
09 de outubro de 2007 | 10h42
O físico brasileiro Mário Norberto Baibich trabalhava no laboratório de Albert Fert, na Universidade Paris-Sul, na França, quando realizou, em 1988, as primeiras medições da mudança na resistência elétrica de materiais formados por camadas alternadas, com poucos átomos de espessura, de metais magnéticos e não-magnéticos. Tecnologia de disco rígido de computador leva o Nobel Especial Prêmio Nobel O que encontrou o surpreendeu: a resistência variava de forma impressionante, mesmo na presença de campos magnéticos não muito intensos. O fenômeno, batizado de magnetorresistência gigante, ou GMR, tornou possível a miniaturização cada vez maior dos discos rígidos de equipamentos de informática, como laptops, palmtops e iPods. Esses discos usam campos magnéticos para gravar informação, e correntes elétricas para lê-las. A GMR também fez de Fert e do líder de outra equipe que chegou à mesma descoberta de forma independente, o alemão Peter Grünberg, os ganhadores do Prêmio Nobel de Física deste ano. Baibich assinou como principal autor o primeiro artigo publicado sobre o fenômeno, em uma edição da Physical Review Letters. Atualmente é membro do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e falou ao estadao.com.br sobre a descoberta e o prêmio: Como o senhor recebe a notícia do prêmio para Albert Fert e Peter Grünberg? Com a maior alegria. Fico muito orgulhoso, não só com a premiação, como com as conseqüências que vêm surgindo do trabalho. O senhor não se sente frustrado por não ter sido incluído entre os agraciados com o Nobel por essa descoberta? Não. Já me perguntaram isso várias vezes (Fert e Grünberg vinham sendo citados, há anos, como indicados ao Nobel), e o que sempre digo é que o prêmio não é só pela descoberta, é por tudo que se fez em volta para levar a descoberta adiante. Como foi sua participação no descobrimento da magnetorresistência gigante? O pessoal estava testando as multicamadas (de materiais magnéticos e não-magnéticos) e me interessei, estimulado por Fert, em medir a magnetorresistência dessas camadas. Peguei os resultados, levei-os ao Fert e, numa noite de inspiração, conseguimos achar a explicação para o fenômeno que acabou se mostrando a correta. Eu tinha para mim que isso daria uma coisa interessante, porque ninguém sabia o que poderia acontecer quando o elétron passasse de uma camada para a outra, e essa acabou sendo a chave do que estava acontecendo. A GMR causou uma revolução tecnológica. O senhor tem alguma participação nas patentes ou nos lucros que surgiram a partir da descoberta? Não. Nem eu e, creio, nem Albert Fert. Aparentemente, é Grünberg quem recebe royalties por conta disso. A aplicação mais conhecida da GMR é nas memórias de computador. Existem outras? Sabemos que as aplicações não ficam só na memória de computador. Há aplicações biomédicas, no seqüenciamento de DNA, e em proteção biológica, na detecção de formas de vida, como bactérias e vírus. Como são essas aplicações? Essencialmente, buscam-se marcadores magnéticos em organismos, e o sensor de GMR consegue detectar esses marcadores. Além disso, há um resultado teórico que indica que o DNA apresenta magnetorresistência gigante. Seria possível usar uma corrente elétrica e tentar detectar esse efeito e usá-lo no estudo genético, mas o campo ainda é incipiente.
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