Capitais começam a paralisar vacinação com 1ª dose; frente cobra governo federal

Rio, Salvador e Cuiabá têm falta do imunizante e Florianópolis e Curitiba estão no fim dos estoques, a exemplo de cidades menores; grupo de prefeitos pede cronograma federal. Ministério contrata mais doses da Coronavac e quer firmar contratos esta semana com Rússia e Índia

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Por Felipe Resk e Marcio Dolzan
Atualização:

RIO E SÃO PAULO - Menos de um mês após o início da vacinação, capitais começam a suspender campanhas por falta de estoque. Rio, Salvador e Cuiabá já anunciaram que não vão mais aplicar a primeira dose do imunizante até novas remessas. Em Curitiba, a prefeitura admite só ter volume suficiente para esta semana. A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) cobrou nesta terça-feira, 16, do governo federal um cronograma de entrega de doses.

Prefeitos cobramdo governo federal um cronograma de entrega de doses Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

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Na segunda-feira, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM), informou que, sem vacina suficiente, o Rio iria interromper o programa por pelo menos uma semana. Segundo o governo municipal, as doses que ainda estão disponíveis foram reservadas para a segunda aplicação. A Secretaria Municipal de Saúde diz ter recebido cerca de 375 mil doses e vacinado 249,8 mil pessoas – número já superior à quantidade disponível, quando se considera a segunda dose.

“A expectativa é de que as doses provenientes do Instituto Butantan sejam entregues no dia 23”, disse o governo federal, em nota. “O retorno esperado (da campanha) é na próxima semana, mas a data exata ainda será confirmada.”

Em Salvador, o prefeito Bruno Reis (DEM) usou o Twitter para anunciar a paralisação nesta terça-feira. A capital manterá a aplicação das segundas doses para trabalhadores de saúde, até nova remessa. “Estão asseguradas desde a primeira distribuição.”

Situação semelhante vive Cuiabá. Nesta terça-feira, a capital de Mato Grosso tinha apenas 400 doses disponíveis para a primeira aplicação. A gestão Emanuel Pinheiro (MDB) manteve só o cronograma da segunda dose. O governo de Cuiabá alega ter recebido 30,8 mil doses e imunizado 23,2 mil pessoas. 

Em Curitiba, a gestão Rafael Greca (DEM) afirma só ter 12,4 mil doses disponíveis para a primeira dose. O estoque seria suficiente para atender o cronograma de vacinação até sexta-feira. 

Com 73% do público-alvo ainda sem ter recebido dose, Florianópolis afirma dispor de apenas 1.390 vacinas. Para se ter ideia, essa quantidade representa metade das doses aplicadas só no dia 11. Por sua vez, o governo de Santa Catarina diz que o Estado não recebe novos lotes desde o dia 7. “Neste momento o estoque disponível destina-se à segunda dose”, afirma. 

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Em outras capitais, o estoque de vacinas também caminha para o fim. Maceió, por exemplo, diz já ter aplicado 20,7 mil das 22,7 doses recebidas – ou 91%. Por sua vez, Porto Alegre diz ter 11 mil imunizantes em estoque, mas ainda falta 27% do público-alvo, ou mais de 33 mil na primeira dose. 

São Paulo informou o número de vacinados: 394,4 mil receberam a primeira dose do imunizante até esta segunda-feira, 15. Já para a segunda dose o índice é de 39,4 mil. Sobre o estoque, a Prefeitura disse que recebeu do governo 203 mil doses da Coronavac em 19 de janeiro, 165,3 mil doses da Oxford/AstraZeneca em 25 de janeiro e mais 203 mil doses da Coronavac na semana passada, totalizando 571,3 mil. 

"Há vacinas garantidas em estoque para a segunda dose de todos os grupos já contemplados na primeira fase. A Pasta aguarda nova remessa de doses para iniciar a imunização dos idosos entre 80 a 84 anos. A previsão é de que sejam entregues no próximo dia 27 de fevereiro de 2021", declarou.

Outras cidades pelo País registram, conforme fontes locais, estoques esgotados ou próximos do fim. É o caso do Rio Grande do Sul (Cachoerinha e Guaíba) e de Mato Grosso (Rondonópolis, Sinop e Barra do Garças). 

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Em São José dos Campos (SP), foi suspensa a vacinação antecipada para quem tem mais de 80 anos. A prefeitura cobrou celeridade do Estado que, por sua vez, criticou o município por não oferecer dados para dimensionar as remessas. 

Pressão e compras federais

A FNP divulgou nesta terça-feira, 16, texto em que afirma que “os sucessivos equívocos do governo federal” estão diretamente ligados à escassez e à falta de doses de vacinas em cidades de todo o País. O presidente da entidade, o prefeito Jonas Donizette, afirma que os prefeitos fizeram a sua parte. “Houve eficiência na aplicação da vacina, ou seja, aquilo que os prefeitos e as cidades se propuseram a fazer foi feito e bem feito e num ritmo bem acelerado. Agora, o problema da escassez quem tem de resolver é o Ministério da Saúde.” 

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A FNP cobra do Ministério da Saúde um cronograma com prazos e metas estipulados para a vacinação de cada grupo: por faixa etária, doentes crônicos, categorias de profissionais. Cronograma publicado no site do Ministério da Saúde nesta terça-feira, 16, indica que foram entregues à pasta 10,7 milhões de vacinas contra a covid até o momento. Dessas, são 8,7 milhões da Coronavac, do Instituto Butantan/Sinovac, e 2 milhões da Universidade de Oxford/AstraZeneca.

Por sua vez, o consórcio de veículos de imprensa informa que 5,5 milhões, ou 2,6% da população, já receberam a primeira dose. Esse contingente, em tese, seria suficiente para praticamente esgotar a quantidade de vacinas disponível, uma vez que é necessária a dose complementar.

Para a Coronavac, o intervalo para administração do reforço deve ser entre duas e quatro semanas. Já a segunda dose de Oxford pode ser aplicada até três meses depois da primeira. 

Cobrado sobre o assunto, o ministério prevê receber mais 9,3 milhões de Coronavac e 4 milhões da vacina de Oxford ainda este mês. A data exata, no entanto, não é informada. Já em março, a pasta diz que vai receber mais 18,1 milhões de doses do Butantan e 23,3 milhões de Oxford – sendo 2,65 milhões via Consórcio Covax, da Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Pressionada, a pasta também formalizou nesta terça-feira a compra de mais 54 milhões de doses da Coronavac. Segundo o ministério, nesta semana há, ainda, previsão de fechar contrato para 10 milhões de doses da Sputnik V, da Rússia, e 10 milhões da Covaxin, da Índia.

Os imunizantes com os quais o País conta

Consórcio Covax Facility - Entrega de 42,5 milhões de doses Março: 2,65 milhões de doses da AstraZeneca até Junho: 7,95 milhões de doses da AstraZeneca 

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***A expectativa é de que o Brasil receba ainda aproximadamente mais 32 milhões de vacinas contra Covid-19 produzidas por laboratórios de sua escolha até o fim deste ano.

Butantan – Coronavac/Sinovac - Entrega das 100 milhões de doses Janeiro: 8,7 milhões – entregues Fevereiro: 9,3 milhões Março: 18,1 milhões Abril: 15,93 milhões Maio: 6,03 milhões Junho: 6,03 milhões Julho: 13,55 milhões Agosto:13,55 milhões Setembro: 8,8 milhões

Fiocruz – Oxford/Astrazeneca - Entrega de 222,4 milhões de doses Janeiro: 2 milhões – já entregues Fevereiro: 4 milhões Março: 20,7 milhões Abril: 27,3 milhões Maio: 28,6 milhões Junho: 28,6 milhões Julho: 1,2 milhões  ****Segundo a Saúde, com a incorporação da tecnologia da produção do insumo, a Fiocruz deverá produzir e entregar mais 110 milhões de doses no segundo semestre de 2021. 

União Química – Sputnik V/Instituto Gamaleya - Entrega de 10 milhões de doses (importadas da Rússia) – previsão de assinatura de contrato esta semana.  Março: 800 mil entregues 15 dias após a assinatura do contrato. Abril: 2 milhões entregues 45 dias após a assinatura do contrato. Maio: 7,6 milhões entregues 60 dias após a assinatura do contrato.

***** A expectativa é de que, a partir da incorporação da tecnologia da produção dos insumos necessários para o imunizante, a União Química passe a produzir mais 8 milhões de doses por mês.

Precisa Medicamentos – Covaxin/Bharat Biotech - Entrega de 20 milhões de doses da Índia – previsão de assinar contrato esta semana Março: 8 milhões de doses divididas em dois lotes, entregues entre 20 e 30 dias após a assinatura do contrato. Abril: 8 milhões de doses, divididas em dois lotes, entre 45 e 60 dias após o contrato. Maio: 4 milhões entregues 70 dias após o contrato.

Perguntas e respostas - O País precisa de mais acordos

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O Brasil possui neste momento vacina para aplicar em toda a população? Não. Os acordos firmados até agora pelo Ministério da Saúde preveem a entrega de 354,5 milhões de doses (212 milhões da Fiocruz/Oxford, 100 milhões do Instituto Butantan e 42,5 milhões da Covax Facility), o que atenderia 177 milhões de pessoas, levando em consideração duas doses para a imunização. No entanto, essa entrega deve ser escalonada ao longo do ano (veja tabela abaixo). A previsão do ministério é de que a metade da população seja vacinada até junho e a totalidade da população seja imunizada até o fim do ano, o que implicaria em novos acordos para aquisição de mais vacinas. 

A vacinação está lenta? Mais de 5,2 milhões de pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a covid-19 até esta terça-feira. Especialistas têm apontado que o ritmo atual não supre a necessidade de imunização para deter a pandemia, já que com uma média de 200 mil doses aplicadas por dia (dado do início de fevereiro) seriam necessários quatro anos para vacinar toda a população. Campanhas anteriores, como a da gripe, já mostraram que a capacidade de vacinação simultânea do País é maior que a atual. Um fator a ser levado em consideração é a escassez no fornecimento das vacinas, o que pode obrigar cidades a interromper a aplicação das doses.

Com a chegada de mais vacinas, uma pessoa poderá receber doses de fabricantes diferentes? Não. O recomendado é que as duas doses sejam do mesmo tipo de vacina, o que garante segurança e eficácia da imunização. 

Quando o cronograma será ampliado? Ainda é incerto. Em São Paulo, o cronograma atual prevê início da aplicação para idosos acima de 80 anos, o que ocorrerá em 1.º de março. A data pode variar conforme o planejamento de cada Estado e cidade. / COLABORARAM SANDRA MANFRINI, JOSÉ MARIA TOMAZELA E RENATA MESQUITA

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