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Com eficácia da Coronavac, Brasil precisa vacinar 99% do público-alvo para ter imunidade coletiva

Seriam necessários dez meses para que todos recebam a primeira dose do imunizante, calcula especialista da USP

Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO - O Brasil precisará aplicar a Coronavac em praticamente toda a sua população apta a recebê-la (99%) para alcançar a imunidade coletiva – e deter a circulação do novo coronavírus no País. O cálculo é do microbiologista Luiz Gustavo de Almeida, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Questão de Ciência. Segundo Almeida, seriam necessários dez meses para que todos recebessem a primeira dose. Ou seja, se tudo der certo, a vacinação, considerando que são necessárias duas doses para imunização, só terá detido totalmente o vírus no 2º semestre de 2022.

A eficácia global da vacina produzida pelo Instituto Butantã e pelo laboratório chinês Sinovac é de 50,4%, como anunciado nessa terça-feira. Por isso, para alcançar a imunidade de rebanho, será necessário imunizar 160 milhões de brasileiros (dos 162 milhões que podem receber a vacina). Segundo o IBGE, o País tem 211 milhões de habitantes. No entanto, os menores de 18 anos, inicialmente, não receberão a vacina.

Coronavac, vacina desenvolvida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac Foto: Alex Silva/Estadão

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Especialistas consideram que a imunidade coletiva é obtida quando entre 60% e 70% da população está imunizada. O porcentual da população vacinada e o tempo para atingir a meta seriam menores com vacinas de eficácia mais alta.

Almeida calcula ainda que, no caso da vacina da Pfizer/BioNtech, cuja eficácia é de 95%, seria necessário imunizar metade do público, 81 milhões, em aproximadamente cinco meses. No caso da vacina de Oxford (produzida no País pela Fiocruz e que também deve estar disponível no Brasil), com uma eficácia de 62,1%, o porcentual teria de chegar a 80%. Seriam 129 milhões vacinados em aproximadamente oito meses.

Ele lembra também que, dependendo da disponibilidade de imunizantes e do tipo de campanha criada pelo Ministério da Saúde, os períodos de vacinação poderiam ser abreviados. “Fiz o cálculo com base na estrutura de vacinação que temos, usada na vacinação da gripe do ano passado”, explica. “Mas com certeza isso pode ser acelerado, se o governo capacitar mais técnicos de saúde e abrir postos de vacinação em estádios e escolas", defende o pesquisador. Até agora, o governo federal não confirmou o calendário para a vacinação no País. 

“Uma campanha de vacinação tem dois objetivos muito claros: gerar a imunidade de rebanho e a proteção individual”, disse Flávio Guimarães, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia. “A Coronavac não consegue cumprir muito bem o primeiro objetivo, mas o segundo objetivo se cumpre muito bem. Diante da emergência e das circunstâncias, é uma ferramenta muito importante.”

A epidemiologista Cristiana Toscano, que integra o comitê de vacinação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e a câmara técnica que assessora o Ministério da Saúde, concorda com o colega. “Neste momento, o objetivo não é evitar a transmissão viral na população. Isso vai vir depois”, explica Cristiana. “O objetivo de saúde pública agora é reduzir o número de óbitos e os casos de doença grave; tanto é assim, que estamos priorizando os grupos mais vulneráveis.”

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Segundo ela, reduzir a circulação do vírus é um objetivo de saúde pública que virá mais para frente quando, inclusive, já haverá outras vacinas disponíveis. O maior desafio agora, conforme cientistas, é planejar bem a campanha de imunização (sobretudo se o Brasil dispuser de duas ou mais vacinas diferentes ao mesmo tempo). Será necessário estabelecer critérios rígidos sobre a distribuição das vacinas por grupos vulneráveis ou região do País, por exemplo.

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