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Brasil amplia estudo de células-tronco

Por Agencia Estado
Atualização:

Nove anos depois de receber o diagnóstico de doença isquêmica do coração, a vendedora Suzy Mascarenhas, de 53 anos, enfrentou o "medo imenso" de ser uma das 1.200 voluntárias do maior estudo mundial randomizado (por amostragem) de terapia celular em cardiopatias. Operada na terça-feira, no Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL), no Rio, ela faz parte de um grupo de cerca de 150 pacientes já em avaliação. Para acelerar os trabalhos, iniciados em junho do ano passado e com duração prevista de três anos, novos centros estão sendo cadastrados. Aos 33 iniciais, somaram-se outros sete. Há ainda a possibilidade de que um novo tipo de protocolo seja adicionado aos quatro existentes. A cirurgia realizada em Suzy é a primeira feita no Estado do Rio e dependeu de análises da equipe do Instituto do Coração (Incor), centro-âncora para a doença isquêmica do coração. Coordenadas pelo INCL, outras instituições, distribuídas em nove Estados e no Distrito Federal, pesquisam também a terapia celular em pacientes com enfarte agudo do miocárdio, doença de Chagas e cardiomiopatia dilatada. Com investimento de R$ 18 milhões do Ministério da Saúde, o estudo, que já comprovou a segurança da técnica, quer saber se a terapia celular funciona. Sabe-se hoje que células-tronco retiradas do embrião têm o poder de se diferenciar em qualquer tecido, mas no Brasil são permitidas apenas pesquisas com células adultas. "Fora deste estudo, já realizamos, há cinco anos, outras experiências com células-tronco. E, até agora, não foi constatado nenhum efeito maléfico da técnica. Se constatarmos a eficácia, o procedimento vai ser adotado pelo SUS", afirmou ontem o responsável nacional pelo estudo, Antônio Carlos Campos de Carvalho, coordenador de ensino e pesquisa do instituto. Presente para a inauguração de um novo setor para doação de sangue do INCL, o secretário de Atenção à Saúde do ministério, José Gomes Temporão, visitou Suzy e declarou que a descoberta de um novo tratamento poderá reduzir os R$ 500 milhões gastos anualmente pelo governo no tratamento de cardiopatias. "As doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte no País." Paciente Diabética - Diabética, hipertensa, cardiopata e ex-fumante, Suzy contou ter procurado o INCL tão logo soube da terapia. "Há uns dois anos, eu li sobre o tratamento em diabéticos. Vim e soube que não tinha como participar. Fui embora desanimada, mas aí abriu essa outra porta de possibilidade de cura", relatou. Embora tenha sido comunicada de que a pesquisa também tem um grupo de controle, que recebe apenas placebo, mostrou-se esperançosa no poder das células-tronco. "Espero melhorar. Dava 30 passos e tinha de parar. Sentia dor, falta de ar." Médica de Suzy, Suely Bondarovsky explicou que, independentemente das injeção ou não de células-tronco, a paciente vai se sentir melhor após a cirurgia, pois recebeu duas pontes de safena. Ela foi incluída no estudo porque uma das veias do coração que está entupida, tecnicamente, não pode ser vascularizada pelos métodos tradicionais. Pessoas que sofrem da mesma doença da vendedora e não precisam de safenas ainda não podem se candidatar à pesquisa. Mas, se depender de Campos de Carvalho, isso será por pouco tempo. "Estamos tentando com o ministério incluir um novo protocolo."

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