Atores e robôs simulam parto em hospital

Médicos são treinados para reduzir taxas de cesarianas, que chegam a 85% na rede privada

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Por Fabiana Cambricoli
Atualização:
Prática envolve profissionais de diferentes Estados Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

Após 14 horas de trabalho de parto, Lindalva e o marido se desesperam. As dores estão cada vez mais intensas e o bebê não nasce. O casal passa a criticar os métodos utilizados pela equipe médica. Na sala ao lado, obstetras trabalham para controlar uma hemorragia pós-parto em outra mulher. Horas mais tarde, os médicos tentam retirar um bebê que está “preso” no canal vaginal de outra gestante.

As cenas poderiam fazer parte da realidade de uma maternidade, mas foram vividas por obstetras em treinamento no centro de simulação realística do Hospital Israelita Albert Einstein, na última terça-feira. Lindalva e o marido são personagens vividos por atores contratados para simular uma situação de estresse para os médicos. Já as “gestantes” com hemorragia ou dificuldade no parto são robôs que reproduzem o corpo da mulher e que, controlados por computador, têm contrações, sangram e dão à luz conforme cada ação dos alunos.

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A capacitação, acompanhada pelo Estado, faz parte do projeto Parto Adequado, iniciativa coordenada pelo Einstein em parceria com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e com o Institute for Healthcare Improvement, com o objetivo de reduzir as altas taxas de cesarianas no País. Na rede privada, esse índice chega a 85%. “A gente espera que na medida que formos dando treinamento aos profissionais, discutindo e tratando a questão cultural, esses números voltem para patamares aceitáveis”, diz Miguel Cendoroglo Neto, superintendente do Einstein.

Pelo menos uma vez por mês, cerca de 30 enfermeiros e médicos de diferentes Estados passam dois dias no Einstein revisando conhecimentos teóricos e práticos. “No treinamento, eles podem fazer desde ações práticas, que é o momento de treinar alguma habilidade específica, até cenários baseados em casos clínicos da vida real, nos quais eles fazem um atendimento a um paciente simulado por um robô ou um ator”, explica Joyce Barreto, especialista de treinamento em simulação do hospital. O Einstein tem oito robôs para diversos treinamentos. Os mais sofisticados piscam, urinam e até sofrem convulsões. O valor de cada equipamento pode chegar a R$ 350 mil.

O treinamento agradou até a profissionais experientes. “Já fiz milhares de partos, mas estou aqui para reciclar, para aprender técnicas novas que, na minha época de formação, não existiam”, diz o obstetra Paulo Marcelo Mofatto, de 67 anos – 42 de profissão. 

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