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Com vacinação em massa, Serrana (SP) registra aglomerações e Butantan faz alerta

Neste domingo, 11, a cidade tinha aglomerações e muita gente circulando sem máscara, inclusive na Praça da Matriz, à frente do local onde se realizou a solenidade de encerramento da vacinação. Diretor criticou descuidos

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

No dia em que a cidade de Serrana, no interior de São Paulo, completou a vacinação prevista no projeto do Instituto Butantan, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a prefeitura, a cidade já parecia ter voltado ao período anterior à pandemia. Neste domingo, 11, a cidade tinha aglomerações e muita gente circulando sem máscara, inclusive na Praça da Matriz, à frente do local onde se realizou a solenidade de encerramento da vacinação.

Em bairros como o Jardim Amélia 2, pessoas se juntavam em mesas nas calçadas para beber cerveja, todos sem a proteção facial. “Estou pertinho de casa”, justificou a doméstica Maria Aparecida Soares, de 46 anos, que caminhava sem máscara. “Recebi a segunda dose dia 4, mas sei que ainda preciso manter os cuidados. Em casa, minha irmã teve covid.” 

Na região metropolitana de Ribeirão Preto, Serrana foi escolhida para um estudo de vacinação em massa. Foto: Léo Souza/Estadão

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A pizzaiola Maria Virginia de Barros, de 55 anos, e seu filho de 19 anos não foram vacinados. “Perdemos o dia da nossa rua e, quando fomos, não pudemos receber, mas não sou contra a vacina. Quando chegar a minha vez pela idade, vou ao posto de saúde.” Ela estava sem máscara.

O diretor de ensaios clínicos do Instituto Butantan, Ricardo Palácios, disse que esses descuidos podem prejudicar o projeto. “As pessoas se sentem mais propensas a abandonar a prevenção mesmo com uma única dose, tipo de situação que pode afetar os resultados. Sabemos que as pessoas estão cansadas, mas a gente espera que, até a avaliação dos resultados, as pessoas não relaxem as medidas.” 

O prefeito Léo Capitelli (MDB) disse que a fiscalização será rigorosa. “O projeto S contaminou a cidade de maneira positiva em um momento delicado, mas as medidas de prevenção não serão descuidadas. Esse projeto nos traz a esperança de voltar à normalidade o quanto antes. A cidade ganhou uma nova marca, como a cidade da ciência, dos estudos clínicos, e precisa manter essa conquista. Já estamos tratando da retomada com o governo do Estado, mas de forma planejada”, afirmou.

Aplicação foi encerrada neste domingo

A aplicação da segunda dose da vacina Coronavac foi encerrada neste domingo, 11, em Serrana, com um alcance de 95,7% da população apta a receber o imunizante. A boa cobertura foi comemorada pelo diretor Ricardo Palácios durante a solenidade que marcou o encerramento dessa fase do chamado Projeto S

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“Temos uma cobertura vacinal que vai nos permitir uma avaliação muito fidedigna do efeito da vacinação na comunidade”, disse. Segundo ele, ainda é preciso esperar até o início de maio para conhecer os resultados.

Um dia após ter completado 72 anos de emancipação política, a cidade de 45.664 habitantes, na região de Ribeirão Preto, torna-se a primeira do Brasil com praticamente toda a população com mais de 18 anos vacinada com as duas doses.

Das 27.772 pessoas que tiveram a dose inicial, 26.577 tomaram a segunda, índice de 97,7%. “A vacina só apresentará eficácia nas pessoas que tomaram as duas doses. É um desafio que foi atingido conseguir que a quase totalidade dos que tiveram a primeira dose tomassem a segunda”, disse Palácios. Entre as pessoas que não receberam a segunda dose, estão mulheres que tiveram gravidez após a primeira e pessoas que se mudaram da cidade.

Segundo ele, os resultados não serão imediatos. “Só vamos ter respostas definitivas depois que todos os grupos tiverem uma grande quantidade de anticorpos, na primeira semana de maio. Isso não quer dizer que não vamos ter resultados antes. O primeiro foi a aceitabilidade da vacina. Isso se conseguiu com diálogo, com um trabalho de convencimento para que a cidade se apropriasse de um projeto de pesquisa. Serrana já é um exemplo para o Brasil e para outros lugares do mundo. Que o Brasil aprenda essa lição e que as autoridades fiquem harmonizadas quando se trata de cuidar da saúde.”

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Ele revelou que houve temor de que acontecesse maior resistência a tomar a vacina, devido à falta de exemplo na esfera federal. “Não dá para fazer de forma vertical, é preciso ter adesão da comunidade.” 

Durante a aplicação das 55 mil doses, foram registrados 46 eventos adversos, entre eles a morte de seis pessoas, mas, segundo Palácios, os óbitos não foram relacionados à vacinação. Cinco pessoas tinham tomado uma dose e a outra, as duas doses, quando já estaria infectada.

No mesmo período, houve 14 óbitos entre os não vacinados, o que, segundo ele, já pode indicar que a vacina protege. “Por mais que a vacina atinja uma eficácia muito alta, ela não é absoluta. Nesse caso, os números indicam a possível maior eficácia da vacina.” 

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Ele destacou que o estudo vai prosseguir, sobretudo para avaliar a resposta da imunização à variante P.1, também chamada de variante brasileira. “Vamos confirmar se a vacina é mesmo eficaz contra a P.1. Fizemos uma avaliação rigorosa de pessoas que tomaram a vacina antes de aparecerem as variantes e já confirmamos que a vacina resiste de forma igual às variantes. Isso nos permite supor que a eficácia da vacina não será afetada pela variante P.1 e P.2”, disse.

Ele lembrou que os moradores vacinados devem procurar os serviços de atendimento assim que tiverem alguns sintomas. “É possível, sim, ter casos de covid após a vacinação, por isso é importante continuar a prevenção. Estaremos acompanhando, não só os vacinados, mas a comunidade toda. Vamos avaliar o que acontece com aqueles que não tomaram a vacina, através do sistema do que chamamos de vigilância aprimorada. Já estamos produzindo relatórios sobre casos e óbitos desde o início do projeto e isso se estenderá até fevereiro de 2022. Espera-se que exista uma proteção parcial das pessoas que não tomaram a vacina, por conta de estarem entre os que foram vacinados.”

Assim que forem concluídos, os estudos serão colocados à disposição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da comunidade científica. “A partir desse projeto, estamos pensando em outros estudos conjuntos com a população de Serrana, inclusive já temos instituições interessadas em novos estudos aqui”, afirmou o pesquisador.

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