Após um ano de espera, paciente é operado no joelho errado em SP

Marceneiro de 35 anos foi submetido a cirurgia pelo SUS no Ambulatório Médico de Especialidades de Votuporanga, no interior  

PUBLICIDADE

Por Chico Siqueira
Atualização:

VOTUPORANGA - Depois de esperar por mais de um ano para se recuperar de uma lesão no joelho esquerdo, o marceneiro Elias de Matos Júnior, de 35 anos, foi submetido a uma cirurgia pelo Serviço Único de Saúde (SUS), mas, quando acordou do efeito de anestesia, viu que o médico tinha operado o joelho errado.

PUBLICIDADE

"Tomei um susto danado, o problema era no joelho esquerdo, mas eles tinham operado meu joelho direito. Fiquei revoltado, não dá para entender um erro desses, mas felizmente mantive a calma e consegui não fazer nenhuma bobagem", afirmou.

 

O marceneiro sofreu a lesão no menisco jogando futebol, em novembro de 2013. Atendido pelo SUS, passou 2014 fazendo exames e esperando vagas no Ambulatório Médico de Especialidades (AME) de Votuporanga. A cirurgia chegou a ser adiada de dezembro para a última quinta-feira, 8, quando então conseguiu se internar para ser submetido a uma meniscectomia (correção do menisco).

"A gente tinha uma expectativa enorme, pois meu marido passou durante todo o ano de 2014 fazendo exames e consultas e esperando vagas no AME (Ambulatório de Médico de Especialidades) de Votuporanga. E, quando finalmente meu marido ia se livrar das dores, veio esta decepção", contou a mulher de Elias, a servidora pública Débora Cristina Malerba de Matos, de 36 anos. 

A Polícia Civil, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e a Santa Casa de Votuporanga, onde foi realizada a cirurgia na quinta-feira apuram o erro médico. O ortopedista Fred Alexander Webb, responsável pela cirurgia, não foi localizado para falar sobre o assunto. 

Segundo Elias, Webb alegou inicialmente que a operação no joelho direito era porque este também estava lesionado e precisaria ser operado no futuro.

Publicidade

"Mas perguntei onde estavam os exames que diziam isso e ele então me disse que operou o joelho direito porque a equipe tinha feito a tricotomia (raspagem dos pelos do local a ser operado) do joelho errado", contou Elias. "Eu então respondi a ele: 'E se fosse uma amputação, doutor?'".

De acordo com Elias, o médico ainda lhe garantiu que em 15 dias ele estaria recuperado e poderia retornar ao hospital para fazer a cirurgia do outro joelho. "Mas eu não vou deixar ele fazer isso", afirmou Elias. 

Com o erro, segundo o marceneiro, as dificuldades vão aumentar. "Agora, em vez de 60 dias que terei de ficar sem trabalhar, como estava previsto, serão 120 dias", disse. "Possivelmente terei de esperar por mais um ano para fazer nova cirurgia, porque um novo médico deve pedir novos exames e terei de passar por toda a espera e burocracia como da primeira vez", desabafou.

"Outro problema é o risco de a lesão se agravar ainda mais porque, ao andar de muletas, coloco o peso do meu corpo sobre o joelho lesionado", comentou.

O marceneiro Elias de Matos Júnior, 35, morador em Floreal (SP), que teve o joelho direito operado, mas o problema era no joelho esquerdo. Foto: CHICO SIQUEIRA/ESTADAO

PUBLICIDADE

Investigação. Elias passou por exames no Instituto Médico Legal (IML) nesta terça-feira, 13. O laudo será anexado no inquérito policial aberto para apurar o caso de erro médico. "Também requisitamos o prontuário de atendimento e exames que foram realizados no hospital que serão enviados para a polícia embasar o inquérito", declarou Débora Cristina.

O delegado que apura o caso, Ali Hassan Wansa, disse à imprensa que houve um crime e que está apurando se ele foi culposo ou doloso.

O Cremesp também vai requisitar o prontuários e manifestação dos responsáveis pela cirurgia, e, se forem constatados indícios de infração, o médico responderá processo administrativo e será julgado, podendo ser punido com pena que vai de advertência à cassação do registro profissional.

Publicidade

A Santa Casa de Votuporanga confirmou a realização da cirurgia e que, após reclamação de Débora Cristina, acionou a ouvidoria e comissão de ética médica para avaliar a conduta de Fred Webb. O prazo para "averiguação interna é de 30 dias" e só depois serão tomadas medidas cabíveis, que não especificou quais podem ser.

Médico não localizado. Webber foi procurado no hospital e em sua clínica particular, onde foi deixado recado com uma recepcionista que se identificou como Janaína, mas o médico não retornou até o fechamento desta reportagem.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.