a assessoria de imprensa, os pacientes que optam pelo uso do coquetel são avaliados em consulta médica e submetidos a exames laboratoriais, eletrocardiograma e tomografia. “Só então é decidido pelo médico assistente se há ou não indicação com segurança do uso das medicações.”  Ainda segundo o município, não há distribuição de kits. O que existe é um protocolo de tratamento precoce prescrito por médicos em pacientes iniciais de covid-19, após a realização de exames como função renal e hepática, hemograma, gasometria arterial e outros. Também é necessária a autorização formal de cada paciente. O coquetel inclui, além de uma dosagem de hidroxicloroquina durante cinco dias, azitromicina (antibiótico) pelo mesmo período, enoxaparina (anticoagulante) injetável por cinco dias e medicação anti-inflamatória e para náusea. O custo dos medicamentos está em torno de R$ 40. Até agora, cerca de 600 pacientes foram atendidos com esses remédios – quase o dobro do total de casos notificados. Segundo a prefeitura, os pacientes que morreram não tinham aderido ao tratamento. Incluída na fase 2 (laranja) do Plano São Paulo de retomada das atividades econômicas, a prefeitura de Porto Feliz baixou decreto autorizando a reabertura das lojas, mas com medidas de controle. O uso de máscara continua obrigatório em toda a cidade e a prefeitura mantém a desinfecção de locais com maior fluxo de pessoas. A cidade tem dez leitos de UTI na Santa Casa local, mas só havia um leito ocupado nesta quinta-feira.

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