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Com chuva e medo de coronavírus, ano-novo chinês na Liberdade tem baixo movimento

Comerciantes reclamam de queda no número de clientes durante celebrações de evento tradicional na cultura chinesa

Por Felipe Resk
Atualização:

SÃO PAULO -  Em meio às medidas de precaução contra o coronavírus e às fortes chuvas que interromperam a festa antes da hora, o ano-novo chinês 2020 atraiu menos pessoas para a Praça da Liberdade, no centro de São Paulo, neste domingo, 2. Comerciantes lamentaram o movimento fraco e as vendas aquém da expectativa. Já quem foi curtir o evento aprovou a programação que, embora mais enxuta neste ano, trouxe desfiles, comidas típicas, apresentações artísticas e até aulas de mandarim.

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Organizadores da festa afirmam que já era esperado público menor nesta edição, uma vez que as atividades voltadas para grupos considerados de maior risco, como idosos e crianças - que costumam atrair muita gente - foram canceladas por medida de prevenção ainda que o epicentro do surto de coronavírus seja do outro lado do mundo. Membros da comunidade chinesa em São Paulo que viajaram recentemente ao país também foram orientados a fazer "quarentena voluntária" e não comparecer no ano-novo. No Brasil, não há caso confirmado da doença.

"Avaliamos que a festa foi muito positiva. Conseguimos realizar o evento de forma muito organizada e não houve nenhum tumulto", diz Daniel Oda, vice-presidente da Associação Amizade Brasil-China, responsável pela organização. "Fizemos todo o trabalho para que o público brasileiro ficasse mais confortável para participar, ainda mais porque no momento ainda há muita desinformação e fake news sobre o tema."

Celebração do ano-novo chinês no bairro da Liberdade, em São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

Não bastasse o receio por causa da doença, fortes chuvas também provocaram transtornos e alagamentos na Liberdade durante o fim de semana. Previstas para ocorrer das 10 horas às 20 horas, as atrações foram encerradas mais cedo. Na análise da organização, o mau tempo também impactou na presença do público.

Um palco, com telão e caixas de som potentes, foi montado na praça para celebrar a chegada do "Ano do Rato". Por volta das 15 horas deste domingo, menos de 300 pessoas assitiam a um guitarrista cantar rock hardcore em chinês. Os shows eram intercalados com exibições de lutas marciais, dicas de feng shui e atividades que distribuíam brindes a quem conseguisse falar palavras como "São Paulo", "dormir" e "obrigado" em mandarim.

A poucos metros do palco, logo na saída da estação Liberdade do Metrô, uma banca de jornal exibia uma série de revistas cujas capas retratavam o surto na China. "O vírus do medo", manchetou a Veja. "O novo risco da China", escreveu a Exame. Na Istoé, estava estampado: "Coronavírus: há razões para tanto medo?".

Frequentadora do bairro, Eliane Euzébio afirma ter ponderado se deveria deixar de ir à festa, mas concluiu não ter razões para ficar em casa. "Em São Paulo nós só temos poucos casos suspeitos, que nem sequer estão confirmados se é coronavírus", diz. Ela aprovou o evento: "Gostei bastante, há muitas atividades culturais."

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Presente na festa, o economista Rodrigo Oliveira, que se declara "admirador da cultura chinesa", esperava encontrar mais pessoas no local e discorda de quem resolveu evitar o evento por causa do vírus. "É uma questão de saúde pública na China, e não no Brasil", afirma. "Acho que existe certo preconceito: os chineses que moram no Brasil estão em situação exatamente igual à nossa. Imagina se os brasileiros que moram lá fora ficassem isolados por causa de uma epidemia que acontecesse aqui."

Entre os frequentadores, o clime era de tranquilidade. Em cerca de 2 horas, o Estado só flagrou um jovem usando máscara. Ele chegou à praça, posou para uma selfie e saiu rapidamente.

Já para os comerciantes o tom foi de queixa. Ao contrário de edições anteriores, poucas eram as barracas com filas - ainda assim, pequenas. Na maioria, se viam atendentes ociosos.

"O movimento está péssimo, acho que só consegui vender 40% do que esperava", diz a comerciante Roberta Tarone. Segundo afirma, se não tivesse investido para participar do evento antes do surto de coronavírus ser noticiado, teria ficado em casa. "Fiquei com medo, mas estou me precavendo. Só não vim de máscara para o pessoal não achar que eu estou doente."

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Ela levou um galão de 20 litros de água só para lavar as mãos na barraca. A toda hora, também recorre ao álcool em gel como prevenção. "Eu acredito que há relação entre o coronavírus e o baixo público. Muita gente preferiu evitar."

Pela quarta vez vendendo joelho de porco no ano-novo chinês, a comerciante Michelle Bagagio diz que a edição deste ano foi a que atraiu menor interesse. "O público está pelo menos 45% menor", afirma. Segundo ela, no sábado, 1º, um grupo de jovens teria causado constrangimento entre os presentes ao gritar "coronavírus" no meio da Praça da Liberdade. "Já estava difícil e o pessoal fez isso", diz. A organização não confirma o episódio.

"No ano passado, tinha muita fila, não dava nem para andar direito", relata a vendedora que, naquela hora, não atendia nenhum cliente. "Tomara que no ano que vem não tenha nenhum vírus novo no ar."

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