
17 de janeiro de 2021 | 14h00
A Universidade de Oxford fez parceria com a empresa sueco-britânica AstraZeneca para desenvolver e testar uma vacina contra o novo coronavírus conhecida como ChAdOx1 nCoV-19 ou AZD1222. Um ensaio clínico revelou que a vacina era de 62 a 90 por cento eficaz, dependendo da dosagem inicial administrada. Apesar de algumas incertezas sobre os resultados do ensaio, o Reino Unido autorizou a vacina para uso emergencial em dezembro e a Índia autorizou uma versão da vacina que recebe o nome de Covishield e é produzida no país em 3 de janeiro.
Vacina de Oxford: entenda como falhas minaram a confiança dos EUA no imunizante da Astrazeneca
O vírus SARS-CoV-2 é repleto de proteínas que usa para entrar nas células humanas. Essas proteínas chamadas de spike são um alvo tentador para potenciais vacinas e tratamentos.
A vacina Oxford-AstraZeneca é baseada nas instruções genéticas do vírus para produzir a proteína spike. Mas, ao contrário das vacinas Pfizer-BioNTech e Moderna, que armazenam as instruções em RNA de fita simples, a vacina Oxford usa DNA de fita dupla.
Os pesquisadores adicionaram o gene da proteína spike do novo coronavírus em um outro vírus chamado adenovírus. Os adenovírus são vírus comuns que geralmente causam resfriados ou sintomas semelhantes aos da gripe. A equipe Oxford-AstraZeneca usou uma versão modificada de um adenovírus que infecta chimpanzés, conhecida como ChAdOx1. Ele consegue entrar nas células, mas não pode se replicar dentro delas.
A AZD1222 é resultado de décadas de pesquisa com vacinas baseadas em adenovírus. Em julho, foi aprovada a primeira para uso geral - uma vacina para o Ebola, da Johnson & Johnson. Ensaios clínicos avançados estão em andamento para outras doenças, incluindo H.I.V. e Zika.
A vacina Oxford-AstraZeneca para a covid-19 é mais resistente do que as vacinas de mRNA da Pfizer e Moderna. O DNA não é tão frágil quanto o RNA, e o revestimento de proteína resistente do adenovírus ajuda a proteger o material genético interno. Como resultado, a vacina Oxford não precisa ficar congelada. A vacina deve durar pelo menos seis meses quando refrigerada a 38-46 ° F (2-8 ° C).
Depois que a vacina é injetada no braço de uma pessoa, os adenovírus colidem com as células e se fixam em proteínas na superfície delas. A célula envolve o vírus em uma bolha e o puxa para dentro. Uma vez lá dentro, o adenovírus escapa da bolha e viaja para o núcleo, a câmara onde o DNA da célula é armazenado.
O adenovírus empurra seu DNA para o núcleo. O adenovírus é modificado de forma que não consiga produzir cópias de si mesmo, mas o gene para a proteína spike do novo coronavírus pode ser lido pela célula e copiado em uma molécula chamada RNA mensageiro, ou mRNA.
O mRNA deixa o núcleo e as moléculas da célula leem sua sequência e começam a produzir proteínas spike.
Algumas das proteínas spike produzidas pela célula formam espículas (spikes) que migram para sua superfície e projetam suas pontas. As células vacinadas também quebram algumas das proteínas em fragmentos, que vão para a superfície delas. Essas espículas salientes e os fragmentos de proteínas spike podem então ser reconhecidos pelo sistema imunológico.
O adenovírus também provoca o sistema imunológico ao ligar os sistemas de alarme da célula. A célula envia sinais de alerta para ativar as células do sistema imunológico próximas. Ao disparar esse alarme, a vacina Oxford-AstraZeneca faz com que o sistema imunológico reaja mais fortemente às proteínas spike.
Quando uma célula vacinada morre, os detritos contêm proteínas spike e fragmentos de proteínas que podem então ser absorvidos por um tipo de célula do sistema imunológico chamada célula apresentadora de antígeno.
A célula apresenta fragmentos da proteína spike em sua superfície. Quando outras células chamadas linfócitos T auxiliares detectam esses fragmentos, os linfócitos T auxiliares podem fazer soar o alarme e ajudar a organizar outras células do sistema imunológico para combater a infecção.
Outras células do sistema imunológico, chamadas linfócitos B, podem colidir com as espículas do novo coronavírus na superfície das células vacinadas, ou fragmentos de proteínas spike flutuantes. Alguns dos linfócitos B podem ser capazes de se fixar às proteínas spike. Se esses linfócitos B forem então ativados por linfócitos T auxiliares, eles começarão a proliferar e a liberar anticorpos que têm como alvo a proteína spike.
Os anticorpos podem se prender às espículas do novo coronavírus, marcar o vírus para destruição e prevenir a infecção ao impedir as espículas de se fixarem a outras células.
As células apresentadoras de antígeno também podem ativar outro tipo de célula do sistema imunológico chamada linfócito T citotóxico para procurar e destruir quaisquer células infectadas pelo novo coronavírus que apresentem os fragmentos de proteína spike em suas superfícies.
A vacina Oxford-AstraZeneca requer duas doses, administradas com um intervalo de quatro semanas , para preparar o sistema imunológico para lutar contra o novo coronavírus. Durante o ensaio clínico da vacina, os pesquisadores, involuntariamente, deram a alguns voluntários apenas meia dose.
Surpreendentemente, a combinação da vacina em que primeiro foi aplicada apenas meia dose foi 90 % eficaz na prevenção da covid-19 no ensaio clínico. Em contraste, a combinação de duas injeções de doses completas resultou em apenas 62% de eficácia. Os pesquisadores especulam que a primeira dose mais baixa fez um trabalho melhor em imitar a experiência de uma infecção, promovendo uma resposta imunológica mais forte quando a segunda dose foi administrada.
Como a vacina é muito recente, os pesquisadores não sabem quanto tempo sua proteção pode durar. É possível que nos meses seguintes à vacinação, o número de anticorpos e linfócitos T citotóxicos diminuam. Mas o sistema imunológico também contém células especiais chamadas linfócitos B de memória e linfócitos T de memória que podem reter informações sobre o novo coronavírus por anos ou até mesmo décadas.
Fontes: National Center for Biotechnology Information; Nature; Lynda Coughlan, Escola de Medicina da Universidade de Maryland.
/TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
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