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Bolsonaro diz que não há remédio para covid, mas ainda sugere tratamento precoce

Presidente defende uso de medicamentos com ineficácia comprovada pela ciência desde o início da pandemia; produtos têm riscos de efeitos colaterais

Por Emilly Behnke , Daniel Galvão , Nicholas Shores e Rafael Beppu
Atualização:

Após ter pregado durante praticamente um ano o uso de remédios sem eficácia comprovada contra a covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a admitir, em transmissão ao vivo nas redes sociais, nesta quinta-feira, 25, que não existe medicamento “certo” para tratar a doença. Bolsonaro insistiu, porém, que pessoas com coronavírus devem consultar médicos a respeito de “alternativas” para um “atendimento imediato” que, nas suas palavras, podem “salvar sua vida”.

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Desde o início da pandemia, ele vinha defendendo a adoção do que chama de “tratamento precoce”, que consiste na utilização de substâncias como cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina. Essas medicações não são recomendadas para pessoas com covid-19. Esta semana, três pacientes morreram após receber nebulização com cloroquina na cidade de Camaquã, região sul do Rio Grande do Sul.

Em São Paulo (SP), o uso dos remédios sem eficácia comprovada contra o coronavírus levou cinco pacientes à fila do transplante de fígado e está sendo apontado como causa de ao menos três mortes por hepatite, segundo médicos ouvidos pelo Estadão.

Em evento, Bolsonaro voltou a distorcer declarações da OMS sobre o combate à pandemia. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Ao reunir governadores e chefes do Legislativo e do Judiciário, nesta quarta-feira, 24, para anunciar a criação de um comitê para coordenar ações de combate à covid-19, Bolsonaro ouviu críticas à defesa do tratamento precoce. Foi pedido ao presidente um alinhamento do discurso, mas não adiantou.

Na live desta quinta-feira, Bolsonaro também disse que o número de doses de vacinas contra coronavírus, aplicadas por dia, vai aumentar. Segundo ele, há previsão de que, daqui a dois ou três meses, o Brasil consiga fazer todo o processo de fabricação de imunizantes. Atualmente, as doses da Coronavac e da vacina de Oxford produzidas pelo Instituto Butantan e pela Fiocruz usam princípio ativo (IFA) importado, principalmente da China.

“Nos preocupamos, sim, com a vida, as medidas da vacina começaram a ser tomadas lá atrás. Muita gente nega isso aí, é negacionista”, alegou o presidente. Em outubro do ano passado, no entanto, ele mesmo chegou a ordenar o cancelamento da compra da Coronavac para não promover o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). À época Bolsonaro chamava a Coronavac de "vacina chinesa do Doria".

Ao longo de 2020, o Ministério da Saúde recusou diversas ofertas de doses do imunizante da Pfizer, sob a justificativa de que havia “óbices jurídicos” às “exigências leoninas” da farmacêutica. Neste ano o ministério fechou contrato com a empresa após o Congresso aprovar projeto de lei que autorizava os entes da federação a assumir os riscos de responsabilização por eventuais efeitos adversos da vacina.

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