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Com 6 mil anos, a mais antiga unidade de produção de vinho é descoberta

Arqueólogos usaram técnicas bioquímicas para identificar safra de vinho tinto seco na Armênia

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Por Redação
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WASHINGTON - Arqueólogos desenterraram em uma caverna no sul da Armênia a mais antiga unidade de produção de vinho já encontrada, com cerca de 6 mil anos. Foram usadas técnicas bioquímicas para identificar a safra de vinho tinto seco. A descoberta foi publicada na revista científica Journal of Archaeological Science. As escavações revelam uma sociedade complexa, em que as pessoas em luto provavam uma safra especial produzida em uma caverna no cemitério, relataram os pesquisadores nesta terça-feira, 11. O complexo de cavernas, conhecido como Areni-1, fica localizado no Pequeno Cáucaso, perto da fronteira da Armênia com o Irã. "Essa é a mais antiga instalação para fabricação de vinho já conhecida no mundo", disse Gregory Areshian, responsável pelas escavações e vice-diretor do Instituto de Arqueologia Cotsen, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA), que ajudou a conduzir o estudo - feito em conjunto por Estados Unidos, Irlanda e Armênia. A datação por carbono mostra uma videira desidratada perto de uma prensa de vinho e cultivada em torno de 4.000 a.C. Isso torna a instalação de vinho 1.000 anos mais velha que qualquer outra já descoberta. Na mesma caverna, a equipe encontrou no ano passado o sapato de couro mais antigo do mundo, com cerca de 5.500 anos. A prensa - uma bacia de argila rasa com cerca de 1 metro de diâmetro, rodeada por sementes de uva e vinhas secas - teria produzido alguns galões de suco e esmagado uvas, provavelmente trabalhando com a técnica de pisar descalço sobre as frutas, segundo Areshian. "Essa foi uma instalação relativamente pequena, relacionada a um ritual dentro da caverna. Para o consumo diário, os moradores teriam prensas muito maiores em estabelecimentos normais", avaliou Areshian, que também foi primeiro-ministro adjunto do primeiro governo da República da Armênia independente (pós-URSS), em 1991. Traços químicos indicam a existência de suco de uva e, dada a falta de refrigeração, o produto certamente teria sido fermentado e transformado em vinho, de acordo com Areshian. "Sabemos que nas aldeias vizinhas a antiga cultura do vinho ainda é muito tradicional", disse. Os bons vinhos tintos produzidos na região são Merlot e Cabernet Sauvignon. A expedição, financiada em parte pela National Geographic Society, descobriu também equipamentos de processamento de cobre. Areshian afirma que a equipe vai detalhar essas conclusões posteriormente. A equipe encontrou ainda vários túmulos próximo ao local e ferramentas obsidianas (mineral de vidro vulcânico da cor preta), indicando que algum comércio ocorria no local. A fonte mais próxima de obsidiana fica de 56 a 72 quilômetros de distância, o equivalente a uma caminhada de três dias, explicou Areshian. "Podemos dizer que essa era uma sociedade bastante complexa, formada por várias comunidades", completou o pesquisador.

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