O câncer de pulmão é o segundo mais comum em homens e mulheres no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Embora a maioria dos casos esteja associada ao tabagismo, cerca de 10% a 20% dos diagnósticos ocorrem em pessoas não fumantes, ou seja, não é apenas quem fuma que precisa ficar atento. “Temos visto uma proporção de câncer de pulmão cada vez maior em pacientes que nunca fumaram. Não se sabe ainda o motivo disso; talvez porque o número de fumantes esteja diminuindo e, proporcionalmente, acabam surgindo mais casos”, avalia o oncologista clínico William William Jr. Em geral, os pacientes não tabagistas são mulheres, na faixa dos 65 anos, e têm a tendência de apresentar tumores com mutações genéticas – sendo as mutações do EGFR (cerca de 20% a 25% dos casos) e do ALK (aproximadamente 10%) as mais comuns nessa população.
A partir do momento em que existe uma suspeita de câncer de pulmão, o paciente faz um exame de imagem para detectar, descrever o aspecto e mensurar a lesão pulmonar. Depois, para saber o tipo do tumor, é feita uma biópsia para classificá-lo como um câncer de pequenas células ou um câncer de não pequenas células. Dentro dos casos de câncer de não pequenas células, o médico ainda pode avaliar as características dessas células e chegar a um nível de entendimento ainda mais específico por meio de um teste genético molecular, principalmente nos tumores não escamosos.
Em alguns casos de câncer de pulmão, as mutações genéticas acontecem com a inserção de um outro gene, tornando o tratamento ainda mais personalizado. E felizmente, com o advento da terapia-alvo, que atua diretamente no gene alterado, observam-se resultados cada vez mais efetivos. Segundo o oncologista Antonio Carlos Buzaid, essas alterações nas células do câncer fazem com que o gene produza uma proteína anormal, que funciona como um “motor” dentro da célula doente, fazendo com que ela se multiplique sem parar. Esses genes alterados são chamados de “driver genes”, e a testagem genética é capaz de identificá-los.
Esse nível de especificidade e a individualização do tratamento vêm permitindo cada vez mais que o paciente tenha uma jornada com mais qualidade e maior tempo de vida. Com foco em inovação, a Janssen – farmacêutica do grupo Johnson & Johnson – tem investido anualmente mais de 20% do valor de suas vendas globais no desenvolvimento de soluções para áreas em que há necessidades médicas ainda não atendidas.
Tratamento personalizado
Atualmente existem pelo menos nove alterações genéticas conhecidas que são associadas ao câncer de pulmão, e elas são mais comuns em pacientes não fumantes. “Hoje temos conhecimento desses genes, e com certeza há remédios que podem mudar muito a evolução do paciente”, afirmou Buzaid. Dar “nome, sobrenome e apelido” ao câncer permite que o paciente receba a melhor opção de tratamento e tenha mais qualidade de vida. “O nome é ‘câncer de pulmão’, o sobrenome é ‘não pequenas células’, o apelido é ‘adenocarcinoma’, e hoje ainda conseguimos ir um passo adiante identificando qual é a alteração molecular que ele tem”, disse William. E esses “apelidos” são vários: éxon 20, MET, entre outras pequenas siglas que são decisórias.
Chegar nesse nível de detalhamento do subtipo do câncer permite a personalização do tratamento – evitando a prescrição de uma medicação que não terá resultados tão eficientes para o paciente quanto uma terapia-alvo, desenvolvida especialmente para interagir com determinada característica da doença. No caso do câncer de pulmão, entre 30% e 40% dos pacientes podem se beneficiar de um tratamento personalizado com terapia-alvo.
“Antes de iniciar o tratamento de qualquer paciente com câncer de pulmão, é imperativo avaliar se o câncer do paciente tem essa mutação ‘driver’”, afirmou Buzaid. “A gente olha para cada detalhezinho desses níveis e escolhe a medicação mais correta e apropriada. A terapia-alvo age especificamente no gene que está alterado e reduz consideravelmente o efeito colateral, além de aumentar a eficácia do tratamento, com menos toxicidade”, complementa William.
Celebrando as conquistas
Os especialistas reforçaram a importância de o paciente manter uma rede de apoio ativa e celebrar cada conquista no dia a dia do tratamento. “Temos que realmente celebrar que estamos indo bem, com o paciente tocando a vida como se a doença não existisse. Eu não consigo eliminar o câncer de todos, mas controlar com boa qualidade é um excelente ponto”, diz Buzaid.
William William concorda e diz que é preciso desmilitarizar a linguagem contra o câncer. “Não existe perdedor. O câncer é uma condição de saúde que precisa ser controlada e muitas vezes consegue até ser eliminada. Os pacientes têm que levar um dia de cada vez, e cada passo que ele dá, cada melhora que ele apresenta é um dia a mais. Muitas vezes temos conseguido transformar o câncer de pulmão em uma doença crônica – prognóstico improvável décadas atrás. Pacientes vivem hoje anos e anos convivendo com o tumor com uma boa qualidade de vida”, finaliza.
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