Bairros do Rio têm registro de aumento na circulação nesta semana, aponta levantamento

Com céu azul e calor moderado, a cidade viu casos de “reocupação” das ruas mais gritantes no Leblon e em Ipanema. Distanciamento social é recomendado para combate ao coronavírus

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Por Caio Sartori
Atualização:

RIO - Os bairros do Rio que registram o maior número de casos do novo coronavírus passaram a ter as ruas mais movimentadas nesta semana. Em comparação com a média histórica, a semana passada havia registrado uma queda de 85% na circulação; nesta semana, a variação foi menor: 80%. Ou seja, se 100 pessoas passavam por determinada rua numa semana pré-pandemia, 15 passaram na semana passada, enquanto 20 circularam por ela nesta semana. O levantamento é realizado pela empresa CyberLabs, que recorre a imagens detectadas por câmeras de videomonitoramento.

Ciclistas pedalam na orla do Leblon, na zona sul do Rio, nesta sexta Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

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Os bairros analisados são a Barra da Tijuca, na zona oeste; Leblon, Ipanema, Copacabana e Botafogo, na zona sul; e Tijuca, na zona norte. O Centro também é abarcado pelo levantamento, apesar de ter poucos infectados pelo vírus.

Os casos de “reocupação” das ruas mais gritantes são os de Leblon e Ipanema. Considerando um universo de 100 pessoas, os bairros chegaram a ter a circulação de apenas 12 na semana passada. Agora, nestas quinta e sexta-feira, tiveram média de 30.

O aumento no movimento pode dever-se a características locais. Os últimos dias foram típicos do outono carioca: céu azul e um calor mais moderado que o do verão. É uma épocaapropriada para caminhar na rua. As manhãs têm sido de ciclovias movimentadas, com muitos moradores correndo ou andando de bicicleta. Na orla, o policiamento reforçado monitora quem tenta descer para a areia e, é claro, para o mar. Os policiais pedem que as pessoas voltem para casa.

Além da estação favorável a atividades ao ar livre, esta foi a primeira semana cheia após o presidente Jair Bolsonaro começar a defender a reabertura do comércio e a retomada de outras atividades do dia a dia.

Destaca-se no levantamento o caso de Copacabana, que tem obedecido pouco às medidas restritivas. Enquanto os outros bairros chegaram a ter reduções de mais de 90% na circulação, o tradicional reduto de idosos do Rio tem mantido queda entre 75% e 80% desde o início do isolamento social. Muita gente ainda vai à rua.

Uma moradora do bairro que preferiu não se identificar, de 62 anos, conta que tem precisado sair para passear com a cadela de estimação e, eventualmente, ir ao mercado ou ao banco. Bem de saúde e favorável às medidas de isolamento, ela se preocupa com a quantidade de idosos com idade mais avançada que tem visto pelas ruas de Copa. Como o covid-19 é um vírus que ainda estamos conhecendo, diz, é importante que respeitemos as ordens de quem está estudando a doença.

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“Temos que acatar as ordens das autoridades que conhecem: os cientistas, pesquisadores, médicos. Não estamos numa hora de questionar, e sim de obedecer para ver se essa crise acaba o mais rápido possível. Queremos que acabe rápido, e a vida volte ao normal”, comenta.

A presença de policiais, que na zona sul atuam de modo ostensivo, não inibiu um grupo de jovens que mergulhava na Baía de Guanabara, no centro da cidade, na tarde desta sexta-feira,3, perto do Museu do Amanhã, na Praça Mauá. Eles moram ali perto, na comunidade Pedra do Sal. Apesar de preocupados com a doença, não viram problema em aproveitar o tempo aberto para mergulhar nas águas da Guanabara.

Quem se destaca na obediência ao isolamento é a Barra da Tijuca. Com a maior concentração de casos da covid-19, o bairro tem se recolhido e mal apresentou variação de uma semana para outra no período da pandemia. A queda em comparação com a série histórica tem se mantido na casa dos 90%.

A Tijuca, que também aparece entre os locais mais infectados pelo coronavírus, decepcionou nesta semana, depois de já ter chegado a reduzir a circulação de pessoas em 95%. Nesta sexta-feira, o movimento foi reduzido em 85%, enquanto ao longo da semana o número tinha ficado em 90%.

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Ainda não é feita, pela CyberLabs, uma análise de bairros do subúrbio do Rio,nem da parte pobre da zona oeste - a Barra é da área rica. Quando esses dados forem levantados, será possível analisar, por exemplo, se há uma diferença entre bairros ricos e pobres no cumprimento das ordens restritivas.

A empresa faz o levantamento com base em câmeras de videomonitoramento espalhadas pela cidade - são 800 no Rio. A empresa garante que não faz nenhum tipo de reconhecimento facial, por exemplo; tem acesso apenas às imagens. Por meio delas, os profissionais fazem uma contagem do número de pessoas que circulam por minuto nas ruas.

Transportre público

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Segundo o governo do Estado, o metrô registrou queda de 80% na circulação, em comparação com a média pré-pandemia. As barcas que ligam o Rio a Niterói, 73%; e os trens da SuperVia, que conectam o Centro da capital às zonas mais pobres da cidade e à Baixada Fluminense, 70%.