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Avanço da covid-19 faz ocupação de UTIs passar de 70% em 10 capitais, mostra estudo da Fiocruz

Para os pesquisadores do Observatório Covid-19, a flexibilização das medidas de isolamento e o aumento de situações de aglomeração causaram novo ciclo da doença

Foto do author Roberta Jansen
Por Roberta Jansen , Ângelo Sfair e Fábio Bispo
Atualização:

RIO, CURITIBA E FLORIANÓPOLIS - Dez capitais brasileiras apresentam taxa de ocupação de UTIs acima de 70%, de acordo com o boletim do Observatório Fiocruz Covid-19 divulgado ontem. O aumento súbito no registro de novos casos e mortes nas últimas duas semanas, depois de um longo período de redução dos números, é o principal motivo da alta ocupação dos leitos.

Para os pesquisadores responsáveis pelo boletim, a flexibilização das medidas de isolamento e o aumento de situações de aglomeração são os causadores do novo ciclo de avanço da doença Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

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A situação é especialmente crítica em Macapá (com taxa de ocupação de 92,2%), Vitória (91,5%), Curitiba (90%), Porto Alegre (88,7%), Rio (87%), Manaus (86%) e Florianópolis (83%). Além dessas capitais, também aparecem como taxas preocupantes Fortaleza (78,7%), Belém (78,3%) e Campo Grande (76,1%). Em São Paulo, a ocupação é de 58%. Para os pesquisadores responsáveis pelo boletim, a flexibilização das medidas de isolamento e o aumento de situações de aglomeração são os causadores do novo ciclo de avanço da doença.

As maiores taxas de crescimento diário no número de casos foram em Paraná (8%), São Paulo (7,8%), Amapá (6,5%), Rio (6,3%) e Santa Catarina (5,5%). Esses números indicam recrudescimento da epidemia. Já as maiores médias diárias de crescimento no número de mortes pela doença estão em Rio (10,1%), Roraima (7,9%), São Paulo (7,7%), Goiás (7,5%), Minas (6,6%) e Rio Grande do Sul (5,2%). “A tendência de aumento do número de casos e óbitos é muito clara em todo o Brasil”, afirmou o pesquisador Christovam Barcellos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT), da Fiocruz. “Geralmente é uma sequência. Constatamos um aumento no número de casos, depois de internações e, finalmente, de óbitos. Mas não precisamos necessariamente chegar a isso. Entre uma coisa e outra, há muito que pode ser feito, como retomar políticas de isolamento e reforçar o sistema de saúde.

O boletim não usa o termo “segunda onda” de covid. Tecnicamente, o fenômenose caracteriza por um forte crescimento de casos e mortes, ocorrido após queda muito acentuada. No Brasil, isso não aconteceu. O País registrou  redução ante o pico da epidemia, mas nunca chegou a um patamar considerado baixo. “O que pode acontecer é não vencermos a primeira onda e termos elevação em cima dela”, explica Barcellos, notando que esse é o padrão da epidemia dos Estados Unidos. “Seria trágico.”

Somado à elevação dos indicadores de casos e óbitos, o Estado do Rio apresenta piora expressiva na taxa de letalidade, em 6,4%.“O valor é considerado muito alto em relação a outros Estados (cerca de 2%) e aos padrões mundiais, à medida que se aperfeiçoam as capacidades de diagnóstico e de tratamento da doença, o que revela graves falhas no sistema de saúde”, aponta o boletim.

Idosa morre após buscar ajuda em três hospitais de Curitiba

Uma idosa morreu de insuficiência respiratória após procurar vaga de UTI em três hospitais privados de Curitiba. Orlandina Pereira Zankoski, de 87 anos, estava na reta final da recuperação após ter contraído covid-19. Durante a busca por um leito, ela também sofreu um enfarte.

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Conforme a família, a procura teve início na sexta da semana passada, às 23h30. Dois hospitais visitados alegaram que não tinham mais condições de receber pacientes em estado grave. A idosa só foi examinada no terceiro hospital. “Isso já era na madrugada de sábado, quando conseguimos vaga no pronto atendimento. Ficamos até as 17 horas para conseguir um leito de UTI”, conta a advogada Syndia Nara Postal, neta de Orlandina.

Foi no pronto atendimento que os exames revelaram enfarte. Segundo a família, a idosa havia sido diagnosticada com o novo coronavírus 15 dias antes. Os sintomas característicos, como cansaço e dificuldade para respirar, apareceram a partir da 2ª semana de infecção. "Esse caminho até o atendimento é uma situação de total angústia. Você percebe que o seu familiar está ali, numa situação bastante delicada, e só quer o seu melhor”, desabafa a neta. O laudo médico indica covid-19, insuficiência respiratória e choque cardiogênico como as causas da morte.

Em Curitiba, com a escalada de casos, quatro hospitais privados esgotaram as vagas de UTI esta semana e deixaram de receber pacientes. Na rede pública, a taxa média de ocupação das vagas exclusivas para covid-19 é de 93%.

A cidade superou, nesta sexta-feira, 27, a marca de 75 mil infecções confirmadas. Um mês atrás, eram 51 mil diagnósticos. Curitiba registra, hoje, a maior média móvel de casos diários e o maior número de casos ativos de covid-19 desde o início da pandemia.

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Na serra catarinense, diabético precisa de ajuda para respirar no hospital

Na segunda-feira, Érico Bolzani, de 65 anos, precisou ser entubado em Lages, na serra catarinense, onde os hospitais já estão com 100% dos leitos ocupados. “Ele não está muito lúcido e se comunica respondendo 'sim' ou 'não'. Meus primos estão acompanhando ele e, apesar de toda a situação, não há reclamações do atendimento médico”, diz o sobrinho, Velocino Salvador Bolzani, de 49 anos. 

“Somos uma família grande e estão todos assustados”, acrescenta ele. O tio é diabético, grupo de risco para a covid-19. Outros parentes também já foram diagnosticados com a doença. Santa Catarina está com 13 das 16 regiões em estado de alerta máximo para a doença. A taxa de ocupação dos leitos de UTIs está em 87%, sendo que 11 hospitais seguem com 100% dos leitos ocupados.

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