Caminhoneiros, motoristas, funcionários do metrô: veja quem tem prioridade para ser vacinado

Notícias sobre os 'fura-filas' da vacina levantam discussões sobre quem deve receber o imunizante

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Por Mateus Vargas
Atualização:

BRASÍLIA - Notícias sobre os “fura-filas” da vacina contra a covid-19 no Brasil levantam discussões sobre quem tem prioridade para receber o imunizante. Políticos, profissionais recém-nomeados e até um chefe de um setor de informática e um fotógrafo estão entre as pessoas que já receberam a vacina, o que rompe com acordo firmado entre União, Estados e municípios. Os casos são investigados pelo Ministério Público de ao menos oito Estados.

O governo federal lançou em dezembro o “plano nacional de operacionalização da vacina contra covid-19”. O documento apontava a ideia de vacinar parte dos grupos prioritários, que somam 49,6 milhões de pessoas, como profissionais de saúde e idosos, em três fases. O restante da população, inclusive alguns grupos prioritários, seria imunizado nos 12 meses seguintes. 

Governo de São Paulo começou a vacinar profissionais de saúde contra a covid-19 Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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No total, os grupos prioritários somam cerca de 77,21 milhões de pessoas, conforme mostra nova versão do plano nacional de imunização, divulgada na quarta-feira, 20. Além dos grupos previstos nas três fases, há diversos outros que o ministério ainda não divulgou datas para a vacinação. Na lista estão, por exemplo, 1,24 milhão de caminhoneiros, além de trabalhadores de transporte urbano.  Em dezembro, a lista de grupos prioritários do governo já incluía os transportadores rodoviários de carga. A lista está detalhada no fim deste texto. 

Ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a epidemiologista Carla Domingues, não vê problema em inserir caminhoneiros entre grupos prioritários. “Quanto mais brasileiros forem vacinados, melhor, lembrando que eles viajam pelo Brasil todo e podem levar a doença”, disse. Ela ponderou que o ideal é inserir o máximo de atividades essenciais possíveis.

Nesta nova versão, porém, as metas de vacinação e os prazos são expostos de forma mais genérica. O ministério ainda lançou nesta semana um “informe técnico” sobre como seria feita a aplicação das 6 milhões de doses da Coronavac. Trata-se de imunizante desenvolvido pela Sinovac e distribuído no Brasil pelo Instituto Butantan, que recebeu aval para uso emergencial e começou a administrado no Brasil no domingo, 17.

Neste primeiro ciclo de aplicação das vacinas, o Ministério da Saúde orienta a vacinação de extratos do seguinte grupo:

  • Trabalhadores da saúde
  • Pessoas idosas residentes em instituições de longa permanência (institucionalizadas);
  • Pessoas a partir de 18 anos de idade com deficiência, residentes em Residências Inclusivas (institucionalizadas);
  • População indígena vivendo em terras indígenas

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As doses já disponíveis no País servem para imunizar cerca de 2,8 milhões de habitantes. Esse número considera que haverá uma pequena perda de vacinas e a necessidade de usar duas doses para imunizar cada pessoa. 

Essas doses, porém, não permitem nem sequer a imunização de todas as pessoas inseridas nestes grupos de risco priorizados no primeiro ciclo. O ministério recomenda que as vacinas sejam, agora, entregues a 34% dos profissionais de saúde de cada estado, com prioridade para aqueles que estiveram na linha de frente do combate à doença. 

Os Estados e municípios têm também liberdade para distribuir as doses conforme planos locais, mas o ministério afirma que é "imprescindível" seguir o plano nacional. 

"O Ministério da Saúde está trabalhando em todas as frentes para que haja o cumprimento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19. Apesar da autonomia de estados e municípios na distribuição e aplicação das vacinas, a Pasta, em uma gestão tripartite, alerta para a necessidade de se seguirem as orientações coordenadas pelo Ministério da Saúde, que prevê ciclos de vacinação de acordo com os grupos prioritários definidos em estudos populacionais com a comunidade científica", afirma nota da Saúde divulgada na quarta-feira, 20. 

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O ministério ainda não divulgou quais grupos prioritários devem receber as próximas doses. Devem desembarcar nesta sexta-feira, 22, no País as duas milhões de doses prontas da vacina de Oxford/AstraZeneca que foram importadas da Índia. Além disso, a Anvisa deve liberar o uso emergencial de outras 4,8 milhões de unidades da Coronavac.

Segundo a primeira versão do plano nacional, divulgado em dezembro, que detalhou as 3 fases de vacinação dos grupos prioritários, na primeira seriam imunizados: trabalhadores de saúde; pessoas com mais de 75 anos; população indígena aldeada em terras demarcadas e povos e comunidades tradicionais e ribeirinhas. Na segunda etapa, pessoas de 60 a 74 anos. Já a terceira fase seria reservada para pessoas com comorbidades. 

O planejamento, em dezembro, foi feito sobre as 110,4 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca que a Fiocruz espera produzir neste semestre. A produção da Fiocruz, porém, está atrasada, pois o laboratório ainda aguarda a importação de insumos da China, e a campanha de vacinação começou com a Coronavac. 

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Na versão do plano apresentada na quarta-feira, 20, o governo estima a população de todos os grupos prioritários, inclusive daqueles que ainda estavam fora das 3 fases do plano inicial. O ministério ainda não divulgou detalhes sobre o cronograma de vacinação de todos os grupos prioritários.

Especialistas defendem ampliação de grupo prioritário

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Ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a epidemiologista Carla Domingues, não vê problema em inserir caminhoneiros entre grupos prioritários.“Quanto mais brasileiros forem vacinados, melhor, lembrando que eles viajam pelo Brasil todo e podem levar a doença”, disse. Ela ponderou que o ideal é inserir o máximo de atividades essenciais possíveis.

Epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel afirma que o grupo prioritário ainda precisaria ser ampliado. "Essa estimativa populacional (da versão mais recente do plano) não é nem 50% da população. Essas contas precisam ser refeitas. Mais grupos precisam ser incluídos, pois não daria para atingir a imunidade de rebanho."

Ela sugere a inclusão de pessoas com câncer, no grupo de população com comorbidades, além de outros trabalhadores essenciais, como da cadeia produtiva de alimentos, supermercados e farmácias. "Ampliar até chegarmos a mais de 150 milhões de pessoas". No plano, o ministério estima que teria de vacinae 70% da população, pelo menos, para chegar a uma imunidade coletiva.

População estimada do grupo prioritário

Pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas  - 156.878

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Pessoas com Deficiência Institucionalizadas   - 6.472 Povos indígenas Vivendo em Terras Indígenas   - 410.197 Trabalhadores de Saúde  - 6.649.307 Pessoas de 80 anos ou mais  - 4.441.046 Pessoas de 75 a 79 anos  - 3.614.384 Povos e Comunidades tradicionais Ribeirinha   - 286.833 Povos e Comunidades tradicionais Quilombola   - 1.133.106 Pessoas de 70 a 74 anos  - 5.408.657 Pessoas de 65 a 69 anos  - 7.349.241 Pessoas de 60 a 64 anos  - 9.383.724 Comorbidades  - 17.796.450 Pessoas com Deficiências Permanente Grave  - 7.744.445 Pessoas em Situação de Rua  - 66.963 População Privada de Liberdade - 753.966 Funcionário do Sistema de Privação de Liberdade  - 108.949 Trabalhadores de Educação do Ensino Básico  - 2.707.200 Trabalhadores de Educação do Ensino Superior  - 719.818 Forças de Segurança e Salvamento  - 584.256 Forças Armadas   - 364.036 Trabalhadores de Transporte Coletivo Rodoviário de Passageiros - 678.264 Trabalhadores de Transporte Metroviário e Ferroviário  - 73.504 Trabalhadores de Transporte Aéreo  - 64.299 Trabalhadores de Transporte de Aquaviário  - 41.515 Caminhoneiros  - 1.241.061 Trabalhadores Portuários - 111.397 Trabalhadores Industriais  - 5.323.291 Total  - 77.219.259

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