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Com UTIs lotadas por causa do coronavírus, SC libera praias, ocupação máxima de hotéis e eventos

A liberação ocorre no momento mais crítico da pandemia do novo coronavírus no Estado e especialistas já preveem o colapso no sistema de saúde

Por Fábio Bispo
Atualização:

FLORIANÓPOLIS - O governador catarinense Carlos Moisés (PSL) deve oficializar nesta sexta-feira, 18, o afrouxamento das medidas de isolamento em diversos setores que sofriam restrições desde março. Além de liberar ocupação total em hotéis e pousadas a partir de 21 de dezembro, independente da matriz de risco, o novo decreto também vai autorizar “eventos sociais”, acesso às praias e o funcionamento de parques aquáticos, cinemas, teatros e museus. O governo não divulgou detalhes do decreto. A liberação ocorre no momento mais crítico da pandemia do novo coronavírus no Estado e especialistas já preveem o colapso no sistema de saúde.

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Segundo assessoria da Casa Civil, ainda há discussão sobre os “eventos sociais” e se a medida vai liberar feiras e convenções, ou valerá apenas para casamentos e festas particulares. Os parques aquáticos, nas regiões com nível gravíssimo, poderão ter até 50% de ocupação. Já cinemas e teatros poderão ter 30% de público. Nas praias, a limitação deverá ser a distância entre os guarda-sóis.

Santa Catarina está com 90% dos leitos de UTIs adultos ocupados. Nesta quinta-feira, 17, dos 56 hospitais com leitos públicos, em 33 praticamente não havia mais vagas. Em 11 hospitais, a lotação está em 100%. No Estado, a pandemia já infectou mais de 440 mil pessoas e matou 4.517 pessoas.

Retomada. Calçadão da Rua Felipe Schmidt volta aos poucos à rotina, mas sem descuidos Foto: Cristiano Andujar/Estadão

O diretor-executivo da Associação dos Hospitais de Santa Catarina (Ahesc), Adriano Ribeiro, diz que as previsões apontam para colapso completo no sistema em até 30 dias. “Se continuarmos nessa situação, em um mês teremos gente morrendo na porta dos hospitais porque não vamos ter como atender. No interior, já tem gente nos prontos-socorros porque não tem leito”, afirma.

Segundo Ribeiro, o maior problema no momento é a falta de pessoal. “Não adianta o governo anunciar mais leitos de UTIs se não tivermos profissionais para atender. Quem está na linha de frente já está exausto”.

Na quarta-feira, 16, a Justiça Federal em Santa Catarina, atendendo pedido do MPF, determinou à União a contratação temporária de 24 profissionais para o atendimento exclusivo de pacientes com covid-19 internados no Hospital Regional do Oeste (HRO), em Chapecó. A liminar dá o prazo máximo de 10 dias úteis para a contratação dos profissionais.

A juíza Heloísa Menegotto Pozenato, da 2ª Vara Federal de Chapecó, determinou ainda que União, Estado e município de Chapecó deliberem "medidas adicionais” de prevenção à propagação do vírus, sob risco de multa.

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"Sem a adoção de tais medidas, o contágio de grande parcela da população ocorre simultaneamente, e o sistema de saúde não é capaz de socorrer um quantitativo tão grande de pessoas. A necessidade de tais medidas constitui opinião unânime da comunidade científica", diz a magistrada em seu despacho. 

Médico da linha de frente relata ‘exaustão’

O médico clínico Plínio de Oliveira Filho, que atua em hospitais no oeste catarinense, relata que a superlotação tem obrigado pacientes a serem transferidos para unidades a mais de 600 quilômetros e que se o ritmo de internações continuar subindo, será preciso buscar leitos fora do Estado.

“Nas duas últimas semanas, a ocupação tem sido bem intensa e foi preciso fazer transferências. Um paciente chegou a ser levado de São Miguel do Oeste para Florianópolis (657 km)”, disse. “Hoje, só se tem leito de duas formas, quando o paciente tem alta ou quando morre”, declarou.

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O médico ainda relata que além dos afastamentos de profissionais que foram infectados, os médicos que permanecem na linha de frente começam a apresentar fadiga e exaustão. “Estamos há muito tempo em ritmo muito intenso de trabalho. Os médicos estão adoecendo de exaustão mesmo, colegas meus relatam esgotamento físico e mental”, emendou o profissional.

Das 16 regiões de Santa Catarina, 14 estão em nível de alerta gravíssimo, incluindo a região da Grande Florianópolis, e duas em nível de alerta grave.

Em Florianópolis, um dos principais destinos em Santa Catarina no verão, a população praticamente triplica na temporada, quando passa de 450 mil para 1,5 milhão de pessoas.

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Setor hoteleiro defende medidas

O presidente da Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de Santa Catarina, Estanislau Emílio Bresolin, defende que os quartos de hotéis não podem ser encarados como local de contaminação.

“O setor está com restrição desde o início da pandemia. Os quartos são áreas de isolamento, não de contaminação. Para as áreas sociais, os protocolos serão seguidos, com 50% de ocupação em restaurantes,

Segundo Bresolin, o setor está confiante de que o turista vai comparecer na temporada, já que há expectativa de queda nas viagens internacionais, e que se não houver as liberações o público buscará alternativas clandestinas.

“Em Florianópolis, tem prédios inteiros de particulares que alugam por aplicativo, não são constituídos como hotéis ou pousadas, e não são fiscalizados”, argumenta.

Questionado se o estímulo ao turismo com o novo pacote de medidas não poderá acarretar em lotação nos hospitais, Bresolin respondeu: “Há aferição de temperatura no aeroporto e hotéis, quem estiver contaminado não vai entrar. E quem se contaminar não vai usar hospital aqui, vai usar lá na cidade dele”. 

Mortes fora dos hospitais aumentou

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O número de mortes que não tiveram registro de internação voltou a subir nos meses de novembro e dezembro, justamente quando a doença recrudesceu em Santa Catarina. O mesmo fenômeno tinha ocorrido em julho, quando o Estado viveu o primeiro pico da pandemia. As informações são da tabela de registros diários do governo do Estado.

Em novembro, foram registrados 35 óbitos de pacientes com covid que não passaram por internação. Em dezembro, até o dia 16, já são 34 óbitos. Ao total, 187 pessoas morreram em Santa Catarina com covid-19 sem passarem pelos hospitais. A maioria, 117, tinha comorbidades. Os problemas cardíacos são os mais frequentes entre esses casos. O maior pico de mortes fora dos hospitais ocorreu em julho, quando 42 pessoas foram a óbito.

A Secretaria de Saúde informou que nenhum paciente no Estado morreu por falta de atendimento, mas não soube explicar o aumento de mortes em casa.

O órgão ainda informou que já ampliou em 100% o número de leitos de UTI desde o início da pandemia e reforçou que novos leitos para pacientes confirmados ou com suspeita de covid-19 serão reativados.

Na quarta-feira, 16, a Assembleia Legislativa (Alesc) aprovou Medida Provisória que autoriza o governo estadual a custear as diárias dos leitos de UTIs que ainda não foram habilitados pelo Ministério da Saúde.

“Com isso, a capacidade de atendimento aos pacientes nas redes públicas estadual e municipal será ampliada em até 170 leitos. A previsão de investimento do Governo do Estado com a habilitação das UTIs é superior a R$ 30 milhões”, informou o órgão.

Em outubro, quando o Estado teve uma queda de casos, mais de 200 leitos foram desabilitados em todas as regiões e os pedidos de reabilitação junto ao Ministério da Saúde não acompanham a evolução da doença.

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O governo não respondeu sobre quais medidas serão tomadas para evitar aumento da contaminação durante a temporada de verão.

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