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Coquetel anticovid se mostra promissor, mas é preciso conhecer ação contra variantes do vírus

Anvisa aprovou neste mês o Regn-CoV2, segundo fármaco contra a doença; comunidade médica está otimista

Por Sergio Cimerman
Atualização:

Há muitas notícias tristes de falecimentos em todo País, com números expressivos diários que insistem em não diminuir. Porém, em meio a tudo isso, fomos informados pela nossa agência regulatória (Anvisa) que uma nova medicação recebeu a aprovação de seu colegiado, para uso emergencial, assim como tinha ocorrido meses atrás nos Estados Unidos, pelo FDA, e na Europa, pelo EMA.

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Este é o segundo fármaco em pouco tempo e com proposta bem definida que iremos delinear neste espaço. A primeira aprovação recaiu sobre o remdesivir, um antiviral para uso em pacientes que necessitam de recurso de oxigênio, porém, sem a necessidade de ventilação mecânica. São pacientes internados em casos moderados e que se beneficiam atenuando o número de dias de internação hospitalar e reduzem a carga viral. Ainda outros estudos estão provavelmente no prelo de boas revistas científicas e devemos ser brindados por novidades com desfecho positivo. 

Drogas combinadas devem sugerir avanços no tratamento específico da covid-19, como venho pautando há tempos, fazendo analogia com a infecção pelo HIV/aids e a hepatite C que tomaram outra conotação após combinação de drogas. No caso da aids, ao elevar a imunidade e parar a replicação viral levou a melhor qualidade de vida para os pacientes e menor número de infecções oportunistas – consequentemente menor internação e taxa de óbitos. No segundo caso, vimos cura em mais de 90% dos casos aliados a efeitos adversos leves e transitórios, situação esta jamais vivida ate então.

Falando da segunda droga para uso emergencial anticovid, é uma combinação de dois anticorpos monoclonais neutralizantes, casirivimabe e imdevimabe (Regn-CoV2), que bloqueiam a entrada do vírus na célula. Esta nova opção para que todos lembrem foi utilizada pelo ex-presidente americano Donald Trump em meados de novembro. Apresenta um custo elevado, que terá de ser avaliado pelo Ministério da Saúde para incorporação no SUS. 

Anvisa libera coquetel contra covid-19 para pacientes do grupo de risco Foto: Taba Benedicto/Estadão

Critérios de elegibilidade deverão ser bem regulamentados. Baseado nisso, tanto o FDA quanto a Anvisa em seu uso emergencial já referem a esta necessidade baseado em idade avançada e em comorbidades crônicas. Tem possibilidade de uso em pacientes a partir de 12 anos e com peso superior a 40 quilos. O grande avanço: uma única dose de aplicação na veia. 

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Devo mencionar o uso apenas em casos leves. Assim, em pacientes que fazem o diagnóstico por RT-PCR e tem sintomas já conhecidos em até dez dias e não necessitem de suplementação de oxigênio e não estejam internados. O melhor dos mundos. Dados apontam para redução de 70% de hospitalização e morte por covid-19. Temos de deixar bem claro que não se trata de nada preventivo. Não se adquire em farmácias e não é para uso domiciliar.

Se for aprovado para nosso SUS, deverá ter aval médico, porque após a administração do medicamento o paciente deverá ficar em observação ao menos por uma hora. Assim teremos de criar locais específicos – polos aplicadores e realizar treinamento para os profissionais da saúde. A rede privada provavelmente não fará a aquisição, por causa da baixa quantidade no mundo ainda da medicação e do interesse da farmacêutica, em um primeiro momento, em só oferecer a governos federais.

O Regn-CoV2 no tocante a efeitos colaterais mostra-se bastante seguro com reações de hipersensibilidade e alergias a medicação não chegando a 1%. A comunidade médica está bem otimista neste momento, porém, devemos nos ater que ainda falta a publicação cientifica da fase 3, e sem isto deixamos de ter dados da construção do estudo clínico.

Outro ponto importante: saber se estes anticorpos monoclonais neutralizantes têm ação na variante P.1, que circula em nosso País. Devemos ficar atentos também para as outras variantes e, até mesmo, para a indiana, que vem devastando aquela região e deve logo estar circulando em outras localidades. Cada dia tem se tornado desafiador a pesquisadores, médicos, governantes e demais profissionais de saúde. 

Apesar dos avanços no campo farmacológico, medidas preventivas devem ser mantidas: distanciamento social, uso de máscaras constante e lavagem das mãos. E vacinação em massa mantida. Seguimos confiantes em novas propostas e descobertas. Vamos vencer o vírus. Questão de tempo. Devemos ser resilientes.

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*COORDENADOR CIENTÍFICO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA E MÉDICO DO INSTITUTO DE INFECTOLOGIA EMÍLIO RIBAS