Após os desenvolvedores da vacina Sputnik V ameaçarem processo contra a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Instituto Gamaleya, ligado ao Ministério da Saúde da Rússia, rebateu na tarde desta quinta-feira, 29, em 30 pontos, as críticas do órgão regulador brasileiro sobre o produto contra a covid-19. No documento de 55 páginas, a principal defesa é de que o imunizante tem só dois adenovírus não replicantes, segundo os russos, inofensivo para humanos.
"Apenas os tipos E1 e E3 vetores adenovirais não replicantes, que são inofensivos para o corpo humano, são usados na produção da vacina Sputnik V", afirma o documento, ao qual o Estadão teve acesso, logo em sua primeira página. Segundo o texto, a ausência de adenovírus replicantes-competentes (RCA) foi confirmada por três lotes selecionados protocolados.
"O Instituto Gamaleya (órgão científico russo) que conduz rígidos controles de qualidade de todos os locais de produção da Sputnik V, confirmou que nunca algum adenovírus replicante-competente (RCA) foi encontrado em nenhum lote de vacina Sputnik V que foi produzida", prosseguiu a carta.
A Anvisa, por sua vez, diz que a presença do adenovírus foi constatada pela agência baseada em documentos enviados pelos próprios desenvolvedores da vacina. Esse foi um dos principais problemas listados pelo órgão regulatório brasileiro para negar o aval à importação do imunizante pelos governadores.
"Não é o único ponto, existem outros também", explicou Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Agência, lembrando que o órgão não fez a análise laboratorial do imunizante.
O documento assinado por Alexander Vasilievich Pronin reforça ainda a segurança do imunizante, dizendo que a eficácia é de 91,6% e que a vacinação em massa de 3,8 milhões de pessoas na Rússia apresentou eficácia de 97,6%. "Nós acreditamos que toda farta informação que providenciamos para a Anvisa incluindo qualidade, dados clínicos e evidências reais reforçam o quanto a Sputnik V é uma das melhores vacinas no mundo e completamente segura para a população brasileira."
Polêmica
O veto da Anvisa para a importação da Sputnik V deixou os governadores do Consórcio Nordeste e do Consórcio Brasil Central indignados. Eles já têm acertada a compra de 29,6 milhões de doses neste primeiro momento para ajudar na vacinação de 10 Estados: Bahia, Acre, Rio Grande do Norte, Maranhão, Mato Grosso, Piauí, Ceará, Sergipe, Pernambuco e Rondônia. A Anvisa reforça que a decisão foi completamente técnica e não política, e por isso fez questão de explicar nesta quinta-feira em mais detalhes a negativa de importação.