Como funciona a Coronavac?

Vacina desenvolvida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantã é produzida com vírus inativados do novo coronavírus (Sars-CoV-2), que induziriam o sistema imunológico a produzir anticorpos contra a doença

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Por Jonathan Corum e Carl Zimmer
Atualização:

A empresa privada chinesa Sinovac desenvolveu uma vacina contra o novo coronavírus chamada CoronaVac. Pesquisadores no Brasil anunciaram que a CoronaVac tem uma eficácia global de pouco mais de 50%, o limite mínimo estabelecido por muitas agências reguladoras para autorizar uma vacina contra a covid-19.

Uma vacina produzida a partir de novos coronavírus

A CoronaVac funciona ensinando o sistema imunológico a produzir anticorpos contra o coronavírus SARS-CoV-2. Os anticorpos se conectam às proteínas virais, como as chamadas proteínas spike que se espalham por sua superfície.

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Para criar a CoronaVac, os pesquisadores da Sinovac começaram obtendo amostras do novo coronavírus de pacientes na China, Grã-Bretanha, Itália, Espanha e Suíça. No fim, uma amostra da China acabou servindo como base para a vacina.

Matando o Vírus

Os pesquisadores cultivaram grandes estoques do novo coronavírus em células renais de macacos. Em seguida, eles encharcaram os vírus com uma substância química chamada beta-propiolactona. O composto desativou os novos coronavírus ao se conectar com seus genes. O novo coronavírus inativado não conseguia mais se replicar. Mas suas proteínas, incluindo a spike, permaneciam intactas

Os pesquisadores então extraíram os vírus inativados e os misturaram com uma pequena quantidade de um composto à base de alumínio chamado adjuvante. Os adjuvantes estimulam o sistema imunológico a aumentar sua resposta a uma vacina.

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Os vírus inativados têm sido usados há mais de um século. Jonas Salk os usou para criar sua vacina contra a poliomielite na década de 1950 e eles são a base para vacinas contra outras doenças, como raiva e hepatite A.

Provocando uma resposta imunológica

Como os novos coronavírus na CoronaVac estão mortos, eles podem ser injetados no braço de alguém sem causar covid-19. Uma vez dentro do corpo, alguns dos vírus inativados são tragados por um tipo de célula imunológica chamada célula apresentadora de antígeno.

A célula apresentadora de antígeno quebra o novo coronavírus e exibe alguns de seus fragmentos em sua superfície. Os chamados linfócitos T auxiliares podem detectar o fragmento. Se o fragmento se encaixa em uma de suas proteínas de superfície, o linfócito T torna-se ativado e pode ajudar a recrutar outras células imunológicas para responder à vacina.

Produzindo anticorpos

Outro tipo de célula do sistema imunológico, chamada de linfócito B, também pode encontrar o novo coronavírus inativado. Os linfócitos B têm proteínas de superfície em uma grande variedade de formatos e algumas podem ter a forma certa para se prender ao novo coronavírus. Quando um linfócito B se fixa, ele pode extrair parte ou todo o vírus para dentro de si e apresentar fragmentos do novo coronavírus em sua superfície.

Um linfócito T auxiliar ativado contra o novo coronavírus pode se agarrar ao mesmo fragmento. Quando isso acontece, o linfócito B também é ativado. Ele prolifera e libera anticorpos que têm o mesmo formato das proteínas de superfície deles.

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Parando o vírus

Uma vez vacinado com a CoronaVac, o sistema imunológico pode responder a uma infecção de novos coronavírus vivos. Os linfócitos B produzem anticorpos que se fixam aos invasores. Os anticorpos que têm como alvo a proteína spike podem impedir que o vírus entre nas células. Outros tipos de anticorpos podem bloquear o vírus por outros meios.

Lembrando do vírus

Embora a CoronaVac possa oferecer alguma proteção contra a covid-19, ninguém pode dizer ainda por quanto tempo essa proteção dura. É possível que o nível de anticorpos diminua ao longo dos meses. Mas o sistema imunológico também contém células especiais chamadas linfócitos B de memória, que podem reter informações sobre o novo coronavírus por anos ou até mesmo décadas.

Linha do tempo da vacina

  • Janeiro de 2020: A Sinovac começa a desenvolver uma vacina com vírus inativado contra o novo coronavírus.
  • Junho: Os testes das fases 1 e 2 com 743 voluntários não encontraram efeitos colaterais graves.
  • Julho: A Sinovac inicia os testes da Fase 3 no Brasil, e em seguida, na Indonésia e Turquia. A Reuters relata que o governo chinês concedeu aprovação para uso emergencial e limitado à vacina da Sinovac.
  • Outubro: As autoridades na cidade de Jiaxing, no leste da China, anunciam que estão dando a CoronaVac para pessoas em empregos de risco relativamente alto, como profissionais de saúde, inspetores de portos e funcionários do serviço público.
  • 19 de outubro: Autoridades no Brasil dizem que a CoronaVac é a mais segura das cinco vacinas testadas que estão na Fase 3 dos ensaios clínicos.
  • Novembro: A Sinovac publica os detalhes de seus testes das Fases 1 e 2 em uma revista científica, mostrando uma produção relativamente modesta de anticorpos. Apenas um teste de Fase 3 demonstrará se isso é suficiente para proteger as pessoas da covid-19.
  • 19 de novembro: O governo brasileiro anuncia que suspendeu os testes da vacina da Sinovac no país no mês anterior devido a um evento adverso. Os detalhes da pausa foram obscuros, levantando suspeitas de que política estava envolvida. Dois dias depois os testes foram retomados. O ensaio clínico brasileiro registrou casos suficientes de covid-19 para permitir que os pesquisadores determinassem a eficácia da vacina da Sinovac. Eles esperavam divulgar seus resultados até 23 de dezembro.
  • Dezembro: A Sinovac diz que espera fabricar 300 milhões de doses em 2020 e aumentar a capacidade para uma produção anual de 600 milhões de doses.
  • 23 de dezembro: Pesquisadores brasileiros anunciam em 23 de dezembro que a CoronaVac tem uma eficácia superior a 50%.
  • 24 de dezembro: As autoridades turcas anunciam que a vacina tem eficácia de 91,25%.
  • 7 de janeiro de 2021: Pesquisadores no Brasil anunciam que CoronaVac tem uma eficácia de 78%. Nenhum dos voluntários vacinados na Fase 3 do ensaio clínico desenvolveu casos graves ou moderados de covid-19. Mas a estimativa de eficácia foi baseada no desempenho da vacina em um subgrupo de voluntários. A eficácia global não é divulgada formalmente.
  • 11 de janeiro: A Indonésia autoriza a vacina para uso emergencial.
  • 13 de janeiro: Pesquisadores no Brasil anunciam que a CoronaVac tem eficácia global de pouco mais de 50%. A Turquia autoriza a vacina para uso emergencial.

Fontes: National Center for Biotechnology Information; Science; The Lancet; Lynda Coughlan, Escola de Medicina da Universidade de Maryland; Jenna Guthmiller, Universidade de Chicago.

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TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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