Bilionário Carlos Wizard vai assumir secretaria do Ministério da Saúde

Pasta é considerada estratégica por coordenar parcerias para fabricação de medicamentos

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Por Mateus Vargas e
Atualização:

BRASÍLIA - O empresário Carlos Wizard, fundador da rede Wizard de escolas de inglês, foi convidado pelo ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, para assumir o comando da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE). 

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A equipe da pasta já foi avisada sobre a nomeação do novo chefe. A assessoria de Wizard confirmou o convite à reportagem e disse que ele aceitará. 

Wizard, dono da  Mundo Verde, a maior rede de varejo de alimentos orgânicos do País, e de marcas como  KFC e Pizza Hut no Brasil,  atua como conselheiro de Assuntos Estratégicos no ministério. O bilionário e o ministro interino da Saúde trabalharam juntos na "Operação Acolhida", que ajuda venezuelanos que cruzam a fronteira com o Brasil.

Bilionário Carlos Wizard faltou a depoimento na CPI da Covid. Foto: Miguel SCHINCARIOL / AFP

Em agosto de 2018, Wizard mudou-se de São Paulo para Boa Vista, capital de Roraima, na fronteira com a Venezuela, para atuar na operação. Ao Estadão, no ano passado, ele relatou que cumpria uma "missão" da igreja mórmon Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que frequenta desde a adolescência em Curitiba, onde nasceu.

A SCTIE é considerada estratégica por coordenar parcerias com a iniciativa privada para fabricação de medicamentos e outros insumos. A pasta também analisa qual produto pode passar a ser ofertado no Sistema Único de Saúde (SUS), um dos maiores mercados de medicamentos do mundo. 

A pasta analisa ainda, diariamente, pesquisas sobre medicamentos testados para a covid-19, como a cloroquina

Defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, a droga não é apontada promissora nos documentos da secretaria. A SCTIE elaborou nota técnica, no começo de abril, orientando uso da cloroquina apenas para pacientes moderados, graves e críticos da doença, desde que a aplicação seja feita em ambiente hospitalar. 

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Sob Pazuello, o ministério mudou radicalmente de discurso, ignorou os informes da SCTIE e passou a recomendar uso da cloroquina desde o primeiro dia de sintomas da covid-19, mesmo para pacientes que ainda aguardam a confirmação laboratorial do diagnóstico.

Nas redes sociais, Wizard escreveu recentemente que algumas regiões do Brasil "vão exigir isolamento total" contra a covid-19. "Outras não têm nenhum caso."

Em vídeo de 16 de março, publicado nas redes sociais, o empresário afirmou que o "brasileiro está sendo enganado" sobre a gravidade da doença. "Alguns dizem que não passa de uma gripe, que logo vai ser curado. Gente, não é uma gripe como outra qualquer". 

No mesmo vídeo, o empresário disse que igrejas "responsáveis" já fecharam as portas. "Sabe o que é pior? Se você não se cuidar, não se precaver, se não tomar medidas necessárias, preventivas, somente as portas do céu estarão abertas para te receber", completou ele.

O presidente já chamou a covid-19 de "gripezinha" e, frequentemente, minimiza impactos do vírus sobre a saúde. Bolsonaro também colocou igrejas no rol de atividades essenciais durante a pandemia.

A SCTIE estava sem chefe efetivo desde 22 de maio, quando foi confirmada a exoneração do médico Antonio Carlos Campos de Carvalho, que ocupou o cargo por menos de um mês. Ele pediu para deixar o governo, entre outros motivos, por opor-se à vontade de Bolsonaro de ampliar o orientação sobre uso da cloroquina. 

Empresário conheceu general em Roraima em ação de apoio a refugiados

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Empresário ligado a vários negócios, como a rede de idiomas Wise Up e o Grupo Sforza Holding – dono de marcas de alimentação como Mundo Verde, Pizza Hut, KFC e Taco Bell –, Carlos Wizard Martins passou os últimos dois anos em Boa Vista (RR) onde, segundo ele, cumpria “missão” da igreja mórmon Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que frequenta desde a adolescência. Lá, ele fundou o projeto Brasil do Bem, de acolhimento a refugiados da Venezuela. Foi onde conheceu o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello.

Recentemente retornou à Campinas, onde morava antes de ir para Roraima, e recusou, em abril, convite feito pelo governador João Doria para ser o candidato a prefeito da cidade pelo PSDB. Ele deixou o partido e disse que se dedicaria à força-tarefa do Ministério da Saúde para o enfrentamento da covid-19.

 O empresário se destacou em 2014 quando vendeu a um grupo britânico, por R$ 2 bilhões, a rede de escolas de inglês Wizard – tão conhecida que o levou a incorporar a marca ao seu nome em 1989. A Wizard e a rede profissionalizante Microlins formavam o Grupo Multi, fundado por ele.

A operação de compra feita pelo grupo britânico Pearson foi considerada a maior na área de educação já feita no País e rendeu ao empresário nascido em Curitiba (PR) e então com 58 anos, o título de bilionário. Três anos depois já tinha um novo império, em parceria com dois filhos, envolvendo negócios nas áreas de alimentação saudável,fast-food e futebol.

Formado em Ciência da Computação pela Universidade Brigham Young, em Utah, nos Estados Unidos, se define como professor (deu aulas de inglês), empresário e escritor de livros motivacionais. É casado com Vânia Martins, tem seis filhos e 18 netos.

Em recente artigo publicado no Estadão, Wizard disse que, além da guerra contra a pandemia do coronavírus e a crise econômica que veio com ela no mundo todo, o Brasil “se deu ao luxo de adicionar mais duas crises à este cenário já alarmante: a guerra da informação e a guerra política, sendo que uma está intimamente ligada à outra”.

Segundo ele, em um momento em que o Brasil precisa da união de líderes capacitados para a tomada de decisão e de ações efetivas de Estado, “o que vemos é um guerra política sem precedentes, sem sentido, uma vez que ela serve apenas para fomentar o ego de alguns e tirar o foco da solução, que é tratar os pacientes, salvar vidas e minimizar seus impactos na economia”.

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