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Como as variantes do coronavírus no Brasil afetam nossa vida e a vacinação

Ainda estamos tentando entender as novas variantes do Sars-CoV-2; esse estudo sofre ‘mutações’ quase diárias

Por Sergio Cimerman
Atualização:

Temos observado, nos últimos dias, matérias na imprensa e discussão pela comunidade médica acerca das variantes do Sars-CoV-2. Dessas muitas aulas e entrevistas destaco uma do colega infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor em uma de nossas universidades estaduais, que me fez refletir sobre o tema. 

Preocupante? Respondo que ainda estamos a entender os mecanismos das novas variantes. Em primeiro lugar é preciso expor que são apenas as variantes de atenção (do inglês: “variant of concern”) que causam potencialmente impacto clínico com certa relevância – ou seja, nem todas as variantes reverberam problemas de ordem sanitária. Dentre elas, três têm chamado a atenção mundial e podem ter algum impacto negativo em algumas situações. São as variantes do Reino Unido, África do Sul e Brasil.

Coronavírus são uma grande família de vírus da qual alguns são responsáveis por causar doenças em humanos Foto: Sebastian Kaulitzki/Shutterstock

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Conseguimos determinar e aferir com segurança estas variantes graças a sequenciamento genético desenvolvido em laboratório. Essa metodologia não está disponível em larga escala nem é realizada por qualquer laboratório clínico. Deve ser feita em situações pontuais. Com a expertise nacional temos centros de excelência que conseguem fazê-lo e dar respostas mais sólidas frente à pandemia. É preciso atenção, entretanto, e aqui me permitam um trocadilho: as informações relacionados ao assunto sofrem mutações quase diárias. 

A variante do Reino Unido (202012/01, linhagem B.1.1.7) foi notificada à OMS em 14 de dezembro, identificada em 62 países e revelou um aumento na transmissibilidade e no número de hospitalizações. Não sabemos ainda se há aumento na letalidade, de modo a transformar a doença em algo mais severo. Devemos ter respostas mais claras à frente. 

A variante da África do Sul (501Y.V2, linhagem B.1.351) teve sua notificação em 18 de dezembro, pela OMS, sendo já identificada em 30 países, também associada a maior transmissibilidade, mas precisa de estudos adicionais sobre sua severidade e mortalidade. Nesta variante foi referida pelo governo sul-africano a suspensão da vacinação com o imunizante da Oxford/AstraZeneca por apresentar diminuição acentuada da eficácia, até que haja estudos que apontem dados contrários aos atuais. 

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Quanto à variante brasileira (P.1, linhagem B.1.1.28), ela foi identificada em 9 de janeiro, em quatro viajantes japoneses que estiveram em Manaus. Detalhe: soubemos disso por informações do governo japonês. Atualmente, essa variante não está apenas na Amazônia, mas também no interior paulista, em Jaú e Araraquara, estrangulando o sistema de saúde local. Segundo dados das autoridades sanitárias, ocorreu 51% de aumento de casos novos em Manaus, em dezembro de 2020, que saltaram para 91% em janeiro de 2021. Estes dados vêm corroborar a maior transmissibilidade, criando uma situação caótica na busca de leitos hospitalares. 

Este ponto merece uma outra reflexão: a viagem de pessoas contaminadas, em voos comerciais para a região sudeste do Brasil, buscando tratamento em hospitais de excelência. Por questões humanitárias, devemos atender estes indivíduos, mas temos de buscar soluções adequadas, e um protocolo mais rígido, para esse transporte sem colocar outras pessoas em risco. 

Outro dado que gostaria de compartilhar é que nossa variante pode apresentar maior risco de reinfecção em uma de suas mutações. Assim, não podemos baixar a guarda. Devemos estimular o uso adequado de máscaras, higienização das mãos, evitar aglomerações. E acreditar na vacina e respeitar os grupos prioritários definidos pelo Plano Nacional de Imunização. 

* COORDENADOR CIENTÍFICO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA E MÉDICO DO INSTITUTO DE INFECTOLOGIA EMILIO RIBAS.

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