A ciência vem sendo atacada e maltratada. Além da falta de investimento, o negacionismo científico e as pseudociências têm encontrado terreno fértil para prosperar nas redes sociais em um momento de tantas incertezas com relação ao futuro. A pandemia evidenciou a importância das instituições públicas de pesquisa e das universidades e amplificou as vozes dos cientistas, jornalistas e divulgadores da ciência, que têm atuado incansavelmente para combater as falácias e achismos que pululam de todos os lados.
Mesmo assim, observamos estarrecidos retrocessos preocupantes e, especialmente durante a pandemia, somos inundados diariamente com promessas de curas milagrosas, questionamento às vacinas e negação de fatos consolidados, como a importância do distanciamento e do uso de máscaras.
Neste momento, engajar-se no combate às pseudociências (métodos e práticas duvidosas que se disfarçam de ciência) e à desinformação (informação falsa ou enganosa que é espalhada deliberadamente) é um imperativo ético e humanitário. Mas como fazer isso?
Um dos caminhos é divulgar a ciência. Mostrar o árduo trabalho dos pesquisadores e a importância de investir na formação de pessoas e de infraestrutura continuamente, para podermos pelo menos sonhar com um país soberano e um desenvolvimento sustentável.
Promover o conhecimento e o encantamento pela ciência, mostrar a sua incrível beleza, como ela permeia a nossa vida e até onde conseguimos avançar graças a ela. E, ao mesmo tempo, alertar para o absurdo e o perigo das pseudociências e do negacionismo, que pode ir muito além do aparentemente inofensivo terraplanismo.
O principal, porém, é que nós, como sociedade, façamos todo o esforço para conhecer melhor os métodos científicos e estimular o pensamento crítico e para encarar a realidade, por mais dura que seja, demonstrando confiança nos resultados da ciência, que, como disse Edward O. Wilson (em Consilience: The Unity of Knowledge), “não é uma filosofia nem um sistema de crenças”. “É combinação de operações mentais que se tornou gradativamente o hábito das pessoas educadas, uma cultura de iluminações descoberta por uma feliz reviravolta da história, que levou ao modo mais efetivo de aprender sobre o mundo real já concebido.” * É PROFESSOR TITULAR DE FÍSICA E REITOR DA UNICAMP. AUTOR DO LIVRO A ILUSÃO DA LUA: IDEIAS PARA DECIFRAR O MUNDO POR MEIO DA CIÊNCIA E COMBATER O NEGACIONISMO