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Brasileiros no exterior pedem ajuda para voltar

Com voos cancelados, hotéis fechados e quarentena, grupos enfrentam dificuldades

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Por Gonçalo Junior
Atualização:

Voos cancelados de surpresa, hotéis fechados por causa da quarentena para evitar a disseminação do coronavírus e pouco dinheiro no bolso. Esse é o drama de vários brasileiros que viajaram ao exterior, mas não conseguem retornar ao País. O Ministério de Relações Exteriores estima que milhares de pessoas - não há dados precisos - estão nessa situação após vários países restringirem ou vetarem a circulação em seus territórios.

No Marrocos, a produtora de eventos Raquel Del Rey e um grupo de 11 brasileiros ficaram desalojados depois que o hotel Meriem, em Marrakesh, entrou em quarentena na terça e não aceitou renovar a estadia. O governo determinou o fechamento de hotéis, bancos e até supermercados naquela tarde. “Fomos retirados do hotel e não tínhamos para onde ir”, diz Fernanda Abreu, profissional da área de transportes internacionais que faz parte do grupo.

Brasileira Josana Silva (à direita) ao lado das anfitriãs argentinas, as irmãs Adrianae Maria Isabel Otermin. Foto: Arquivo Pessoal

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A saída foi apelar para a hospitalidade marroquina. Depois de passar boa parte do dia no aeroporto da cidade, os brasileiros contaram com a generosidade do guia Hamid Yakoubi, da agência de viagem Marrocos Expedições, que ofereceu hospedagem e alimentação.

Agora, o grupo tenta voltar em uma aeronave da TAP, que vai repatriar portugueses. Para finalmente tentar concluir a viagem de férias, Raquel deve desembolsar mais R$ 9 mil. Ela afirma que ainda não é o momento de somar os gastos inesperados. “Ainda não sei o tamanho do buraco”, revela. 

Em Portugal, um grupo de 60 pessoas não consegue deixar Lisboa por causa da escassez de voos. Apesar da decisão da União Europeia de fechar todas as fronteiras externas, as companhias aéreas foram autorizadas a realizar voos saindo de Portugal para nações lusófonas até a meia-noite de ontem. Diante das dificuldades, vários brasileiros foram ao Consulado-Geral do Brasil em Lisboa pedir ajuda. O órgão aceitou pagar estadias em um albergue e refeições em restaurante popular.

Uma das beneficiadas foi a designer gráfica Isadora Lucas, de 32 anos. Ela e o marido estão desde o dia 3 na Europa, mas decidiram encurtar a viagem, pois os principais pontos turísticos estão fechados. O novo voo está marcado para amanhã, mas ela reclama que as companhias estão cobrando valores altos. “No domingo, estava R$ 1,7 mil e na segunda-feira já passou para R$ 8 mil.”

TRANCADA

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Entre os brasileiros impedidos de voltar, Josana Silva vive uma situação ainda mais delicada: não pode nem sair da casa em que está na Argentina. Hospedada na residência de amigos, a estudante de 33 anos tem de obedecer à quarentena imposta aos estrangeiros que chegaram ao país. São 14 dias de reclusão. Asmática, o que significa estar no grupo de risco, e mãe de dois filhos (2 e 9 anos), ela não sabe o que fazer.

Josana foi visitar alguns amigos em El Bolson, província de Rio Negro, na Patagônia, no dia 7 de março. A intenção era ficar 15 dias. Com a crise do coronavírus e o fechamento das fronteiras na segunda-feira, a viagem virou um pesadelo. No cenário atual, ela precisaria esperar até o dia 21, sem sair de casa, para pegar o seu voo de Bariloche a Campinas. Mas o voo foi cancelado. O transporte aéreo e terrestre deve ser liberado no país vizinho apenas no dia 25. Segundo a brasileira, a embaixada recomendou que ela permanecesse na casa dos amigos, para evitar nova quarentena caso fosse flagrada, e pedisse ajuda aos pais, de Ribeirão Preto.

Há ainda um grupo de brasileiros presos no Peru, país que determinou confinamento e fechou as fronteiras. Ontem, a Gol e a Latam informaram que entraram em acordo com o governo e vão buscar os brasileiros no Peru. As duas empresas estão em contato com o Ministério das Relações Exteriores e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para definir datas e quantidade de voos.

Segundo o Itamaraty, há cerca de 3,7 mil turistas brasileiros no Peru. O órgão informou que a Embaixada do Brasil teve autorização para que saíssem e está acompanhando a “delicada situação”./ COLABORARAM IDIANA TOMAZELLI, MARLLA SABINO e AMANDA PUPO

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