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Associações são criadas para dar suporte às famílias vítimas da covid-19 no Brasil

Entidades oferecem apoio jurídico, social e psicológico para vítimas da doença e seus familiares no País

Por Jefferson Perleberg
Atualização:

Lidar diariamente com o desemprego, sequelas da covid-19 e, principalmente, o luto pela morte de algum familiar são consequências da pandemia que serão sentidas por muito tempo. Buscar forças para exigir direitos durante este período é uma tarefa difícil, por isso, entidades sociais como a Avico (Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19) estão se mobilizando pelo País para dar suporte às famílias atingidas pelo coronavírus. Desde abril, a associação criada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, se organiza para oferecer apoio jurídico, social e psicológico para pessoas que sobreviveram à doença e familiares de vítimas da covid-19.

Os fundadores Gustavo Bernardes e Paola Falceta transformaram o drama pessoal em mobilização para ajudar outras pessoas. Gustavo, advogado de 46 anos, ficou 27 dias internado no hospital, dez deles intubado. Após três meses, ainda sentia os sintomas da doença: “Fiz exames, consultas que não comprovaram nenhum sintoma,mas eu sentia dores, cansaço, taquicardia, tudo isso por causa da covid. Foi quando pensei nas pessoas que não podem ficar em casa e têm de sair para trabalhar desse jeito”.

Um dos últimos registros de Paola Falceta com a mãe e o pai Foto: POA Produções

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No mesmo período, a vice-presidente da Avico, Paola Falceta, assistente social de 46 anos, passava por uma perda pessoal: a morte da mãe por causa da covid. Em janeiro, Italira Falceta da Silva, 81 anos, realizou uma cirurgia vascular bem-sucedida, mas foi infectada pelo coronavírus dentro do hospital e faleceu em março em decorrência de complicações da covid-19. “Para mim era claro o tipo de política pública que não estava sendo feita para combater essa pandemia. Liguei pro Gustavo, sabia da recuperação dele; foi quando decidimos fazer a associação.”

Os dois viram as mazelas deixadas pela doença, seja o luto ou sequelas físicas e psicológicas. “A covid não acaba quando dá negativo no exame, ela continua contigo”, aponta Bernardes.

No dia 8 de abril foi fundada a Avico com 20 integrantes. Após um mês, já são mais de mil curtidas na página e 100 voluntários participando da associação, entre assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras e advogados. Com tanta gente disposta a ajudar e precisando de ajuda, foram criados grupos de trabalhos (GTs), como o GT Assessoria Jurídica, GT Acompanhamento de Medidas de Prevenção, GT Vacinas e Assistência, GT Criança e Adolescente, GT Pessoas em Privação de Liberdade e GT de Apoio ao Luto.

“Nosso principal objetivo é provocar o Estado para garantir direitos constitucionais dessas pessoas, seja por meio do Legislativo, por meio de leis, ou pela via judicial”, garantiu Falceta. Um site para divulgar mais informações e notícias da associação está sendo desenvolvido. Por enquanto, a Avico ainda não recebe doações porque não possui CNPJ. Todos os gastos estão sendo custeados pela diretoria.

Apesar de já possuírem demandas, a maioria dos GTs ainda está em fase de planejamento com os voluntários. Segundo a associação, a assistência jurídica é um dos serviços mais solicitados, são processos trabalhistas que envolvem demissões de funcionários após retorno do hospital, pensões e casos de aposentadoria por invalidez. 

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“Por causa da situação financeira ruim, não conseguiria contratar um advogado. Então, a associação e esses voluntários me ajudaram muito”, relata Ederson Arancibia, 32 anos, funileiro que precisou de ajuda para receber o auxílio-doença após sair do hospital. Ele ficou seis dias internado no Hospital Arcanjo São Miguel, em Gramado, por causa de complicações da covid-19. Após ser liberado, não conseguia voltar a trabalhar, foi atrás do auxílio-doença e aí surgiram as dúvidas. 

Na Avico, a advogada e diretora jurídica Letícia Woida foi quem deu assistência para o Ederson. Com ajuda da associação, ele recebeu do patrão e do INSS todos os valores de direito. “Assim como me ajudaram, quero divulgar o trabalho deles, que é muito importante”, garante Ederson, que pretende retribuir o auxílio recebido pela instituição.

Outras associações

Fundada no ano passado em Dourados, Mato Grosso do Sul, a Abravico (Associação Brasileira das Vítimas da Covid-19) é outro exemplo de mobilização para auxiliar as vítimas da doença e seus familiares. 

Reunião de diretoria da Abravico Foto: Abravico/Divulgação

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Segundo a organização, a entidade foi a pioneira no País. Apesar de ter atuação local em Mato Grosso do Sul, já possui alguns associados em Estados como Espírito Santo, Brasília e São Paulo. Para o fundador da Abravico, Mauro Quijada, o maior problema é o descaso de muitas pessoas que agem como se a pandemia tivesse acabado. “Um dos objetivos da associação é levar informação verdadeira sobre a covid, sinto uma dificuldade para chegar às pessoas que não tiveram a doença, elas não se importam com o assunto. A polarização política também interfere nesse descaso”, disse.

A associação promove cursos online de prevenção da covid-19 nos ambientes de trabalho, para empresários. E também, por meio de parcerias, oferece assistência jurídica para indenização e compensação financeira de profissionais da saúde. O presidente cita a dificuldade na captação de recursos para a criação de novos projetos, mas mesmo assim acredita que a Abravico possa crescer. “Um dia levaremos nossas demandas da associação até Brasília”, conclui.

E no dia 30 de abril, outra associação foi criada, a Vida e Justiça (Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid-19). Em suas diretrizes, a entidade pretende organizar uma rede nacional de solidariedade às vítimas da covid-19 e também articular uma rede de apoio e assistência médica, jurídica, psicológica e social às vítimas da doença e seus familiares.

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Apesar de recente, algumas personalidades já manifestaram seu apoio à entidade, como o ex-senador Eduardo Suplicy, o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto, e o ex-ministro da Justiça e procurador público federal, Eugênio Aragão.

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