AVC: Ministério da Saúde anuncia inclusão de tecnologia no SUS para tratar doença; entenda

A trombectomia, utilizada nos casos mais graves, será adotada até o final do ano, mas hospitais ainda não estão definidos; Acidente Vascular Cerebral é uma das principais causas de morte, incapacitação e internações em todo o mundo

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Por Redação
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A trombectomia, tratamento utilizado na fase aguda do Acidente Vascular Cerebral (AVC), será incluído nos procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS). O anúncio foi feito pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, nesta quinta-feira, 11, na abertura do congresso médico Global Stroke Alliance – for Stroke without Frontiers, destinado a debater o AVC, em São Paulo. Especialistas destacam a importância da inclusão do tratamento, já disponível na rede privada, mas lembram a necessidade de infraestrutura dos hospitais e de capacitação das equipes para realizar o procedimento. 

Complexo e especializado, o tratamento consiste na inserção de um cateter no vaso sanguíneo do paciente para remover o bloqueio e restaurar o fluxo sanguíneo para a área afetada. A trombectomia é recomendada para a remoção do coágulo em vasos grandes, como artéria cerebral média, carótida, vertebral ou basilar. Vasos "fininhos" não permitem a chegada do cateter, como explica Alex Baeta, neurologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo. No caso dos pequenos vasos, os médicos usam a medicação trombolítica, capaz de dissolver o coágulo.

Fraqueza, falta de equilíbrio e dificuldade para falar são alguns dos principais sinais da ocorrência de um AVC Foto: rawpixel/Pixabay

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A trombectomia é capaz de reduzir danos neurológicos graves, na avaliação da neurologista Sheila Martins, uma das autoras do estudo sobre a inclusão da trombectomia no SUS e que foi publicado no The New England Journal of Medicine em 2020. "É um tratamento que já estava disponível na rede privada e que pode salvar vidas e diminuir sequelas", diz a presidente da Rede Brasileira de AVC e professora de Neurologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Pacientes afásicos, com distúrbio grave da linguagem, ou comprometimento motor, por exemplo, podem ter sequelas reduzidas. Mas é fundamental que o atendimento seja feito nas primeiras horas após o AVC, alertam os neurologistas.

A tecnologia deve estar completamente implantada no SUS até o final do ano O próximo passo é concluir a terceira fase do plano que é a disponibilização dos hospitais especializados. Os critérios de escolha dos locais serão os indicadores de cada hospital, como dados de mortalidade por AVC, tempo de internação no hospital, reinternações, pacientes que são tratados com trombolíticos e a experiência dos médicos.

Hoje, quatro hospitais públicos (de São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Ceará) já oferecem o tratamento, mas ele é custeado pelo próprio hospital ou pela secretaria estadual de Saúde. O tratamento custa de R$ 15 mil a R$ 20 mil.

Especialistas destacam a necessidade de infraestrutura hospitalar

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Gisele Sampaio Silva, neurologista e pesquisadora clínica do Hospital Albert Einstein, calcula que 10% dos pacientes com AVC agudo terão necessidade de tratamento com trombectomia mecânica. “Isso traz a chance de reduzir a incapacidade dos pacientes a longo prazo”, destaca.

Por outro lado, a adoção do procedimento deve ser acompanhada da presença de profissionais capacitados, como um neuroradiologista intervencionista, responsável pela cirurgia. De acordo com o Ministério da Saúde, o País possui 88 centros que realizam o tratamento especializado no AVC, mas não são todos que terão essa tecnologia em um primeiro momento. “Temos 20 hospitais já avaliados no estudo e pretendemos começar por eles. Estamos visitando outros hospitais para ampliar essa rede de centros especializados”, diz Sheila Martins.

Alex Baeta destaca que o hospital também precisa estar preparado para oferecer cuidados pós-operatórios. “Depois da trombectomia, o paciente precisa ir para a UTI com expertise neurológica para a condução posterior ao procedimento. Não é só retirada do trombo (coágulo). Existem cuidados e acompanhamentos que são fundamentais para a melhora do paciente”.

O que é o Acidente Vascular Cerebral

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Existem dois tipos de AVC, o hemorrágico e isquêmico. No AVC hemorrágico, acontece o rompimento de um vaso cerebral, provocando hemorragia, que pode acontecer dentro do tecido cerebral ou na superfície entre o cérebro e a meninge. É o responsável por 15% dos casos, mas pode ser mais letal que o AVC isquêmico.

O AVC isquêmico ocorre quando há obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de oxigênio para células cerebrais, que acabam morrendo. Essa obstrução pode acontecer devido a um trombo (trombose) ou a um êmbolo (embolia). Cada minuto sem tratamento representa a perda de 1,9 milhão de neurônios, o que pode deixar sequelas permanentes, como redução de movimentos, perda de memória e prejuízo à fala. O AVC isquêmico representa 85% dos casos.

Quais os principais sinais de AVC?

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Os principais sinais de alerta para qualquer tipo de AVC são fraqueza ou formigamento na face, no braço ou na perna, especialmente em um lado do corpo; confusão mental; alteração da fala ou compreensão; alteração na visão (em um ou ambos os olhos); alteração do equilíbrio, coordenação, tontura ou alteração no andar; dor de cabeça súbita, intensa, sem causa aparente.

Como prevenir o AVC?

A prevenção envolve a adoção de hábitos saudáveis, como evitar cigarro, álcool ou drogas ilícitas, além de manter uma alimentação equilibrada, peso ideal, beber bastante água, praticar atividades físicas regularmente e manter a pressão e a glicose sob controle.

Os fatores que aumentam o risco de AVC são a hipertensão, o diabetes tipo 2, colesterol alto, sobrepeso; obesidade; tabagismo; uso excessivo de álcool; idade avançada; sedentarismo; uso de drogas ilícitas; histórico familiar; ser do sexo masculino.

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