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Com triplo de casos de coronavírus, Goiânia libera comércio geral

As mortes passaram de 199 para 280, quase o dobro; leitos de UTI têm 96% de ocupação

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - O número de casos do novo coronavírus praticamente triplicou em um mês, chegando a 10.442 nesta quarta-feira, 15, em Goiânia (GO). Foram 348 casos novos em 24 horas. No dia 15 de junho, eram 3.542 casos. As mortes passaram de 199 para 280, quase o dobro. Os leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) têm 96% de ocupação. Mesmo assim, a prefeitura da capital goiana autorizou a reabertura quase total do comércio a partir desta terça-feira, 14. Especialista diz que o ano eleitoral aumenta a pressão sobre os governantes, mas a atitude pode agravar a transmissão. O governo municipal alega que apenas regulamentou o que já estava aberto na prática.

Comércio reabre sem restrições em Goiânia Foto: Prefeitura de Goiânia

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Decreto assinado na segunda-feira, 13, pelo prefeito Iris Rezende (MDB) liberou o funcionamento do comércio de rua, camelódromos e centros comerciais, inclusive da Região do 44, das 9 às 17 horas. Já os shopping centers ficam abertos do meio-dia às 20 horas. Bares, restaurantes e similares estão liberados para atender até a meia-noite. Padarias, supermercados, escritórios, concessionárias e salões de beleza abrem às 6 horas, mas sem restrição para fechamento.

O primeiro dia foi marcado por aglomerações, apesar de parte dos comerciantes não ter aderido. Conforme a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Goiás (Fecomércio-GO), a maioria dos comerciantes reiniciou as atividades com cuidados redobrados. “Alguns empresários decidiram ainda não abrir seus comércios, academias e bares para avaliar o que precisará investir e se há capital”, disse o presidente da federação, Marcelo Baiocchi.

Dono de um restaurante, Hildeberto Monteiro abriu com um terço dos funcionários. “Esse primeiro dia foi abaixo da expectativa, mas vamos sentir como serão os próximos. Se melhorar, nós chamamos o restante do pessoal”, afirmou. Segundo ele, os clientes observaram o distanciamento entre as mesas, usaram máscara e passaram pela checagem da temperatura corporal na entrada do estabelecimento.

No comércio de rua, o movimento era grande na manhã desta quarta. Na Região do 44, o órgão municipal de trânsito bloqueou os acessos a estacionamentos para reduzir a quantidade de carros, mas as ruas e calçadas ficaram apinhadas de consumidores. Muitos levavam sacolas de compras. Era raro, no entanto, encontrar pessoas sem máscara. A multa é de R$ 600 para quem for flagrado sem a proteção. Ao menos dois shopping centers reabriram com promoções.

 Já os hospitais voltaram a enfrentar um dia de muito movimento. De acordo com a Secretaria da Saúde, dos 155 leitos de UTI, 149 estavam ocupados, índice de 96%. Apenas seis leitos não tinham doentes. Essa lotação acontece há mais de uma semana. Em todo o Estado, os casos positivos da covid-19 somam 39.072. Já são 927 mortes confirmadas, 17 apenas nesta quarta-feira. Há ainda 93.997 casos e 55 óbitos em investigação.

Para o epidemiologista Carlos Magno Fortaleza, o que acontece em Goiânia e em outras capitais do Centro-Oeste tem semelhança com o cenário atual do interior mais profundo de São Paulo. “Quando os governos adotaram medidas mais drásticas contra o vírus que já se espalhava nas capitais, o número de casos era muito baixo nessas regiões mais interioranas. Para elas, essas medidas vieram cedo demais. No momento em que a doença chegou a esses lugares, a população estava exaurida das medidas de distanciamento.”

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No início da pandemia, lembra, havia dificuldade em tomar medidas diferentes para o Interior e para a Capital. “Agora vivemos o efeito colateral dessa padronização.” O atual momento, segundo o especialista, é particularmente nefasto para os centros urbanos do interior, pois já acontece redução da doença nas grandes capitais, com a consequente flexibilização das atividades. “Em ano eleitoral, a pressão sobre os governantes é maior e já tem prefeito que prefere ‘chutar o pau da barraca’, abrindo tudo, morra quem morrer. Isso é muito triste.”

'Não reabriu' , diz secretária

A secretária da Saúde de Goiânia, Fátima Mrué, disse que o decreto do prefeito não reabriu, apenas impôs regras ao que já acontecia na prática. “O comércio todo já estava funcionando e descumprindo os decretos anteriores. Em meados de março, o governo estadual fez praticamente um lockdown quando Goiânia tinha dez casos. A população se assustou e se recolheu, mas Goiânia é uma cidade em que a atividade principal é o comércio. As pessoas foram saindo, o isolamento social ficou em 34%. O fato é que as pessoas já estavam nas ruas.”

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Pelo último decreto estadual do lockdown parcial, segundo a titular da pasta, Goiânia teria duas semanas de reabertura, a partir da última segunda-feira. “Na prática, nas duas semanas anteriores, o fechamento não existiu, então o prefeito optou por fazer um decreto com protocolos que temos condições de fiscalizar.” 

De acordo com a secretária, nesta quarta, as equipes estiveram nos shopping centers para verificar se as regras foram cumpridas. Os pontos urbanos de mais aglomeração e os bares serão fiscalizados com apoio da Guarda Civil Municipal. Sobre a lotação dos hospitais, ela disse que serão abertos cinco leitos esta semana em hospital municipal e 130 nos próximos 15 dias.

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