Braquiterapia ainda é cara, mas ganha eficiência

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Por Agencia Estado
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O câncer de próstata é hoje um problema de saúde pública no Brasil. Estima-se que no País existam cerca de 400 mil homens acima dos 45 anos com a doença. A previsão do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para 2006 é de 47 mil novos casos, um risco estimado de 51 casos a cada 100 mil homens. Os números surpreendem; a doença é a segunda causa de morte por câncer entre a população masculina em território brasileiro. Os tratamentos variam e a cirurgia, um dos mais utilizados, oferece elevado risco de impotência ao homem. Nesse contexto, ganha importância como opção a técnica da braquiterapia. Desde que foi idealizada, há cerca de 100 anos, a braquiterapia evoluiu consideravelmente, ganhou novos materiais e processos de aplicação. Com nome originário do grego (brachys = curto; terapia = tratamento), chegou ao Brasil somente na década de 1990. Entre as possibilidades de tratamento do câncer de próstata, a braquiterapia tem conseguido resultados bem eficazes. Seu custo é alto, mas, na maioria dos casos, capaz de evitar a retirada da próstata. Porém, ainda não tem cobertura pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A técnica é simples e, normalmente, não apresenta grandes efeitos colaterais. "Geralmente o paciente nem fica internado. Passa algumas horas no hospital para fazer as aplicações e depois é liberado", informa Antônio Cássio Pellizzon, chefe do serviço de braquiterapia do Hospital do Câncer A.C. Camargo, de São Paulo. O tratamento consiste no implante de sementes de iodo 125 diretamente na próstata. A aplicação é feita através de agulhas (varia entre 14 e 16 delas) colocadas no períneo - região entre o ânus e o órgão genital. Este material solta uma radiação dentro do órgão capaz de matar as células tumorais. Como a aplicação ocorre diretamente no local afetado, garante maior precisão nos resultados, e sem afetar órgãos e tecidos sadios. "A técnica impõe uma alta dose de radiação em toda a próstata. É um tratamento radical e curativo", avalia o radioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein, Rodrigo Hanrio As "sementes" depositadas na próstata não causam problemas futuros ao paciente. Trata-se de um material inerte, revestido de platina, que após certo tempo perde a função. A ação dessas partículas vai eliminar as células tumorais, atingindo um nível de controle da doença de 85% a 95%. É como um medicamento inteligente, ministrado de duas formas. A técnica de alta taxa de dose, bastante usada em tumores avançados, inclusive os de próstata, consiste na aplicação da radiação (a substância é o irídio 192) através de agulhas, no períneo, mas sem que o material fique alojado no local. Essa modalidade não é utilizada como tratamento único e é feita após sessões de radioterapia externa. São necessárias quatro aplicações, durante dois dias, para que a dose de controle do tumor seja atingida. Nesse caso, o paciente sofre o desconforto de ficar com as agulhas instaladas no períneo por dois dias. O uso da braquiterapia de baixa taxa de dose é indicado somente para tumores de próstata em estágio inicial. Em casos avançados ou metastáticos, não se aplica a técnica. O paciente é encaminhado para outros tratamentos, como radioterapia externa e terapia hormonal, ou mesmo a cirurgia. "A avaliação adequada do paciente é muito importante para o sucesso do tratamento", conclui Hanriot. Avaliação Quando o homem procura um especialista, são apresentadas as opções de tratamento existentes. O uso da braquiterapia pode gerar alguns efeitos colaterais conforme a radiação é liberada na próstata. "Pode ocorrer alguma dificuldade para urinar, mas existem medicamentos que controlam esse incômodo", explica Hanriot. Em casos raros pode haver diminuição do volume da próstata ou aumento da dificuldade para urinar. Na cirurgia, o efeito é contrário. O paciente pode ter incontinência urinária (perda involuntária da urina)", avisa Pellizzon. Dos três tratamentos, o que causa o maior impacto na vida do homem é a cirurgia. Indicações Para fazer a indicação mais adequada, os especialistas avaliam três pontos: nível de estadiamento (extensão do tumor), classificação de Gleason (varia de 2 a 10 e aponta a diversificação das células, se são mais ou menos malignas), e dosagem de PSA (Antígeno Prostático Específico) - um exame de sangue que mede os níveis de substâncias relacionadas à alteração da próstata. Um aumento significativo indica mudança maligna das células da glândula. Depois que recebe a aplicação das sementes de iodo, o paciente segue algumas orientações. Alimentos de difícil digestão, cafés, refrigerantes e bebidas alcoólicas deverão ser evitados nos primeiros sete dias. A atividade sexual é liberada no quinto dia após o implante. Dor genital poderá ocorrer e, neste caso, o ato deverá ser suspenso por 15 dias. O uso de preservativo por alguns meses será necessário já que, na ejaculação, pode haver eliminação de uma ou mais sementes. Entre as vantagens sobre a cirurgia tradicional está o menor risco de impotência após o tratamento. A preservação da potência sexual é observada em 85% dos casos, enquanto que na cirurgia convencional, entre 30% e 40% dos operados podem ficar impotentes. Além disso, quando a disfunção erétil acomete o homem tratado com braquiterapia, são grandes as possibilidades de conseguir ereção com o uso de medicamentos estimulantes. O percentual de recidiva (reaparecimento de sinais ou sintomas da doença) e metástase (quando a doença se espalha para outros órgãos) também é reduzido, fica em torno de 5%. Os índices de controle da doença, no entanto, são parecidos nos três tratamentos disponibilizados (cirurgia, radioterapia externa e braquiterapia), chegando a 95%. "Não há como dizer que a braquiterapia é a melhor opção. No controle da doença, os resultados são os mesmos, tem que se analisar outros pontos, como o risco minimizado de impotência, por exemplo", diz Pellizzon. Além disso, o grau de retite e afecção da bexiga é muito pequeno. O que é o câncer de próstata A próstata é um importante órgão do aparelho reprodutor masculino, responsável pela produção de uma das secreções que compõem o esperma ou líquido seminal. O diagnóstico do tumor em fase inicial é feito pelo conhecido exame de toque retal, recomendado a todos homens a partir dos 45 anos. A dosagem de PSA também é solicitada. Eventualmente, podem ser pedidas tomografia computadorizada e radiografias. Quanto mais rápido o diagnóstico, maiores são as chances de cura É o tumor mais freqüente entre os homens com mais de 50 anos e um dos cinco mais comuns entre os brasileiros. Em 2005, foram registrados mais de 46 mil casos no Brasil. Sua origem é desconhecida, embora alguns fatores genéticos, hormonais e ligados aos hábitos alimentares possam influenciar o desenvolvimento da doença. No mundo, cerca de 75% dos casos ocorrem na população a partir dos 65 anos, por isso é considerado o câncer da terceira idade. Em países desenvolvidos, a sobrevida média, estimada de cinco anos, atinge 64% dos casos, enquanto que, nas nações em desenvolvimento, esse nível cai para 41%.

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