Com visitas suspensas, asilos no interior de SP somam 20 idosos mortos por coronavírus

Em Itu, a prefeitura decretou intervenção em uma clínica após três óbitos

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA - Ao menos 20 idosos já morreram em asilos do interior de São Paulo por covid-19. Pelo menos dois óbitos suspeitos estão em investigação. Há também pacientes em isolamento ou internados com a doença. O Estado possui 589 centros de acolhimento de idosos públicos ou conveniados, que reúnem 19,2 mil pessoas com 60 anos ou mais. Essa faixa etária é considerada grupo de risco para o coronavírus. Desde o início da pandemia, as unidades suspenderam as visitas e foram alertadas para redobrar cuidados para evitar a infecção. Vários abrigos já registraram mortes e há casos de famílias que retiraram seus idosos internados e levaram para casa.

Em Itu, a prefeitura decretou intervenção em uma clínica de idosos, após a morte do terceiro residente com sintomas de covid-19. Dois dos casos, uma mulher de 67 anos que morreu na noite de domingo, 3, e um homem de 72 anos que morreu na segunda, 4, tiveram resultado positivo para covid-19. Na manhã desta terça, 6, uma idosa de 93 anos morreu com sintomas, mas o resultado do exame ainda não saiu. Outros quatro - dois funcionários e dois idosos - estão com o vírus. Os idosos estão internados, um deles em UTI. Há ainda suspeita da doença em outros dois funcionários e 14 internos. Eles ainda passavam por avaliação médica na tarde de terça.

Idosos no jardim do Abrigo Bezerra de Menezes, na Penha, zona leste de São Paulo Foto: Werther Santana/ Estadão

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A prefeitura enviou equipes das vigilâncias sanitária e epidemiológica para assumir os serviços de saúde na unidade. O município determinou que as famílias dos idosos assistidos pela clínica particular fossem comunicadas sobre os casos e as providências tomadas. A prefeitura informou ainda que todas as clínicas de longa permanência de Itu foram vistoriadas desde o início da pandemia. As identidades das vítimas e o endereço do estabelecimento foram preservados "por questões de sigilo médico", segundo a prefeitura.

No Lar Betel, em Piracicaba, onde foram registradas oito mortes de idosos, ainda há quatro idosos internados e sete em isolamento no local. Dos 25 funcionários que pegaram o vírus, 14 estão afastados. A administração iniciou na quarta o que chama de 'isolamento inverso'. Os residentes sem sintomas estão sendo retirados e levados para outra unidade. "Estamos cuidando de preservar a saúde daqueles que estão com a saúde preservada para reduzir o risco de contaminação pelo coronavírus", disse o presidente Luiz Adalberto dos Santos. Houve três casos de famílias que retiraram os idosos e levaram para casa. "É um direito das famílias, desde que os residentes estejam em condições de saúde estável. Se estiver positivo para a covid-19, não pode sair para não levar o vírus para fora."

Ainda em Piracicaba, duas idosas internas do Residencial Bem Viver morreram após contrair o vírus. Elas tinham 80 e 85 anos, respectivamente, e chegaram a ser internadas em hospitais da cidade, mas não se recuperaram. Segundo a administração do abrigo, as duas pacientes tinham comorbidades. Outros quatro idosos que tiveram a covid-19 permanecem internados, mas estão se recuperando, segundo a direção. Dois residentes que não tinham o vírus já foram levados para casa por familiares.

A filha de uma das idosas que morreu, Gisele Rossin, disse que a família não foi avisada de que havia casos de coronavírus entre os residentes. Segundo ela, o asilo recebeu um idoso da capital que apresentou sintomas da doença e morreu, no dia 16 de abril, em um hospital da cidade. "Só soubemos desse caso depois que minha mãe também ficou doente", relatou. Cecília Maria Biasin Rossin, de 60 anos, mãe de Gisele, foi internada no dia 27 de abril no Hospital Regional de Piracicaba e faleceu no domingo (4). O Bem Viver informou que o idoso não tinha sintomas quando passou pelo abrigo, onde não ficou como interno. O Ministério Público abriu procedimento para apurar as mortes.

Em Hortolândia, seis idosos que estavam no abrigo Lar Feliz 1 morreram pelo coronavírus. Os óbitos, registrados entre 13 de abril e 4 de maio, atingiram idosos entre 76 e 92 anos. Outros 13 residentes testaram positivo, mas estão em recuperação. Em Campinas, um asilo clandestino foi interditado pela prefeitura após um idoso morrer com a covid, em 24 de abril. No local, outros 19 idosos viviam em condições insalubres e foram removidos pela assistência social. Eles passaram por exames que deram negativo para a doença.

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Um idoso residente no Lar Vicentino, em Penápolis, morreu no domingo, 3, após testar positivo para coronavírus. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, ele foi internado em 27 de abril, na UTI da Santa Casa, mas não se recuperou. Outro idoso do asilo apresentou sintomas da doença e está internado. O Lar Vicentino informou que tomou todas as medidas para proteger os outros 54 idosos e 42 colaboradores. A pasta da Saúde de Nova Odessa confirmou a morte de um idoso de 76 anos, morador de uma casa de repouso do município. O paciente foi atendido na unidade respiratória de um posto de saúde, mas não resistiu. A Vigilância Epidemiológica colheu material para exame e aguarda o resultado. O coronavírus atingiu também a Casa de Velhinhos de Serrana, no interior. Cinco idosos residentes e seis funcionários foram internados com a doença, mas não houve óbito.

Repasse de R$ 3 milhões

Na quarta-feira, 6, o governador João Doria (PSDB) anunciou o repasse de R$ 3 milhões para os centros de acolhimento de idosos. A verba se destina ao custeio de despesas com medidas de proteção contra o vírus. A ajuda financeira será usada na compra de equipamentos de proteção individual para os idosos e técnicos dos serviços, materiais de higiene e testes rápidos de covid-19. No caso de suspeita ou diagnóstico positivo, os serviços de acolhimento devem subsidiar a troca de funcionários e hospedagem de idosos em hotéis, acompanhados pela rede de assistência social.

Desde o dia 17 de março, início da pandemia, os asilos estão com as visitas suspensas como medida de proteção aos idosos. A pasta estadual de Desenvolvimento Social, o Conselho Estadual do Idoso e o Ministério Público de São Paulo lançaram a campanha ‘Um gesto de carinho para ninguém ficar sozinho’ incentivando o envio de cartas e doação de máscaras e álcool gel para os idosos residentes em abrigos.

Em nota, o MP informou que, nos casos de Piracicaba, o promotor de Proteção ao Idoso, Luiz Sérgio Hülle Catani, instaurou procedimentos para acompanhar as medidas de prevenção à covid-19 nas 22 instituições locais para idosos. Também oficiou à secretaria municipal de Saúde para informar as medidas adotadas. “Neste procedimento, semanalmente é feito pela promotoria um controle da situação de cada uma delas, acerca do estado de saúde de idosos e funcionários, bem como das medidas de prevenção tomadas”, informou a nota.

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