Após conflito com Bolsonaro, governadores vão pedir ajuda a Lira e visitar fábrica da Sputnik

Líder do Executivo capixaba, Casagrande reclama de falta de coordenação nacional contra a pandemia

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Por Leonardo Augusto
Atualização:

BELO HORIZONTE -Após acusações do presidente Jair Bolsonaro sobre medidas adotadas pelos Estados para frear o novo coronavírus, governadores vão pedir nesta terça-feira, 2, ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), que o Congresso participe de uma coordenação nacional de combate à covid-19. Os gestores também vão visitar a fábrica responsável por produzir futuramente a Sputnik V no Brasil, na tentativa de articular a compra da vacina russa.

"Queremos do Congresso mais do que orçamento. Queremos uma coordenação nacional que envolva o presidente da Câmara em um trabalho que ajude os Estados neste momento de crescimento da pandemia. Estamos praticamente com 20 Estados com dificuldades de atender pacientes, especialmente em unidades de terapia intensiva", apontou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), durante entrevista coletiva em Vitória na tarde desta segunda-feira, 1º.

Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA

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Segundo Casagrande, 20 chefes de executivos estaduais, que integram o Fórum dos Governadores, devem desembarcar em Brasília para a conversa com Lira. Além das críticas sobre as medidas adotadas contra o coronavírus, os governadores reclamam também de publicação do presidente nas redes sociais no fim de semana sobre a na natureza de repasses de recursos federais. Uma nota assinada por 16 mandatários estaduais divulgada nesta segunda contesta os números.

"Isto que o presidente está divulgando são fake news. Estão torturando números e publicando fake news", afirmou Casagrande ao Estadão, em conversa antes da coletiva. O governador afirma que valores citados por Bolsonaro na publicação feita nas redes sociais são repasses constitucionais que seriam enviados, seja qual fosse o presidente. "São recursos constitucionais". Bolsonaro citou ainda, por Estado, quanto foi pago de auxílio emergencial. Casagrande lembrou que, neste casos, os recursos são pagos diretamente à população.

Na sexta-feira, 26, o presidente afirmou que o governador que adotar medidas de restrição para evitar a propagação da covid-19 deverá bancar novas rodadas do auxílio emergencial. "Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do presidente da República essa responsabilidade", disse, durante visita às obras de duplicação da BR-222, em Caucaia (CE).

Dose da vacina russa Sputnik V contra covid-19 Foto: Pavel Golovkin/AP

Casagrande disse que as medidas tomadas são para tentar conter a pandemia e que ninguém "gosta de fechar comércio". O governador, sem citar o nome do presidente, afirmou que as pessoas olham declarações de um líder e começam a ter dúvidas sobre se uma medida está correta ou não. "Acaba dificultando muito o trabalho. Nós governadores estamos tendo um trabalho muito exaustivo, mas intenso, por falta de uma coordenação nacional (para combate à pandemia)", declarou.

Casagrande afirmou ainda ter esperanças de que o governo federal faça essa coordenação nacional. "Mas enquanto não coordena, que o Congresso Nacional exerça esse debate, que acompanhe o assunto, para que a gente não perca tempo tendo que responder a postagens do presidente", argumentou. Além do encontro com o presidente da Câmara, os governadores vão visitar ainda a fábrica da farmacêutica União Química, que representa a vacina russa Sputnik no Brasil. O objetivo é articular a compra de imunizantes pelos próprios Estados.

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Casagrande disse que a ideia inicial é que os Estados comprem a vacina e repassem para o Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde. A avaliação, no entanto, é de que o governo federal perdeu o timing para compra dos imunizantes. "Não estamos colhendo hoje os frutos que deveriam ter sido plantados lá atrás. O governo federal deveria ter feito mais parcerias, mais acordos para a compra de vacinas", disse o governador.

Casagrande afirmou ainda que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) não irá a Brasília nesta terça-feira, mas disse que o tucano "está com o grupo". Além da farmacêutica representante da Sputnik no Brasil, os governadores pretendem conversar ainda com autoridades da China e da Índia, países que também criaram vacinas contra a covid-19.

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