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Opinião|Como induzir pessoas a se vacinarem

Cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles criaram dois experimentos para descobrir o tipo de mensagem que induz o maior número de pessoas a se imunizar

Atualização:

O que escrever numa mensagem de texto para convencer as pessoas a se vacinarem? Um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla) encarou essa pergunta como um problema científico. E criou dois experimentos para descobrir o tipo de mensagem que induz o maior número de pessoas a se vacinar. Os resultados são inesperados.

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O sistema de saúde Ucla Health convidou 154.253 pacientes para marcar sua vacinação até o dia 22 de fevereiro de 2021. No dia seguinte, os 93.354 que não haviam marcado a data foram incluídos no experimento e divididos, por sorteio, em cinco grupos. O grupo controle (18.749 pessoas) não recebeu nenhuma mensagem de texto. Um segundo grupo, de 18.629 pessoas, recebeu mensagem de texto simples, dizendo que deveriam marcar a vacinação. O terceiro (18.592) recebeu mensagem de texto que enfatizava o fato de a dose pertencer à pessoa e que eles não deveriam perder a oportunidade. Era algo do tipo "sua dose de vacina contra a covid-19 já está reservada. Marque a data e venha receber sua dose". A ideia era mostrar que a dose "era propriedade dela" e com isso tentar incentivar o agendamento. 

O quarto grupo (18.757) recebeu a mensagem básica com um link para um vídeo que explicava a importância social da vacina e respondia dúvidas detectadas na comunidade. As pessoas do quinto grupo (18.627) receberam a mensagem de que a vacina era delas, e com a mensagem o link para o vídeo. Todas as mensagens foram enviadas para os celulares às 15 horas e a frequência das pessoas que marcaram o horário nos oito dias seguintes foi monitorada. 

Adolescentes de 15 anos recebem a vacina daPfizer nos EUA Foto: REUTERS/Kathleen Flynn

Esse experimento permite saber, comparando as taxas de agendamento, o efeito da mensagem "a vacina é sua", separadamente ou em combinação com a mensagem sobre os benefícios sociais.

Entre os que não receberam a mensagem, somente 7,2% agendaram a vacinação. Entre os que a receberam, 12,78% marcaram horário. Esse número cresceu para 14,2% entre os que receberam a mensagem de "a vacina é sua". O interessante é que acrescentar o vídeo à mensagem básica não ajudou a aumentar o agendamento (12,37%). E tampouco o vídeo, quando acrescentado à mensagem de "a vacina é sua", ajudou (14,11%).

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Esses resultados demonstram que o sentimento de "ser dono da dose" e não perder a chance de buscá-la foi o fator mais importante no aumento dos agendamentos. E o vídeo didático com respostas às dúvidas não melhora a taxa de agendamento.

Em seguida, as pessoas que ainda não haviam marcado a data foram submetidas a outra rodada, desenhada mais ou menos da mesma maneira. E dessa vez o que foi testado foi a facilidade de agendar. Nesse caso, a mensagem não possuía link para o vídeo, mas para uma tela em que a pessoa poderia imediatamente agendar o horário. O objetivo era saber se a falta de facilidade era o que estava impedindo taxas mais altas de agendamento.

Resultado: a facilidade de agendar online aumentava muito o sucesso do programa. A conclusão desse estudo é que a população coberta pela Ucla Health, com o nível de educação e poder aquisitivo desse grupo, responde muito bem a mensagens de texto, dobrando a taxa de adesão (de 7,2% para 12,78%) e que mais dois pontos porcentuais de adesão podem ser obtidos se a pessoa for informada de que "a dose é sua, venha retirá-la". Foi também determinado que vídeos informativos não ajudam em nada, só atrapalham. E que a facilidade de marcar hora melhora ainda mais a adesão.

Esse resultado demonstra que a resistência à vacinação não é reduzida com mais informação e com apelos (no vídeo). É um resultado importante pois muitos cientistas (eu inclusive) sempre acreditamos que os argumentos lógicos e a informação precisa são essenciais. Mas o mais importante é induzir na pessoa o sentimento de que aquela dose de vacina já lhe pertence, pode ir retirar o que é seu. Pode ser uma distorção da cultura de Los Angeles nos EUA, mas é um resultado interessante e inesperado.

Mais informações: Behavioural nudges increase covid-19 vaccinations - Nature

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*É BIÓLOGO

Opinião por Fernando Reinach
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