Células-tronco tumorais fazem câncer voltar a crescer

Três pesquisas trazem novas evidências sobre o que faz a doença ressurgir, mesmo depois de tratada

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Por Redação
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O ressurgimento de tumores tempos depois de eles terem sido combatidos por quimioterapia é um dilema que aflige há muito tempo médicos e pesquisadores que lidam com câncer. Três estudos divulgados nesta quarta-feira, 1, conseguiram mostrar a ação de células-tronco tumorais na retomada desse crescimento, oferecendo um novo algo para a luta contra a doença.

 

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Células-tronco são capazes de se diferenciar em outras células e normalmente são associadas a promessas de tratamento de, por exemplo, doenças degenerativas. São elas também que, nos tecidos e órgãos, originam novas células para repor as que morrem. De maneira semelhante, imaginava-se que células-tronco tumorais dariam origem às células que compõem o tumor.

 

Essa hipótese é investigada há anos e outros trabalhos científicos já haviam trazido evidência para linfoma e leucemia, que se desenvolvem no sangue, mas não para tumores sólidos.

 

A dificuldade é que as pesquisas eram feitas a partir do transplante de tumores humanos em animais. No caso do sistema sanguíneo, o transplante é capaz de recriar as mesmas condições do doador, mas nos tumores sólidos, muitas outras variáveis podem interferir no comportamento celular, o que torna mais difícil identificar as células-tronco tumorais e isolá-las como responsáveis pelo crescimento do câncer, o que sempre causou muita controvérsia sobre o resultado das pesquisas.

 

O salto dos três estudos atuais foi usar modelos animais projetados para desenvolver os tumores, eliminando eventuais interferências. Um dos estudos trabalhou com câncer de pele, o outro, de cérebro (ou glioblastoma) e o outro, com câncer de intestino. Com algumas pequenas diferenças nos procedimentos, os três foram capazes de demonstrar os tumores sendo originados de pequenas populações de células tumorais com características de células-tronco.

 

As duas primeiras pesquisas estão na revista Nature e a terceira, na Science, que antecipou a divulgação do artigo para coincidir com a publicação britânica. O anúncio conjunto reforça a importância dos achados.

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"Provamos a existência das células-tronco tumorais sem manipular os tumores ou as células", afirmou ao Estado Luis Parada, da Universidade do Texas, que trabalhou com o modelo de tumor cerebral.

 

Após submeter os animais à quimioterapia e ver o tumor praticamente desaparecer, ele e colegas conseguiram identificar as células-tronco sobreviventes e depois notaram que elas geravam novas células tumorais. "Nós então mostramos que se matarmos essas células, o tumor para de crescer", conta.

 

Eles conseguiram matar as células porque elas estavam com uma marca específica para reagir a uma droga, mas nas situações reais, isso não acontece. "Os estudos são bastante importantes, mas agora precisamos entender o que diferencia as células-tronco tumorais das tumorais normais para poder atacar também as primeiras", afirma Vilma Regina Martins, diretora de Pesquisa do Hospital A. C. Camargo.

 

"Este trabalho confirma que é a alta resistência das células-tronco cancerosas ao tratamento com certos quimioterápicos. Isso explicaria os eventos de recidivas tumorais após tratamentos e reforça a necessidade de se estudar mais a fundo as propriedades intrínsecas das células-tronco cancerosas para tentar desenvolver novos medicamentos que efetivamente destruam essa população de células responsáveis pela geração de tumores", complementa Keith Okamoto, da USP, que também trabalha com o tema no Brasil.

 

Tanto os pesquisadores estrangeiros quanto os brasileiros também suspeitam que as células-tronco tumorais podem ajudar no futuro a entender a ocorrência de metástases.

 

Para Okamoto, os estudos também alertam para a necessidade "de se averiguar possíveis efeitos adversos decorrentes de terapias com células-tronco para outras doenças, visto que uma das hipóteses para a origem das células-tronco cancerosas é a transformação maligna de células-tronco normais residentes em nossos tecidos", comenta.

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