Com esquema de eleição, Botucatu quer fazer vacinação em massa em só um dia

Imunização em larga escala será usada para avaliar eficácia da vacina Oxford/AstraZeneca e a efetividade contra novas variantes. Projeto foi idealizado pela Unesp

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - A vacinação em massa da população para avaliar a eficácia da vacina Oxford/AstraZeneca contra a covid-19 será feita em apenas um dia, como se fosse uma eleição, em Botucatu, interior de São Paulo. A prefeitura assinou acordo de cooperação com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para que os cartórios eleitorais da cidade auxiliem na organização do processo. O projeto, idealizado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), pretende avaliar o impacto da imunização em massa também nas populações do entorno de Botucatu e a efetividade da vacina contra variantes do coronavírus.

Nesta quarta-feira, 5, cerca de 1,2 mil mesários e servidores que participaram das eleições de 2020 no município se apresentaram como voluntários para ajudar na vacinação. A data ainda não está definida e depende da liberação das vacinas fabricadas pela Fiocruz pelo Ministério da Saúde, que apoia o estudo. A previsão é de que a vacinação aconteça em maio. O plano é vacinar cerca de 100 mil moradores maiores de 18 anos.

A previsãoé vacinar no mês de maio, cerca de 100 mil moradores maiores de 18 anos com a vacina AstraZeneca. Foto: Dominic Lipinski/EFE

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Conforme a prefeitura, os 45 locais de votação serão transformados em postos de vacinação. Os voluntários vão atuar nas seções eleitorais em que já trabalharam no último pleito, preparando o cadastro dos eleitores que serão chamados para, em vez de votar, tomar a vacina. Eles terão a atribuição de fazer a triagem da documentação apresentada e liberar a pessoa para a vacinação. Por se tratar de serviço voluntário, não haverá concessão do abono, como acontece com quem é convocado para trabalhar nas eleições, mas os voluntários serão vacinados antes dos demais.

Ainda segundo a prefeitura, a estratégia no dia da vacinação será a mesma de uma eleição. Cada cidadão se desloca para sua sessão eleitoral, passa pela triagem apresentando documentos, como título de eleitor e comprovante de residência. Se tudo estiver em ordem, ele recebe um passaporte para ter acesso à cabine onde receberá o imunizante e o comprovante da vacinação.

O publicitário Ataíde de Oliveira, que atuou como técnico de urna na eleição passada, se apresentou como voluntário. “Como já tenho experiência, achei importante colaborar para um estudo científico que pode ajudar muita gente”, disse.

Chefe de cartório eleitoral, Igor de Oliveira disse ter ficado surpreso com o número de voluntários que se apresentaram, após convocação feita pela Justiça Eleitoral. “Esperávamos cerca de 800, mas tivemos 400 a mais, o que nos dá a possibilidade de ter uma reserva, caso alguém não possa comparecer no dia da vacinação.” Para evitar que pessoas de outras cidades tenham acesso à vacina do projeto, os pedidos de transferência de títulos eleitorais para Botucatu ficarão suspensos até a vacinação.

Conforme a prefeitura, se a pessoa não for eleitora na cidade, mas reside em Botucatu, deve apresentar comprovante válido de domicílio. A vacinação se restringe a pessoas maiores de idade, mas exclui os idosos que já foram vacinados. O município tem 148 mil eleitores e perto de 100 mil devem ser vacinados. O projeto, idealizado pela Unesp, que mantém o Hospital das Clínicas e a Faculdade de Medicina de Botucatu, e pela prefeitura, tem apoio do ministério.

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O estudo foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e conta também com o apoio da Universidade de Oxford e da Fundação Gates. Botucatu sedia o Hospital das Clínicas, grande hospital-escola da Faculdade de Medicina de Botucatu. O objetivo é avaliar a eficiência da vacina no campo real, com a imunização em massa, e sua efetividade contra as variantes do vírus.

Também será analisado se a vacinação em massa da população de Botucatu traz algum efeito nas populações de cidades vizinhas. O estudo terá duração de oito meses, que inclui a aplicação das duas doses e o acompanhamento da população imunizada.

Estudo semelhante está sendo conduzido em Serrana, também no interior paulista. Lá, foi feita vacinação em massa do imunizante Coronavac, produzido pelo Instituto Butantan. O projeto começou em 17 de fevereiro e foi concluída no dia 11 de abril. Uma das respostas que os pesquisadores esperam obter já nas próximas semanas é se o grupo imunizado primeiro teve redução de casos antes dos outros. O dado pode ajudar a definir qual a melhor estratégia para imunizar a população quando não há vacina para todos.