PUBLICIDADE

Brasil soma 4 milhões de infectados pelo novo coronavírus; média diária de mortes fica em 878

Desde o primeiro milhão, em 19 de junho, País levou 75 dias para quadruplicar número de contaminados; taxa de contágio registra leve queda

Foto do author Ludimila Honorato
Por Ludimila Honorato e Paulo Favero
Atualização:

SÃO PAULO - Seis meses e uma semana foi o tempo que o Brasil levou para somar 4 milhões de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. A marca foi registrada nesta quarta-feira, 2, com a contabilização de 48.632 novos casos nas últimas 24 horas, segundo levantamento feito por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL junto às secretarias estaduais de Saúde. Em relação às mortes, a média diária vinha caindo, mas registrou pequeno aumento e ficou em 878, referente aos sete dias anteriores. Ao todo, 123.899 brasileiros morreram em decorrência da covid-19 e 4.001.422 se contaminaram.

Nas últimas 24 horas, 1.218 novos óbitos foram acrescidos ao número total, e o País segue como o segundo mais afetado do mundo em termos de casos e mortes, atrás dos Estados Unidos. O balanço mais recente do Ministério da Saúde, divulgado no fim da tarde desta quarta-feira, mostra que 3.210.405 pessoas se recuperaram da covid-19 e outras 663.680 ainda estão em acompanhamento.

Grafite na região da Brasilândia,zona norte da capital paulista, faz referência à pandemia de covid-19. Foto: Werther Santana/Estadão

PUBLICIDADE

Um cenário de queda em relação a casos e mortes tem sido visto no Brasil como um todo, e até mesmo a taxa de contágio diminuiu pela segunda vez desde abril. Porém, esses indícios promissores ocorrem só agora, depois de mais de um semestre de pandemia no País, ao custo de 4 milhões de casos e mais de 120 mil mortes. Isso é reflexo da ação descoordenada de resposta à covid-19, avalia o infectologista Evaldo Stanislau de Araújo, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

“Enquanto outros países levaram mais a sério e conseguiram diminuir número de casos e circulação do vírus com lockdown, por exemplo, a gente teve sucessivos exemplos de uma sabotagem das recomendações de medidas de contenção não farmacológicas, até de quem está no poder”, diz o médico, que é membro da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI). Ele observa que o fato de o Brasil ter adotado uma política muito heterogênea de enfrentamento, “quem ganhou corpo foi o vírus” e o resultado foi a pandemia crescendo.

O que também permite entender o crescente aumento de casos no País é a forma como o vírus se espalhou, começando pelos grandes centros urbanos e depois se dirigindo ao interior dos Estados. “Causou um descompasso. Enquanto tem regiões metropolitanas caindo e regiões do interior crescendo, o total ainda é de crescimento de casos”, afirma Araújo.

Em uma análise mais ampla, isso também foi observado em diferentes regiões. O Sul e Centro-Oeste, que até julho pareciam ter sido poupados de epidemias locais em grande escala, começaram a registrar avanço da covid-19 em meados daquele mês. A explicação para isso se apoia em dois fatores: o isolamento social precoce, que adiou o aumento de casos e mortes, e a reabertura das atividades comerciais, que permitiu a quem ainda não estava imune circular pelas ruas, se aglomerar e se expor ao vírus.

Dados indicam estabilização da pandemia

Publicidade

Até esta terça-feira, 1º, a média móvel diária de mortes pelo novo coronavírus vinha caindo, o que parece indicar uma queda sustentada, embora lenta. Um dos motivos, segundo Araújo, é o fato de os profissionais de saúde terem aprendido a lidar melhor com a covid-19. “As pessoas aprenderam a identificar melhor os sinais de gravidade e têm aprendido a tratar melhor os pacientes. Embora se veja número de casos crescente, a mortalidade começa a cair.”

Dados da renomada universidade britânica Imperial College também ratificam o cenário de possível estabilização, uma vez que a taxa de transmissão apresentou leve queda pela segunda vez desde abril. Também se observa um padrão na evolução de casos. O Brasil levou 27 dias do primeiro ao segundo milhão, depois mais 23 para chegar aos 3 milhões e agora 25 dias se passaram até os 4 milhões de infectados.

“Tem esse padrão de aceleração e depois desacelera. Regionalmente desacelerou e não tem outra explicação, porque tem circulação viral, senão a possibilidade de ter desenvolvido algum grau de imunidade, fazendo cair o número de reprodução regionalmente”, avalia o médico do Hospital das Clínicas.

Para ele, a desaceleração do aumento casos em algumas regiões metropolitanas não tem mérito das medidas de distanciamento social, por exemplo, uma vez que em todo o País a ação foi desorganizada e as pessoas pouco aderiram a elas. A possibilidade de uma imunidade de rebanho existir seria a única explicação para isso, argumenta.

PUBLICIDADE

Cuidados devem continuar

A situação, porém, ainda exige cautela. Ter uma taxa de contágio menor que 1 é positivo, mas não significa zero transmissão, lembra o infectologista. E a esperança de uma vacina deve ser encarada com os pés no chão.

“Não é porque chegou a vacina hoje que acabou o problema. Tem de ser efetiva a operação logística para vacinar todo mundo. Passado por todo esse desafio, vai ser no final do ano que vem, talvez 2022. Os Estados Unidos publicaram a lista de prioridade para a vacina, mas o Brasil não tem isso definido ainda. Quando chegar nesse ponto perfeito, vai ser ainda com casos acontecendo, porque o vírus não vai deixar de circular”, diz Araújo. O que talvez ocorra, segundo ele, é uma desaceleração de volume de novos casos.

Publicidade

Em meio ao estresse, pressão econômica e medo que a pandemia traz, o médico deixa uma mensagem à população: “As pessoas têm de ter muita paciência. Está todo mundo querendo uma solução, mas a realidade é essa: não tem caminho fácil, tem de respirar fundo e continuar se protegendo. Se a pessoa teve ou não covid, as únicas ferramentas de proteção são as medidas não farmacológicas. Tem de evitar aglomeração, usar todas as estratégias no transporte público, no trabalho, usar máscara e fazer higiene da mãos. Calma e paciência, porque mesmo quando tiver vacina, não é da noite para o dia que se resolve.”

Consórcio de imprensa

O balanço de óbitos e casos é resultado da parceria entre os seis meios de comunicação que passaram a trabalhar, desde o dia 8 de junho, de forma colaborativa para reunir as informações necessárias nos 26 Estados e no Distrito Federal. A iniciativa inédita é uma resposta à decisão do governo Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia, mas foi mantida após os registros governamentais continuarem a ser divulgados.

Segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 46.934 novos casos e mais 1.184 mortes pela covid-19 nas últimas 24 horas, o que elevou os números totais para 3.997.865 e 123.780, respectivamente. Somente nos últimos três dias, 392 pessoas morreram por causa da doença e 2.658 óbitos estão em investigação. Os números são diferentes do compilado pelo consórcio de veículos de imprensa principalmente por causa do horário de coleta dos dados.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.