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Câncer que atinge Bruno Covas aumenta entre os jovens

Acredita-se que piora na alimentação colabore para o crescimento de casos de tumores na transição entre o esôfago e o estômago

Foto do author Fabiana Cambricoli
Por Fabiana Cambricoli e Paula Felix
Atualização:

SÃO PAULO - Embora mais comum entre idosos, o câncer de estômago, tipo de tumor que acomete o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), tem sido observado com cada vez mais frequência em pacientes jovens, segundo especialistas ouvidos pelo Estado.

Uma das hipóteses é de que a piora na alimentação e em outros hábitos de vida colabore para o crescimento, mesmo entre jovens, dos tumores que acometem a região de transição entre esôfago e estômago. No caso do prefeito, o câncer foi detectado na cárdia, espécie de válvula entre os dois órgãos. Embora não seja considerado um câncer raro, ele historicamente costuma ser diagnosticado em maiores de 55 anos e não na faixa etária do prefeito, que tem 39 anos.

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

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Cirurgião oncológico e diretor do centro de referência de tumores gastrointestinais do A.C. Camargo Cancer Center, Felipe Coimbra diz que casos de pessoas mais jovens têm aparecido com mais frequência no dia a dia de profissionais da oncologia.

“A gente observa um aumento. Tem a ver com os maus hábitos adotados em grandes cidades. Os fatores mais relacionados são tabagismo, refluxo gastroesofágico, consumo exagerado de bebidas alcoólicas e obesidade. Também tem fatores hereditários, mas é possível ocorrer sem nenhum fator de risco, de forma aleatória”, explica o especialista.

Coordenadora dos tumores gastrointestinais e neuroendócrinos do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Renata D’Alpino também relata aumento no número de pacientes jovens com esse tipo de câncer.

“Estamos vendo um aumento de tumores de estômago na cárdia provavelmente por causa das questões de comportamento, enquanto outros tumores de estômago, os mais localizados na parte inferior do órgão, estão menos frequentes”, diz.

Renata destaca como principal fator de risco o refluxo crônico.

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“Quando o alimento não fica no estômago e fica retornando para o esôfago, vai causando uma inflamação que pode gerar mutações e o aparecimento do câncer​”, diz ela.

O excesso de gordura corporal também aumenta os processos inflamatórios no sistema digestivo.

Quando o alimento não fica no estômago e fica retornando para o esôfago, vai causando uma inflamação que pode gerar mutações e o aparecimento do câncer

Renata D'Alpino, do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

Segundo Coimbra, o refluxo pode causar uma condição específica que favorece o aparecimento de células cancerígenas.

“O esôfago de Barrett, que é uma consequência da doença do refluxo crônica e causa modificações de células, aumenta em mais de 20 vezes a chance de câncer”, destaca o especialista.

O câncer de estômago afeta mais os homens do que as mulheres. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é de que 21 mil brasileiros tenham o diagnóstico da doença todos os anos, dos quais 14 mil sejam do sexo masculino.

O esôfago de Barrett, que é uma consequência da doença do refluxo crônica e causa modificações de células, aumenta em mais de 20 vezes a chance de câncer

Felipe Coimbra, do A.C. Camargo Cancer Center

Paciente descobriu doença por acaso

O motorista de aplicativo Gustavo D'Angelo Messias Fernandes foi um dos que recebeu o diagnóstico neste ano. Assim como o prefeito Bruno Covas, ele não está na faixa etária mais comum para a doença: tem 37 anos.

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A mulher de Fernandes, a autônoma Juliana Luz dos Santos, de 34 anos, conta que a descoberta da doença foi por acaso.

“Ele não sentia nada grave: era só uma azia, às vezes um incômodo. São sintomas pelos quais quase ninguém procura um médico. Geralmente as pessoas vão a uma farmácia e compram um antiácido só”, conta.

Ela e o marido, porém, decidiram procurar um especialista depois de três meses desses sintomas e, após uma endoscopia, receberam o diagnóstico do câncer​ de Gustavo, o mesmo tipo que o de Covas: adenocarcinoma na cárdia.

Ele não sentia nada grave: era só uma azia, às vezes um incômodo. São sintomas pelos quais quase ninguém procura um médico

Juliana Luz dos Santos​, mulher de Gustavo D'Angeloti Messias Fernandes​

Agora, o paciente enfrenta outro desafio: o de conseguir tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). Desde setembro, quando recebeu o diagnóstico de um médico particular, tenta iniciar o tratamento em um hospital público do Rio de Janeiro, onde mora, já que não tem plano de saúde e não teria condições de arcar com os custos de todo o tratamento na rede privada.

“Provavelmente ele vai ter de fazer cirurgia e quimioterapia. Talvez radioterapia. Ficaria pelo menos R$ 150 mil”, conta Juliana.

Segundo ela, o marido só conseguiu, por enquanto, passar em uma consulta com o médico do SUS, mas agora aguarda na fila de espera para refazer exames como tomografia e endoscopia, uma vez que a unidade pública não aceita os laudos da rede privada. Só depois de vencer a espera pelos exames é que entrará em outra fila: a do tratamento.

“É uma aflição. Quanto mais o tempo passa, maior a chance de o câncer se espalhar”, relata a autônoma.

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Tratamento depende de estágio da doença

O tratamento do câncer de estômago depende do tanto que a doença está avançada.

“A cirurgia é um tratamento localizado, que limpa o que está ao redor (do tumor) com margem de segurança, mas ela não trata se houver células circulantes. Quem trata isso é o tratamento sistêmico, como a quimioterapia. Em uma situação com metástase, a opção é começar com quimioterapia”, explica Coimbra.

Nos casos mais avançados, quando a quimioterapia não tem bom resultado, outra opção que vem ganhando força é a imunoterapia, técnica em que o organismo é estimulado a ativar o sistema de defesa para combater o tumor.

Assista à entrevista com a médica Eliza Ricardo, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz:

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