Butantã inicia produção da Coronavac; 11 Estados negociam compra da vacina contra covid

Parte do processo de fabricação do imunizante começa a ser feita em SP, com fábrica funcionando '24 horas por dia e sete dias por semana'; resultados de eficácia ainda não foram apresentados pelo instituto

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Foto do author Fabiana Cambricoli
Foto do author João Ker
Por Fabiana Cambricoli e João Ker
Atualização:

O governador João Doria (PSDB) anunciou nesta quinta-feira, 10, o início da produção nacional da vacina Coronavac, desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantã e a farmacêutica chinesa Sinovac. De acordo com ele, 11 Estados já firmaram acordo com o Butantã ou negociam a compra do imunizante. Os resultados de eficácia da vacina ainda não foram apresentados à Anvisa e o governo manteve a previsão de que eles sejam divulgados até o próximo dia 15. 

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A produção local teve início na noite de quarta-feira, 9, na fábrica do Butantã em São Paulo. Neste primeiro momento, somente a etapa final da fabricação será feita no Brasil, com a importação da matéria-prima (ingrediente ativo) da China e formulação, envase e rotulagem feita nacionalmente. Nessa fase, também são realizados testes de qualidade.

Somente depois de concluído o processo de transferência de tecnologia da Sinovac para o Butantã, previsto para o fim de 2021, é que a produção poderá ser 100% nacional. Foram contratados 120 novos técnicos para trabalhar na produção da vacina, cuja fábrica passou a funcionar "24 horas por dia e 7 dias por semana", aumentando sua capacidade de produção diária para 1 milhão de doses.

Por enquanto, só foram importadas da China 120 mil doses prontas da Coronavac e matéria-prima para a fabricação local de 1 milhão de unidades do produto. Novas remessas devem chegar entre dezembro e janeiro. Serão 6 milhões de doses prontas e insumos para a produção de outras 40 milhões. 

Os Estados que negociam a compra da Coronavac são Acre, Pará, Maranhão, Roraima, Piauí, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Sul. Ao todo, 276 municípios também já formalizaram o interesse na aquisição do imunizante e, de acordo com Dimas Covas, diretor do Butantã, outros 912 também já manifestaram a intenção, que "deve ser formalizada nos próximos dias". 

Doria anunciou, na segunda-feira,  que disponibilizaria 4 milhões de doses para outros Estados vacinarem seus profissionais de saúde. De acordo com Covas, se o Ministério da Saúde formalizar o interesse na vacina, as doses, então, seriam disponibilizadas todas para o Programa Nacional de Imunizações (PNI) e seriam distribuídas pelo governo federal para Estados e municípios, como costuma acontecer em todas as campanhas de vacinação.

"Não tem sentido qualquer outra alternativa", afirmou Covas. "Basta me ligar e eu prontamente colocarei as vacinas à disposição do Ministério da Saúde", disse o diretor do Butantã.

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"Por que iniciar a vacinação em março, como foi anunciado pelo ministério, se podemos iniciar em janeiro, de forma segura e eficiente?", complementou Doria, fazendo referência ao calendário de imunização apresentado na semana anterior.  

O governador afirmou que ainda não recebeu nenhuma comunicação formal da pasta sobre um eventual interesse do governo federal em comprar doses da vacina do Butantã, embora o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tenha dito nesta quarta, 9, que ela pode ser incorporada caso haja o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Desejamos uma manifestação clara, escrita, de que a Coronavac fará parte do Programa Nacional de Imunização", afirmou Doria.

Butantã tentará registro regular e autorização para uso emergencial

Covas disse que o Butantã tentará, junto à Anvisa, os dois caminhos possíveis para registro da Coronavac. "Brevemente teremos os resultados da fase 3 (eficácia). Submeteremos (os dados) tanto pelo rito normal quanto pelo uso emergencial", disse.

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Ele não descartou a possibilidade de pedir liberação excepcional de uso para a Anvisa a partir da aprovação do imunizante em outras agências regulatórias com base na lei federal 13.979/2020, que autoriza a importação de produtos e insumos sem registro no País, contanto que eles tenham licença nos Estados Unidos, Europa, Japão ou China.

Nenhum país concedeu registro ainda à Coronavac porque ela ainda não teve os resultados de eficácia divulgados. A expectativa, porém, é que, assim que os dados da fase 3 dos testes sejam apresentados, o pedido de registro seja feito na China também. 

"Paralelamente (à submissão na Anvisa), os resultados serão submetidos à agência chinesa. É possivel que lá saia muito rapidamente, ainda neste ano. Isso nos remete a outra lei (a 13.979/2020). Isso acontecendo, a Anvisa tem que se manifestar em 72 horas. Esse é o caminho alternativo. O ideal seria pelo rito normal ou uso emergencial", explicou.

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Covas também disse ter oferecido 100 milhões de doses da Coronavac ao Ministério da Saúde para serem entregues até maio, além de 40 milhões a outros países. Ele afirmou já ter recebido manifestações de interesse de vários países da América Latina, como Argentina, Peru e Uruguai.

Na segunda-feira, Doria já havia afirmado que o Estado pretende começar o plano de imunização em 25 de janeiro, com a imunização de profissionais de saúde, idosos, indígenas e quilombolas. Horas após o anúncio de Doria na última segunda, a Anvisa afirmou, em nota, que só libera o uso da vacina após a análise de documentos, como os de dados de fase 3 da pesquisa. "Nenhuma das quatro vacinas em desenvolvimento no Brasil apresentou protocolo de registro. Portanto, nenhuma das quatro tem aval para uso amplo neste momento", disse o presidente Antônio Barra Torres, em entrevista à Jovem Pan.

Após passar pela Anvisa, a vacina ainda precisa receber um preço, o que é definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). A análise desse órgão leva até 90 dias, em casos normais, mas a expectativa é de encurtar a análise para as vacinas contra a covid-19

Doria mostra embalagem de vacina feita pela Sinovac durante visita ao HC Foto: Tiago Queiroz / Estadão

Na terça, João Doria e o ministro da Saúde se desentenderam durante uma reunião, após o governador cobrar uma posição da pasta em relação à compra da Coronavac.

Em novembro, um estudo divulgado na revista Lancet Infectious Diseases já havia atestado que a Coronavac produziu anticorpos em 97% dos voluntários, 28 dias após a sua aplicação. No Brasil, a vacina é testada em 13 mil voluntários espalhados por 16 centros de pesquisa de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. O imunizante é testado ainda na Turquia e na Indonésia.

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