PUBLICIDADE

Cientistas criam enxerto de pele que combate hipertensão

Enxerto é feito com células modificadas geneticamente para produzir hormônio que combate a pressão alta

Por Carlos Orsi
Atualização:

Pesquisadores dos Estados Unidos e da Alemanha criaram um enxerto de pele capaz de reduzir a pressão arterial. Testado em camundongos, o enxerto foi capaz de reduzir a pressão sanguínea dos animais, e impediu que os roedores alimentados com uma dieta rica em sal desenvolvessem pressão alta. O trabalho é descrito no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

 

Caminhada reduz hipertensão em idosos, diz estudo

Mais de 1,5 bilhão de adultos terão hipertensão em 2025

 

O enxerto foi criado a partir de um material chamado Equivalente à Pele Humana, ou HSE, na sigla em inglês. O HSE é obtido a partir de uma matriz de colágeno, preenchida com células de tecido conjuntivo e recoberta com células de pele humana. Para o estudo divulgado na PNAS, as células foram modificadas com a introdução, por meio de vírus, de um gene extraído do músculo cardíaco, e que produz uma substância que naturalmente reduz a pressão, o peptídeo natriurético atrial, ou ANP.

 

Além de obter células de pele capazes de liberar ANP no organismo, os pesquisadores conseguiram estimular a produção da substância, induzindo a geração de quantidades maiores, por meio da aplicação, sobre o local do enxerto, de colchicina, um remédio normalmente usado no tratamento de gota. "A colchicina garante que um número maior de células produzirá o ANP", diz um dos autores do trabalho, Jonathan Vogel, do Departamento de Dermatologia do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos.

 

Vogel explica que, caso a técnica chegue a ser adotada em humanos, um creme de colchicina, aplicado sobre o enxerto, poderia ser utilizado para controlar a quantidade de ANP liberada pelas células. Segundo ele, essa seria a única medicação necessária para regular a pressão do paciente, eliminando o uso dos remédios atuais.

Publicidade

 

"Também não seria preciso usar drogas contra a rejeição do tecido enxertado", diz ele. "As células usadas para fazer o HSE seriam do próprio paciente, e os genes inseridos também são genes humanos comuns, o que não produziria uma resposta imunológica".

 

O enxerto foi testado in vitro e em camundongos, que além do pedaço de pele artificial receberam também implantes de monitores para acompanhar sua pressão arterial. Animais de controle, sem enxerto, também foram monitorados. Os que receberam a pele artificial tiveram menor pressão média e não sofreram aumento de pressão quando alimentados com uma dieta com excesso de sal. Exames revelaram a presença de ANP humano no sangue dos camundongos enxertados.

 

Vogel diz que é improvável que as células do enxerto venham a, por exemplo, se espalhar pelo restante da pele. "Isso só aconteceria se o novo gene trouxesse uma grande vantagem de crescimento às células, mas nossos estudos não indicam que o ANP dê esse tipo de vantagem", afirma. E, embora reconhecendo que o uso de vírus para modificar as células do enxerto pode abrir caminho para o desenvolvimento de tumores, o pesquisador considera que, no caso do enxerto de pele "a probabilidade é muito baixa".

 

"Uma vantagem da terapia gênica por meio da pele é que é relativamente fácil remover os enxertos se algum efeito colateral ocorrer", acrescenta.

 

O cientista diz que ainda são necessários mais estudos antes que se possam iniciar os testes em humanos. E, se esses testes forem bem-sucedidos, quanto os enxertos chegarão ao mercado? "Boa pergunta", diz Vogel. "Infelizmente, não tenho como responder".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.