Comida saudável agora é sofisticada

Pessoas que antes tinham preconceito com alimentação natural movimentam mercado

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Por Valéria França
Atualização:

SÃO PAULO -O excesso de informação sobre dietas e sobre o que é alimentação saudável criou um público cheio de restrições em relação à comida. Há uma turma que aderiu aos alimentos frescos e orgânicos. Outra faz questão de que a comida seja funcional – com efeitos metabólicos benéficos como baixar o colesterol do organismo. E também há as que optaram por alimentação sem carne, sem lactose, sem glúten e sem açúcar. Mas, em todos os casos, há uma alta exigência quanto à apresentação e o sabor – sim, o prazer continua sendo essencial. 

Bianca Simões investiu em um novo negócio Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Esse cliente, que em um passado recente seria considerado um “chato” por qualquer anfitrião, hoje é tido como alguém conectado com assuntos globais como sustentabilidade, meio ambiente e saúde. “O estilo de vida que se leva revela se você é ou não uma pessoa informada e isso vale mais do que carregar uma bolsa de grife internacional ou qualquer símbolo de ostentação material”, diz a arquiteta paulistana Fernanda Negrelli, de 38 anos, que em 2015 revolucionou a forma de se alimentar. Em outras palavras: ser saudável virou moda.

“Tinha preconceito com comida natural. Nunca fui do tipo que come alpiste, ao contrário, gosto de pratos elaborados e sofisticados”, diz ela, que sempre se preocupou mais com as calorias do que com a qualidade dos ingredientes. No carrinho do supermercado entrava comida processada e sobremesa light. “Só consegui mudar a dieta quando comecei a ver nos supermercados uma oferta maior de alimentos orgânicos e pratos funcionais prontos, produzidos de forma artesanal, surpreendentemente mais gostosos do que os convencionais.” 

A arquiteta também passou a optar por alimentos sem lactose e glúten. Segundo ela, a nova dieta fez com que perdesse nove quilos. Atualmente, ela pesa 67 quilos bem distribuídos em seu 1,74 metro de altura. Apesar de praticar esportes – hipismo, tênis e musculação – cinco vezes por semana, Fernanda tinha dificuldade em emagrecer. “Até a qualidade do meu sono melhorou.”

Fernanda faz parte de um grupo que cresce a passos largos – o Brasil já é o quinto maior mercado de alimentos e bebidas saudáveis, com volume de vendas de US$ 27,5 bilhões em 2015, segundo levantamento da Euromonitor. O crescimento do segmento impressiona: 20% ao ano desde 2012, ante média mundial de 8%.

Mais caro. Esse consumidor está disposto a pagar mais pelo saudável. Por exemplo, 200 gramas de torrada convencional, fabricada com farinha branca, custam em média R$ 4,50. O mesmo produto, na mesma quantidade, feito de farinha de castanhas do Brasil e mix de sementes, sem conservantes e gorduras trans, sai por R$ 25. No geral, o custo de mercado com alimentos diferenciados sobe 30%.

“O consumidor não se importa em pagar mais se a qualidade for superior”, diz a advogada Bianca Simões, de 27 anos, que largou a profissão para entrar no negócio de comidas funcionais há um ano e meio. Pouco antes, por hobby, ela fez um curso na escola de gastronomia Le Cordon Bleu, de Paris, e se empolgou. Ao voltar, encomendou uma pesquisa de mercado para avaliar se mesmo com a crise econômica haveria um nicho a ser explorado. Testou produtos que queria desenvolver e investigou hábitos alimentares.

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"Quando me senti segura de que o consumidor de uma classe social mais elevada queria pratos prontos funcionais mais elaborados, criei coragem e comecei a cozinhar em casa e entregar em domicílio”, diz. 

Entre as receitas mais vendidas, o quiche com creme de leite, à base de vegetal, farinha de castanha, azeite extravirgem e o brigadeiro vegano. Os pratos e doces são desenvolvidos sem leite animal e derivados, com baixa carga glicêmica e muita proteína. Parte dos ingredientes, como temperos, legumes e verduras, é orgânico, produzido no sítio do pai de Bianca, em Atibaia, a 69 km. “Não preparo o trivial, por exemplo, frango com batata-doce, porque isso qualquer um pode fazer em casa.”

A medida que os pedidos do varejo deram lugar ao atacado, foi necessário montar uma cozinha industrial – e agora a fábrica está em expansão. O selo, que leva o nome dela, é vendido nos principais empórios da cidade – do Mundo Verde, rede de produtos naturais com 400 lojas no Brasil, ao Eataly, o shopping da gastronomia na sofisticada Vila Nova Conceição. 

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Nutrição. “Hoje as pessoas recebem muito mais informação sobre alimentação saudável”, diz Silvia Piovacari, coordenadora de Nutrição Clínica do Hospital Israelita Albert Einstein. Além da internet, as escolas incluem nas disciplinas o assunto, porque a obesidade é uma doença crônica. Em 2016, o hospital fez uma pesquisa com os pacientes adultos internados e percebeu que 40% estavam com excesso de peso e obesidade.

“As pessoas sabem o que faz mal, mas ainda precisam aprender a comer. Por isso, o hospital implementou um programa de reeducação alimentar, com consultas presenciais e a distância”, diz Silvia. “Independente da moda, comer maior quantidade de alimentos saudáveis, como frutas e verduras, e menor de processados, é uma necessidade nutricional.”

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